Ibovespa fecha em alta e dólar cai R$ 5,09 após o novo arcabouço fiscal

After Hours: proposta foi apresentada pelo governo nesta quinta e prevê limite mínimo e máximo para o crescimento dos gastos acima da inflação

After hours
30 de Março, 2023 | 05:22 PM

Bloomberg Línea — Os investidores reagiram de forma positiva à apresentação do novo arcabouço fiscal pelo governo nesta quinta-feira (30). A proposta, que pretende substituir a regra do teto de gasto, prevê que as despesas do governo poderão crescer acima da inflação dentro do intervalo de 0,6% a 2,5%. O crescimento das despesas também será limitado a 70% do crescimento da arrecadação federal dos últimos 12 meses.

O governo espera dar mais previsibilidade para as despesas públicas e manter uma flexibilidade para o aumento dos gastos, embora sempre acima da inflação. Com isso, o principal índice da bolsa de valores brasileira subiu 1,89%, encerrando o dia aos 103.713 pontos. O dólar, que iniciou a semana na casa dos R$ 5,30, fechou o pregão desta quinta em R$ 5,09 (-0,75%).

O mercado financeiro esperava por esse anúncio desde a eleição de Lula como presidente em outubro e desde antes da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que decidiu na semana passada pela manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano. A expectativa era a de que um arcabouço “sólido e crível” contribuísse para amenizar o tom da autoridade monetária em seu combate à inflação.

Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o mecanismo proporciona segurança para o estado e para as famílias para manter o funcionamento dos serviços públicos em fases de baixa atividade econômica. “Voltou o ciclo de crescimento, volta a regra anterior”, afirmou. A Fazenda projeta que a dívida bruta fique entre 73,58% e 74,36% do PIB em 2026.

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Apesar de ter sido bem recebida, a proposta do governo ainda é vista por especialistas como uma carta de boas intenções e terá de passar pelo Congresso para entrar em vigor

Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, o novo arcabouço fiscal não é anticíclico, como defendeu o Haddad na apresentação do projeto, porque prevê aumento real das despesas em qualquer ocasião, e que o governo terá de contar com um aumento de carga tributária para reduzir o déficit primário da forma como foi apresentada.

“O governo, na verdade, colocou um piso para o crescimento dos gastos nos próximos anos, de 0,6% a 2,5%. A regra dos 70% vai valer só dentro desse intervalo. E provavelmente vai valer poucas vezes, no final. Tem um piso de gastos sendo dado para os próximos anos. E, muito provavelmente, o governo vai ter que correr atrás de arrecadação”, disse Vale, à Bloomberg Línea.

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Bolsas internacionais

Nos mercados internacionais, o dia também foi de ganhos para as principais bolsas mundiais, com os investidores avaliando que o Federal Reserve (Fed) pode seguir o curso do ciclo monetário, sem a necessidade de um aumento maior nos juros. Com isso, as bolsas subiram, com destaque para as ações das empresas de tecnologia.

Comentários de diretores do Fed sugerem que mais aperto monetário é necessário, mesmo após o colapso de três bancos americanos no início deste mês.

O presidente do Fed de Richmond, Thomas Barkin, disse que o Fed pode aumentar mais as taxas se os riscos de inflação persistirem. A presidente do Fed de Boston, Susan Collins, também disse que o aperto era necessário. E o presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, disse que está comprometido em reduzir a inflação para 2% e que ainda não está totalmente claro qual impacto a turbulência do sistema financeiro terá.

“Com as rachaduras no sistema bancário se tornando aparentes, o trabalho do Fed se tornou ainda mais difícil”, disse Jim Baird, diretor de investimentos da Plante Moran Financial Advisors. “O risco de recessão continua em foco, dado o histórico do Fed de lutar para apertar a política enquanto leva a economia a um pouso suave.”

Confira como fecharam os mercados nesta quinta-feira (30):

-- Com informações da Bloomberg News.

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Filipe Serrano

É editor da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.