Governo Lula muda estratégia e passa a defender CPI após demissão no GSI

Avaliação de parlamentares da base é que oposição tentava recontar os fatos de 8 de janeiro para culpar governo

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Brasília

Lideranças da base do governo decidiram mudar de posição nesta quarta-feira (19) e apoiar a abertura da CPMI para investigar os ataques às sedes dos Poderes de 8 de janeiro.

A nova postura dos aliados do presidente Lula foi tomada diante da crise gerada pela divulgação das imagens das câmeras do circuito interno do Palácio do Planalto —fato que causou a demissão do ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Gonçalves Dias.

A avaliação de parlamentares da base do governo ouvidos pela Folha é que deputados bolsonaristas estavam conseguindo recontar a história dos ataques, num esforço para culpar membros do governo pelos atos de vandalismo.

O agora ex-ministro Gonçalves Dias no Planalto no 8 de janeiro - Reprodução/CNN Brasil

Somou-se a isso o entendimento de que a abertura da CPMI seria inevitável. A oposição reuniu apoio de 194 deputados e 37 senadores, e nem o esforço das lideranças do governo foi suficiente para a retirada das assinaturas ao requerimento do deputado André Fernandes (PL-CE).

Foi convocada para a próxima semana uma sessão do Congresso. Nela, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), deve autorizar a abertura do colegiado que investigará os atos antidemocráticos.

O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), confirmou no plenário do Senado a mudança de postura.

"Vamos para essa investigação e vamos com força. De investigação e comissão de inquérito, nós entendemos. Estamos com vontade de ir para lá, estamos com desejo de ter essa investigação. Se estão obstruindo por essa CPMI, ouçam bem claramente: queremos a investigação", disse Randolfe.

Ele completou: "Não fomos os algozes do 8 de janeiro, nós somos as vítimas".

Líder do governo na Câmara, o deputado José Guimarães (PT-CE) reuniu lideranças de partidos da base e outros considerados independentes, como União Brasil, para redefinir a estratégia.

"Queremos uma investigação ampla e irrestrita. Ninguém brinca com a democracia. Portanto, se o Congresso quiser instalar a CPI, nós estamos prontos para ajudar —inclusive, para investigar", disse Guimarães.

"Foi o governo que agiu, pediu celeridade, uniu o país e os Poderes para enfrentar a tentativa de golpe. Foi sim uma tentativa de golpe patrocinada. Eles [bolsonaristas] são os responsáveis pelos atos no dia 8. O vídeo [do GSI] não encobre nada do que já está na consciência democrática no Brasil", concluiu.

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) também defendeu a CPMI. "Nós vamos, com a CPI, reforçar ainda mais aquilo que o Ministério Público, que a Polícia Federal, que o STF, que todos nós brasileiros e brasileiras já vimos: foi sim uma tentativa de golpe frustrada, foi sim uma agressão à democracia, foi sim uma agressão à institucionalidade brasileira e à representação institucional do Brasil", disse.

A mudança na postura do governo também considerou a nova configuração na Câmara com a formação de dois blocos partidários, que isolaram PL e PT.

Apesar de o PL ser o partido com maior número de parlamentares na Casa, a criação dos blocos suplantou o tamanho da sigla. Na prática, se instalada a CPMI, o PL terá menos cadeiras no colegiado do que os blocos —fato que pode dar maioria governista na comissão de investigação.

Cálculos internos feitos por parlamentares da base e obtidos pela Folha mostram que, pelo quociente partidário, numa CPMI composta por 15 parlamentares de cada Casa, o PL teria o direito de indicar somente três deputados.

A distribuição ainda ficaria com cinco cadeiras para o bloco criado por Arthur Lira (PP, União, PSDB, Cidadania, PDT, PSB, Avante, Solidariedade e Mais Brasil), quatro para o segundo maior bloco (MDB, PSD, Republicanos e Podemos), duas para a federação PT-PC do B-PV e uma para a federação PSOL-Rede.

O Novo não conseguiu número suficiente para alcançar uma cadeira, mas poderá participar de CPMIs no modelo de rodízio.

Um aliado próximo de Lula afirmou à Folha, sob reserva, que o governo criou um problema maior ao tentar adiar a instalação da comissão. Na avaliação desse mesmo aliado, o governo acabou aumentando o ruído em torno da questão.

No Planalto, a avaliação é de que as imagens divulgadas pela CNN Brasil fragilizaram o discurso do governo frente aos bolsonaristas. A nova estratégia, que ainda será afinada, envolve escalar deputados mais aguerridos na defesa do Planalto para a composição da CPMI.

O general Gonçalves Dias era próximo de Lula desde a primeira passagem do petista pela Presidência. No ano passado, durante a transição do governo, foi um dos responsáveis por aproximá-lo de militares da ativa, em esforço para retomar a confiança entre o generalato e o presidente.

GDias, como é chamado, foi alvo de críticas após os atos de 8 de janeiro pelo fato de o Palácio do Planalto ter poucos seguranças no início das invasões à sede do Executivo. Como a Folha mostrou, o GSI não preparou um esquema de segurança para o dia, apesar de relatórios internos mostrarem o risco de invasão aos prédios públicos.

Somente após o início dos atos o Comando Militar do Planalto enviou comitivas de militares do Batalhão da Guarda Presidencial, sem acionamento prévio do GSI, para retirar os bolsonaristas da sede do Executivo.

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