Blog da Andréia Sadi

Por Andréia Sadi, Isabela Camargo e Octavio Guedes*


'É o momento de passar a limpo tudo o que aconteceu, diz juiz da Lava Jato sobre investigação de grampo na cela de Youssef

'É o momento de passar a limpo tudo o que aconteceu, diz juiz da Lava Jato sobre investigação de grampo na cela de Youssef

O Conselho do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) afastou o juiz Eduardo Appio da 13ª Vara Federal de Curitiba. Com isso, o magistrado deixa de ser o titular da Operação Lava Jato no Paraná. A decisão é desta segunda-feira (22).

Ao g1, Eduardo Appio disse que não tomou conhecimento da decisão.

A decisão atende a uma representação do desembargador federal Marcelo Malucelli, que afirmou que o filho dele, João Eduardo Barreto Malucelli, recebeu uma ligação telefônica com "ameaças".

João Eduardo Barreto Malucelli é sócio do ex-juiz Sergio Moro. O pai dele, Marcelo Malucelli, se declarou suspeito para analisar casos que envolvem a Lava Jato em abril deste ano.

De acordo com o Conselho do TRF-4, há indícios de que o Appio tenha feito o telefonema para o filho de Marcelo Malucelli. O juiz terá 15 dias para apresentar defesa.

Segundo a representação feita por Marcelo Malucelli, a ligação feita para o filho dele aconteceu de um número bloqueado. A pessoa que fez a chamada se identificou como servidor da área de saúde da Justiça Federal e se apresentou como Fernando Gonçalves Pinheiro.

Apesar disso, segundo a decisão, não existe nenhum servidor com o nome de Fernando Gonçalves Pinheiro na Justiça Federal da 4ª Região.

Na ligação, o suposto servidor teria mencionado valores a devolver e despesas médicas de João Malucelli, "como se detivesse informações de cunho relevante, capazes de causar algum tipo de intimidação, de constrangimento ou de ameaça", segundo o relatório.

O documento cita ainda que o suposto servidor teria questionado o sócio de Moro sobre se ele estaria "aprontando".

O relatório do conselho aponta que há "muita semelhança entre a voz do interlocutor da ligação telefônica suspeita e a do juiz federal Eduardo Fernando Appio, tendo então a Presidência do TRF4 e a Corregedoria Regional noticiado esses fatos à Polícia Federal e solicitado realização de perícia para comparação do interlocutor da ligação suspeita com aquele magistrado federal".

Em resposta, a Polícia Federal afirmou que "o resultado corrobora fortemente a hipótese" de que a voz era de Appio.

Aliados de Appio esperam que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) reverta a decisão do afastamento. O ministro Luis Felipe Salomão é o corregedor do órgão.

A decisão

Com a decisão, o Conselho do TRF-4 determinou:

  • afastar imediatamente e preventivamente o juiz Eduardo Appio;
  • suspender o acesso de Appio a prédios da Justiça Federal;
  • suspender o acesso eletrônico de Appio a sistema da Justiça Federal
  • a devolução de equipamentos eletrônicos usados pelo juiz federal, como desktop, notebook e celular funcionais.

Segundo o relatório do colegiado, o juiz federal pode ter violado as seguintes normas:

  • usar sistemas informáticos a que tem acesso pela função de juiz, de modo privilegiado, para obter informações com fins alheios a da atividade profissional;
  • fazer telefonema com identificador bloqueado e se passar por uma terceira pessoa, com uso de falsa identidade;
  • fazer ligação telefônica para constranger, intimidar ou ameaçar outro magistrado;
  • ofender o "dever de urbanidade" ao questionar outra pessoa sobre a possibilidade de "ter aprontado".

Juiz da Lava Jato

Eduardo Fernando Appio — Foto: Reprodução/Justiça Federal

Appio assumiu o comando da 13ª Vara Federal de Curitiba, berço da Operação Lava Jato, no início de fevereiro. Ele tem mais de 20 anos de trabalho na Justiça Federal e é crítico da atuação do ex-juiz Sergio Moro no âmbito da Lava Jato.

Em entrevista ao g1 na época, disse ter como missões o resgate da credibilidade e da neutralidade político-partidária e o fim da espetacularização.

No cargo, ele expediu decisões como a prisão do delator da Lava Jato Alberto Youssef e a anulação da condenação do ex-governador do Rio Sérgio Cabral por suposta propina em obras do Comperj. Ambos os casos foram revistos e anulados pelo TRF-4.

Depois de o juiz apresentar sua defesa preliminar, a Corregedoria deve avaliar a abertura de um processo administrativo disciplinar contra Appio. Caso isso aconteça, a mesma corte que tomou a decisão desta segunda-feira terá que dar o aval.

Entrevista ao Estúdio i

Sigla de acesso LUL22 foi protesto contra prisão ilegal, diz novo juiz da Lava Jato

Sigla de acesso LUL22 foi protesto contra prisão ilegal, diz novo juiz da Lava Jato

Ao programa Estúdio i, da GloboNews, nesta segunda-feira, Appio confirmou que usou uma identificação eletrônica alusiva a Lula no sistema processual da Justiça. A sigla "LUL22", segundo ele, era um protesto individual contra a prisão ilegal do então ex-presidente.

"Alguns anos atrás, quando o presidente Lula ainda estava preso, a minha sigla de acesso ao sistema da Justiça Federal era 'LUL22'. Na época eu trabalhava com matéria previdenciária e esse foi um protesto isolado, individual, contra uma prisão que eu reputava ilegal. E depois, de fato, o STF [Supremo Tribunal Federal] considerou a prisão ilegal", disse.

No programa, Appio afirmou que a senha foi um "protesto isolado e individual", mas que não se identifica como petista. "Eu acho que o atual presidente Lula é uma figura histórica muito importante para o país. Erros e acertos [de Lula] vão ser julgados pela Justiça", disse.

Representação de Moro

Em 28 de março, a defesa de Sergio Moro protocolou um pedido de que Eduardo Appio se afastasse de qualquer decisão em processos da Lava Jato até uma apuração de suspeição.

A ação foi protocolada pelo Ministério Público Federal (MPF) no dia 15 de março deste ano, conforme petição, mas não teve movimentação processual.

*Colaboraram: Gustavo Petró e Wesley Bischoff.

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