Vera Magalhães
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Os principais fatos da política, do Judiciário e da economia.

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Vera Magalhães

Jornalista especializada na cobertura de poder desde 1993. É âncora do "Roda Viva", na TV Cultura, e comentarista na CBN.

Por Vera Magalhães


Nesta quarta (26), o Presidente do Congresso Nacional, Senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) faz a leitura do requerimento para a criação da CPMI do ato golpista antidemocrático de 8 de janeiro. — Foto: Ton Molina/Fotoarena/Agência O Globo
Nesta quarta (26), o Presidente do Congresso Nacional, Senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) faz a leitura do requerimento para a criação da CPMI do ato golpista antidemocrático de 8 de janeiro. — Foto: Ton Molina/Fotoarena/Agência O Globo

A bagunça e a tentativa de criar uma realidade paralela, principais metas dos bolsonaristas na CPMI dos Ataques Golpistas, enfrentará um duro contraponto institucional: os inquéritos que correm na Polícia Federal e os subsequentes processos contra levas de golpistas bolsonaristas que estão sendo iniciados no Supremo Tribunal Federal.

Pode até haver um furdunço midiático que funcione num multiverso com aqueles convertidos que não leem jornais e não veem TV. Para esses, o governo Lula será o responsável por ataques que tentaram depô-lo. Mas isso não surtirá efeito judicial ou mesmo no resultado final da própria CPMI, em seu relatório.

A percepção de que a ação de Arthur Lira e do governo pode circunscrevê-la a uma minoria sem cargos de comando na CPMI pela qual tanto gritou demorou a chegar à oposição. Mas a ficha caiu, como ficou claro na fala de Rogério Marinho (PL-RN) logo após a leitura do requerimento pelo presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco.

Isso, somado ao fato de que a maioria ampla do Supremo já deixou claro que não vai aliviar para os golpistas no julgamento, deve reduzir o estrago da CPMI para o governo. É claro que uma comissão como essa nunca interessa a quem está no poder. Compromete a pauta de votações, prejudica a discussão de temas da economia, mobiliza a articulação política e drena recursos do Orçamento para construir maiorias -- no caso, para agradar o grande contingente da Câmara que responde a Arthur Lira e sem o qual o governo seria minoritário.

Além disso, não se discute a capilaridade em redes sociais de alguns dos mais estridentes deputados e senadores, muitos dos quais terão assento na CPMI. Mas é diferente da CPI da Covid: ali, o governo estava francamente no banco dos réus, em desvantagem numérica, e era o único instrumento de apuração de temas como a recusa em comprar vacinas e a negociação escusa com lobistas para adquirir a vacina indiana Covaxin, por exemplo, uma vez que o Ministério Público Federal, sob o comando de Augusto Aras, agia para empurrar tudo para a gaveta.

Agora não: além de o governo ter maioria e a possibilidade de obter os cargos diretivos, desde que negocie direito com Lira, as investigações na PF e no STF correm a todo vapor, com a disposição de punir exemplarmente, executores, financiadores, incitadores e mentores intelectuais do 8 de janeiro.

A preocupação do governo é evitar dar palco para Jair Bolsonaro e seus apoiadores. Por isso, a ideia é restabelecer a ordem cronológica do que vem sendo chamado de "atos preparatórios" para a tentativa de golpe, imputando a cada um dos caciques bolsonaristas suas responsabilidades.

Só depois de ouvir Anderson Torres, cuja fragilidade emocional após três meses preso preocupa o QG bolsonarista, é que o governo deve aprovar convocações como as de Augusto Heleno, Braga Netto e do próprio Bolsonaro. Quando já houver evidências em profusão do que vem sendo chamado de "autoria intelectual" do ex-presidente para os acampamentos de golpistas em frente a instalações do Exército, a colaboração de militares e a articulação de caravanas a Brasília para tomar os Três Poderes.

Para isso, não só o vídeo sobre o qual Bolsonaro depôs nesta quarta-feira é relevante. A manifestação do ex-presidente mais reveladora dos planos futuros, para os investigadores e os governistas, é a sua declaração a apoiadores em frente ao cercadinho do Alvorada em 9 de dezembro, em que ele insinua que alguma coisa aconteceria "no tempo certo", faz alusão à "injustiça" do processo eleitoral e menciona várias vezes as Forças Armadas e sua ascendência sobre elas.

Por fim, essa fase de montagem da CPMI é aquela em que o governo não pode cometer erros. Um deles seria subestimar a importância de Lira como colchão para amortecer o barulho dos bolsonaristas. Será que vale a pena afrontá-lo para ter Renan Calheiros na relatoria? Essa é a primeira decisão que precisará ser tomada. Para arbitrá-la, aliás, seria bom Lula voltar ao Brasil, deixar de comentar política externa e assumir as rédeas da articulação política do tema que pode definir o sucesso de seu governo.

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