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Cancelamento de visita de Lula à China adia assinatura de acordos entre governos, diz ministro

Ministro da Agricultura afirma que cerca de 20 acordos de cooperação e memorandos previstos ficarão para quando a agenda com o presidente chinês Xi Jinping for remarcada

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Por Felipe Frazão
Atualização:

ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM - Único integrante do alto escalão do governo Luiz Inácio Lula da Silva na China, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse neste domingo, 26, que o cancelamento da visita de Estado por razões de saúde adiou a assinatura de acordos de cooperação entre os países. No entanto, segundo ele deve haver anúncios de negócios entre empresas brasileiras e chinesas porque a agenda empresarial foi mantida.

“Acordos importantes seriam e serão assinados, mas, por óbvio, quando for remarcada a agenda”, disse Fávaro. “O momento que o governo chinês estiver preparado e com agenda disponível certamente será remarcado e a gente retorna para dar seguimento à assinatura de todos os memorandos e os acordos. Todos os acordos serão assinados em poucos dias, logo na sequência. Não vejo grandes problemas.”

O ministro Carlos Fávaro concede entrevista a jornalistas na Embaixada do Brasil em Pequim - 26/3/2023 Foto: Felipe Frazão

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O ministro disse que haverá atraso na assinatura de todos os atos previstos, e não só os de sua pasta. Mas minimizou urgência nos temas. “Todos os atos governamentais estão adiados, inclusive do Ministério da Agricultura, mesmo eu estando aqui. Teríamos atos importantes, serão assinados posteriormente”, afirmou o ministro.

Outra questão que ficará para depois é a rediscussão do protocolo entre os dois países sobre casos de mal da vaca louca (encefalopatia espongiforme bovina -EEB). Essa doença degenerativa pode levar à contaminação humana por meio do consumo da carne. Mas casos clássicos e transmissíveis nunca foram detectados no País, conforme o governo. Houve seis casos atípicos.

O ministro disse que os chineses já indicaram disposição em rediscutir o protocolo que prevê o auto embargo, quando um caso suspeito é detectado. O modelo prevê a paralisação do embarque de carne de todo o Brasil até a investigação ser concluída. Segundo Fávaro, é o momento de se rediscutir o acordo de 2015. O governo brasileiro fala em isolar apenas algumas regiões ou municípios - em vez de barrar a exportação do País todo. Mas evita falar na possibilidade de acabar com o auto embargo.

“Os dois lados têm que construir isso. Em agosto tem reunião da Cosban (Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação) e isso pode ser alterado. Com a credibilidade estabelecida nos casos passados, dá para a gente discutir um novo modelo. Mas o Brasil não está colocando isso como prioridade. Temos que garantir qualidade de produtos exportados, eles têm de estar confiáveis e seguros”, disse Fávaro.

O Itamaraty havia informado a expectativa de ao menos 20 acordos serem assinados, em setores distintos da economia, antes de a visita ser cancelada por causa de uma broncopneumonia de Lula e da infecção pelo vírus Influenza A. Um fator de preocupação era o longo deslocamento a Pequim. Além da condição de Lula, a reunião com o líder chinês, Xi Jinping, estava prevista para terça-feira, dia 28, ainda na janela de transmissibilidade do vírus.

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O Ministério das Relações Exteriores da China disse mais cedo que mantém contato com autoridades do Brasil para reagendar a viagem. Empresários do agronegócio propuseram ao governo Lula que o presidente tente retomar a visita de Estado em maio, quando ocorre uma importante feira do setor de alimentação no país.

Fávaro desembarcou em Pequim uma semana antes de Lula, numa comitiva de 15 pessoas do ministério, mais cerca de 110 empresários convidados para compor a delegação, entre eles gigantes do setor, como os executivos da JBS Joesley e Wesley Batista.

O ministro obteve o levantamento do embargo geral à exportação de carne bovina por causa de um caso atípico de mal da vaca louca, além da permissão de exportação para quatro novas unidades e da reabilitação de mais duas. Segundo o ministério, nunca antes os chineses haviam feito tal concessão durante uma visita de trabalho do ministro. “O maior ganho é de relacionamento, a confiança no presidente Lula. O humor é muito favorável”, contou.

O ministro disse que espera, ainda na quarta-feira, dia 29, a assinatura de acordos no setor privado, durante o fórum promovido pela Apex Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), mantida apesar da ausência de Lula. O tamanho do evento foi reduzido. “Serão acordos entre entes privados, empresas brasileiras e chinesas vão anunciar negócios”, afirmou o ministro.

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