O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu aval à nota divulgada nesta terça-feira pelo Itamaraty, que questiona o impedimento de Corina Yoris de registrar-se como candidata da oposição na eleição presidencial da Venezuela. Após o governo brasileiro modular o tom sobre a disputa deste ano, a chancelaria do presidente Nicolás Maduro reagiu com um duro comunicado endereçado à diplomacia de Lula. Mas essa manifestação não será respondida pelo Ministério de Relações Exteriores.
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No início da tarde, além de questionar o impedimento da candidata, o Itamaraty ressaltou que via com "expectativa e preocupação" o processo eleitoral. Segundo o órgão, a medida contra Yoris, até o momento, não foi "objeto de qualquer explicação oficial".
Horas depois, a chancelaria venezuelana chamou a nota do Brasil de "comunicado cinzento e intervencionista" e que "parece ter sido ditado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos".
Segundo interlocutores da área diplomática, como ocorre com toda nota relevante a ser divulgada pelo Itamaraty, Lula dá sempre a última palavra. Com um posicionamento mais crítico sobre a situação no país vizinho, a avaliação é que o presidente brasileiro poderá se descolar da imagem de aliado do líder venezuelano, considerado um ditador por parte da comunidade internacional.
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Na reação da Venezuela, a chancelaria ressaltou que mantém uma conduta fiel aos princípios que regem a diplomacia e as relações amistosas com o Brasil. Acusou o governo brasileiro de ingerência em assuntos internos e destacou que a democracia na Venezuela é "uma das mais robustas da região".
Um integrante da área diplomática lembrou que o Brasil ajudou nas negociações entre Maduro e oposição, que resultaram no Acordo de Barbados, firmado no fim do ano passado com o objetivo de garantir eleições livres, justas e transparentes, marcadas para julho deste ano. Outros países, como Colômbia, México, Chile e Noruega também participaram e os Estados Unidos chegaram a prometer a retirada de sanções econômicas ao país vizinho.
Nos bastidores, interlocutores do governo brasileiro estão preocupados com os ataques que tiram a credibilidade e a eficácia do Acordo de Barbados, firmado entre representantes do governo e da oposição. Até recentemente, o Brasil avaliava se de fato havia retrocesso substantivo no que foi negociado.
Desde que assumiu, o presidente brasileiro defendeu o líder chavista em várias oportunidades e tem sido bastante criticado por isso. Entre alguns exemplos, Lula já declarou que a acusação de descumprimento de direitos humanos na Venezuela era uma "questão de narrativa".
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Na última segunda-feira, último dia do prazo de registro dos candidatos às eleições, o Brasil não assinou uma declaração corroborada por países da região, afirmando que há “grave preocupação” com o impedimento da inscrição de Corina Yoris.
De acordo com interlocutores ouvidos pelo GLOBO, embora tenha sido convidado a assinar, o Brasil se recusou. A justificativa era que o processo de registro ainda estava em curso e não era o momento de se precipitar.