Por G1

O cientista He Jiankui, que afirmou ter editado os genes de duas bebês para torná-las imunes ao HIV, foi demitido nesta segunda-feira (21) da Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul da China. A demissão ocorreu no mesmo dia em que investigadores anunciaram que ele agiu sozinho e "realizou a pesquisa ilegalmente para conseguir fama pessoal e lucro".

Além disso, também nesta segunda, as autoridades confirmaram que uma segunda mulher está mesmo grávida de um bebê editado geneticamente. He Jiankui já tinha anunciado o fato, agora confirmado por investigadores.

As informações são da Associated Press e da EFE, que citam como fontes a agência de notícias estatal da China, a Xinhua News, e o Channel News Asia.

O governo chinês garantiu ainda que He será punido por violações da lei — mas não esclareceu quais podem ter sido essas violações. De acordo com o comunicado, o próprio cientista elaborou uma avaliação ética e atribuiu a autoria do texto a outras pessoas.

"He evitou a supervisão, arrecadou fundos e organizou especialistas por sua conta para realizar a pesquisa sobre edição genética de embriões humano com fins reprodutivos, algo que é proibido pela lei chinesa. Esse comportamento viola seriamente a ética e a integridade da pesquisa científica, está em séria violação de regulamentações nacionais relevantes e cria uma influência perniciosa domesticamente e fora do país", afirmou a nota oficial do governo.

O jornal "South China Morning Post", de Hong Kong, acrescentou que os investigadores descobriram que He contou com cientistas estrangeiros em sua equipe. Além disso, os peritos acusam o pesquisador de "utilizar tecnologia de segurança e efetividade incerta".

A publicação assegura que, entre março de 2017 e novembro de 2018, He falsificou vários documentos e atraiu oito casais para participar do experimento, conseguindo duas gestações. Segundo esta versão, uma das mulheres deu à luz as gêmeas no ano passado, e a outra ainda estaria grávida de um bebê modificado geneticamente.

As investigações começaram em 29 de novembro de 2018, apenas três dias depois de He fazer o anúncio da pesquisa. A China suspendeu imediatamente os experimentos após as afirmações do cientista.

O caso

Em novembro do ano passado, He Jiankui afirmou ter criado os primeiros bebês geneticamente modificados do mundo sem nenhum tipo de apoio institucional.

Dois dias depois, em uma conferência na Universidade de Hong Kong — sua última aparição pública —, He se mostrou "orgulhoso" pelo uso da técnica de edição genética Crispr nas gêmeas e disse que o estudo não tinha o objetivo de eliminar doenças genéticas, mas de "dar às meninas a habilidade natural" para resistir a uma possível futura infecção do HIV.

Em 26 de novembro, mais de 120 acadêmicos da comunidade científica chinesa assinaram uma declaração de que "qualquer tentativa" de fazer mudanças em embriões humanos mediante modificações genéticas é "uma loucura" e que dar à luz estes bebês teria "um alto risco".

A edição genética para fins reprodutivos é proibida nos Estados Unidos e na maior parte da Europa. Na China, regulamentações ministeriais proíbem pesquisas em embriões que "violem princípios morais ou éticos".

O chefe da Organização Mundial de Saúde (OMS) disse, no ano passado, que a agência está reunindo especialistas para analisar o impacto da edição genética na saúde.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!