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Política Brasília

'PT não estará no meu bloco e eles sabem disso', diz Maia

Ao GLOBO, presidente da Câmara descartou apoio de petistas ao seu projeto de reeleição
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, durante entrevista Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados/02-01-2019
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, durante entrevista Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados/02-01-2019

BRASÍLIA — O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), descartou nesta quarta-feira uma composição com o PT em torno de sua reeleição. Maia foi procurado por deputados do PSL nesta manhã. Eles estavam preocupados com uma possível articulação dele com a oposição.

— O PT não estará no meu bloco e eles (deputados petistas) sabem disso — disse ao GLOBO.

Questionado sobre o evento a que compareceu na terça-feira com o governador Wellington Dias (PT-PI), em que disse que não poderia ignorar o PT e que a eleição à presidência da Câmara não é "de direita ou esquerda", Maia disse que estava se referindo ao exercício da atividade parlamentar.

— O exercício parlamentar é garantido aos 513 deputados. Apenas isso. (Vou garantir) respeito à Constituição, às leis e ao regimento da casa — afirmou.

A declaração de Maia pegou de surpresa deputados do PT procurados pela reportagem. O partido se reaproximou de Maia na última semana, quando alguns parlamentares sentiram que a ideia de formar um bloco com outros partidos de esquerda, como PDT, PCdoB e PSB, estava perdendo força. Temendo o isolamento, uma ala dos petistas tendia a apoiar Maia.

— É estranho. Estamos conduzindo (conversas). Vamos ter reunião do PT no dia 14. Estamos tratando disso — disse Carlos Zarattini (PT-SP).

Deputados contrários à aliança com Maia, porém, dizem que essas conversas nunca existiram. A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente da sigla, faz parte dos que rechaçam um possível acordo com o presidente da Câmara.

— Nunca tivemos esse tipo de diálogo com ele. A declaração dele não nos diz respeito — disse ao GLOBO o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (PT-RS).

Após a costura entre Maia e alguns petistas vir a público nos últimos dias, porém, deputados do PSL pressionaram o presidente da Câmara, o que fez com que ele deixasse claro que não estava disposto a sacrificar o acordo com o PSL, segundo maior partido da casa atualmente, em troca do PT.

Segundo o deputado eleito Coronel Tadeu (PSL-SP), há uma ala do seu partido que questiona a aliança com Maia, especialmente os filiados que têm formação militar.

— Maia dá uma mancada para o lado esquerdo às vezes, mas os novos deputados têm que entender que não se faz nada sozinho no jogo político — disse Tadeu.

A deputada Joice Hasselmann está entre os que procuraram Maia para cobrá-lo sobre o flerte com o PT. Ela disse ao GLOBO que uma possível aliança entre Maia e o PT não é factível e que "membros do PT espalharam isso" para desestabilizar o acordo com o PSL.

Para o deputado André Figueiredo, líder do PDT na Câmara, o bloco de oposição não tem chance de prosperar. O partido prefere apoiar alguém que respeite e dê espaço à oposição a lançar uma candidatura de esquerda que não tenha chances de ganhar, afirmou.

— PDT, PSB e PCdoB estavam muito avançados com Rodrigo Maia. Demos muitas demonstrações de que o modelo que estava sendo construído, sem representar o hegemonismo do PT nem do PSL, com composição dos outros partidos para garantir a institucionalidade do Parlamento, era a nossa ideia. A partir do momento que PSL entrou, isso refluiu um pouco. Mas continuamos em contato com Rodrigo. Estamos também conversando com Arthur Lira (PP). Achamos que podemos chegar a caminho consensual, com a nossa ideia inicial — disse André Figueiredo ao GLOBO.

O partido do presidente Jair Bolsonaro declarou apoio a Maia há uma semana, numa negociação que envolveu, segundo o presidente do partido, Luciano Bivar, postos importantes da Casa, como as presidências das comissões de Constituição e Justiça e de Finanças. Alguns membros do PSL ainda resistem ao acordo.

Nesta quarta, o Solidariedade declarou apoio a Maia, e o número de partidos que declararam que se aliarão a ele chegou a dez.