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Thaís Oyama

REPORTAGEM

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Já inelegível até por aliados, Bolsonaro não tem substituto, diz pesquisa

O ex-presidente Jair Bolsonaro, agora presidente de honra do PL - Marco Bello/Reuters
O ex-presidente Jair Bolsonaro, agora presidente de honra do PL Imagem: Marco Bello/Reuters

Colunista do UOL

04/04/2023 12h05

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Se metade dos eleitores brasileiros deseja que Jair Bolsonaro fique proibido de se eleger por oito anos, como diz o Datafolha, nove entre dez aliados do ex-presidente já acreditam que isso irá mesmo acontecer.

No núcleo duro de Bolsonaro, salvo os terraplanistas de sempre, impera a convicção de que o ex-capitão não escapará da ação a que responde no Tribunal Superior Eleitoral por ter atacado o sistema de urnas eletrônicas e criticado ministros do Supremo numa reunião com embaixadores estrangeiros em julho de 2022.

A ação está na sua última fase e, a partir dessa sexta-feira, com a entrega das alegações finais pelas partes, o ministro-relator, Benedito Gonçalves, já pode preparar seu voto e submetê-lo ao plenário. Entre advogados conhecedores do perfil dos ministros titulares do tribunal, as apostas são de que Bolsonaro será considerado inelegível por 5 votos a 2.

Diante dessa perspectiva, estrategistas e aliados do ex-presidente já começaram a perscrutar a paisagem em busca de alternativas.

Ocorre que a pesquisa encomendada pelo PL no mês passado para medir o capital político do ex-presidente indicou que essa alternativa ainda não consta do horizonte do eleitorado.

Nas respostas à pergunta sobre quem poderia ser o "substituto de Bolsonaro", a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro foi a mais citada, mas a maior parte dos entrevistados preferiu não indicar nome algum.

Na altamente provável hipótese de Bolsonaro ficar fora do jogo eleitoral em 2026, portanto, ficarão temporariamente sem dono os 58 milhões de votos que ele amealhou na condição de expressão antropomórfica do conservadorismo brasileiro.

O PL trabalha para que esse legado não lhe escape das mãos e, para isso, tentará manter sob controle seu maior cabo eleitoral e agora presidente de honra, funcionário de temperamento difícil e instabilidade radioativa.

A ele, no que depender da vontade do PL, caberá sobretudo a defesa das chamadas pautas de costume. Duas, em especial, surgiram com destaque na pesquisa encomendada pelo partido: a defesa da propriedade privada e o combate à criminalidade. A primeira seria fruto do receio de parte do eleitorado diante de uma imaginária "volta do comunismo" ao Brasil e, a segunda, resultado de uma percepção de que a violência aumentou.

O Brasil continua polarizado seis meses depois das eleições, como atestaram pesquisas recentes. Dada a profundidade do abismo que separa os polos, são poucas as chances de a situação mudar até 2026.

Do ponto de vista estratégico eleitoral, portanto, estimular o anti-petismo continuará a ser a melhor bandeira do bolsonarismo — não importa quem segure o mastro.