Blog do Mauro Ferreira

Por Mauro Ferreira

Jornalista carioca que escreve sobre música desde 1987, com passagens em 'O Globo' e 'Bizz'. Faz um guia para todas as tribos


O maestro, arranjador e pianista Chiquinho de Moraes no início da carreira, nos anos 1960 — Foto: Reprodução / Facebook Otávio de Moraes

OBITUÁRIO – É fácil encontrar o nome de Manoel Francisco de Moraes Mello (16 de abril de 1937 – 30 de abril de 2023) nos créditos dos discos das maiores estrelas da MPB dos anos 1960 e 1970. Basta procurar por Chiquinho de Moraes, como ficou celebrizado no meio artístico este pianista e (genial) arranjador e maestro paulista que morreu ontem, aos 86 anos, no Hospital Césario Lange, no interior do estado de São Paulo.

Como informou em rede social o filho de Chiquinho, o produtor musical e também arranjador Otávio de Moraes, o maestro faleceu no domingo, 30 de abril, em decorrência de ter contraído covid-19 enquanto tratava câncer. O enterro aconteceu às 9h de hoje, 1º de maio, no Cemitério Jardim da Paz, em Cesário Lange (SP).

“Apesar de ter vivido com ele uma história dificílima na relação de pai e filho, enquanto músico reconheço e destaco o legado dele como maestro, arranjador e compositor”, ressaltou Otávio de Moraes.

De fato, se o temperamento difícil e ultimamente recluso de Chiquinho de Moraes era notório no meio musical, a genialidade na orquestração de cordas e metais era ainda mais conhecida e valorizada pela nata da MPB.

Nascido em Campinas (SP), Chiquinho se diplomou no estudo do piano, instrumento que começou a tocar ainda na infância. Na sequência, estudou harmonia, contraponto e fuga com César Guerra-Peixe (1914 – 1993), outro maestro reconhecido pela maestria.

Músico profissional desde os 14 anos, idade em que começou a tocar o teclado solovox no conjunto de Mário Gennari Filho (1929 – 1989), Chiquinho tocou piano na noite da cidade de São Paulo (SP) até começar a trabalhar como arranjador para as gravadoras.

Os primeiros arranjos foram feitos em 1959, na Odeon, para a cantora Celly Campello (1942 – 2003). Coube ao então debutante artista arranjar as célebres gravações de Estúpido cupido (Stupid cupid – Neil Sedaka e Howard Greenfield, 1958, em versão em português de Fred Jorge, 1959) e Banho de lua (Tintarella di luna – Bruno Defilippi e Francesco Migliacci, 1959, em versão em português de Fred Jorge, 1960).

Os arranjos feitos para Celly simbolizaram o início da escalada vertiginosa de Chiquinho de Moraes na área da orquestração. Tanto que, já na segunda metade dos anos 1960, Chiquinho passou a trabalhar com Elis Regina (1945 – 1982) em discos e shows após ter gravado e assinado, como Francisco Morais, discos como O baile da menina moça (1960) e Quando os brotos se encontram (1961).

Nessa época, Chiquinho era também o maestro dos programas musicais da TV Record em função que, anos depois, assumiria na TV Globo e em outras emissoras. De 1970 a 1977, o maestro trabalhou com Roberto Carlos em discos e shows do cantor.

Nos anos 1980, Chiquinho solidificou a parceria com Edu Lobo, trabalhando nos arranjos das músicas compostas por Edu com Chico Buarque para a antológica trilha sonora do balé O grande circo místico (1983).

O arranjo estupendo criado por Chiquinho de Moraes para a gravação da música A máquina voadora (Ronnie Von e San Martin, 1970) para o álbum homônimo de Ronnie Von é somente um entre centenas de possíveis exemplos da maestria do maestro.

A marca orquestral dos arranjos de Chiquinho de Moraes está impressa em discos de Caetano Veloso, Chico Buarque, Erasmo Carlos (1941 – 2022) – Erasmo Carlos e Os Tremendões (1970) e Carlos, Erasmo... (1971), álbuns que promoveram virada na carreira do Tremendão – e Gal Costa (1945 – 2022) em lista extensa que vai do A de Antonio Marcos (1945 – 1992) ao Z de Zizi Possi, passando por Milton Nascimento, Nana Caymmi e Simone.

Enfim, a maestria do maestro está imortalizada na MPB.

Chiquinho de Moraes (1937 – 2023) – ao centro – em 1973 entre Billy Blanco (1924 – 2011), à esquerda, e Aloysio de Oliveira (1914 – 1995) — Foto: Reprodução / Internet

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