Mundo Venezuela

Maioria dos países da União Europeia reconhece Guaidó como presidente interino da Venezuela

Governos atribuem a presidente da Assembleia Nacional legitimidade para organizar eleições o mais rápido possível e apoiam grupo de contato para promover negociações
Líder opositor venezuelano, Juan Guaidó cumprimenta multidão durante protesto contra Nicolás Maduro em Caracas Foto: ANDRES MARTINEZ CASARES / REUTERS
Líder opositor venezuelano, Juan Guaidó cumprimenta multidão durante protesto contra Nicolás Maduro em Caracas Foto: ANDRES MARTINEZ CASARES / REUTERS

MADRI — Encerrado neste domingo o ultimato dado por países europeus para o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, admitir a organização de novas eleições presidenciais no país, 17 dos 28 Estados-membros da União Europeia reconheceram, nesta segunda-feira, o opositor Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela. A Espanha foi o primeiro país a oficializar o apoio ao líder da Assembleia Nacional venezuelana, seguida por Reino Unido, Suécia, Dinamarca, França, Áustria, Alemanha, Portugal, Polônia, Letônia, Lituânia, Finlândia, Holanda, Bélgica, Estônia, Luxemburgo e República Tcheca.

Além deles, Ucrânia e Macedônia do Norte, que não pertencem à UE, reconheceram Guaidó.

Os europeus pressionam para que Maduro concorde com um novo pleito presidencial como saída para a crise que assola o país sul-americano. Com os anúncios de hoje, já são 38 os governos que reconhecem Guaidó como presidente interino. Mas, diferentemente de Estados Unidos, Brasil e outros 16 Estados que já haviam reconhecido Guaidó logo depois que ele se proclamou presidente com o apoio da Assembleia Nacional, em 23 de janeiro, os europeus reforçaram que o líder opositor deve conduzir o país a novas eleições o mais rápido possível.

"Reconheço Juan Guaidó como presidente encarregado da Venezuela com um horizonte claro: a convocação de eleições livres, democráticas, com garantias e sem exclusões", anunciou o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, no Twitter. "O governo da Espanha impulsionará o Grupo de Contato Internacional criado pela UE para acompanhar a Venezuela na convocação de eleições livres e democráticas", completou ele, referindo-se ao grupo formado na última quinta-feira pelo bloco e que se reunirá pela primeira vez na quinta-feira, no Uruguai.

Em gesto simbólico, não vinculante para os governos do continente, o Parlamento europeu já havia aprovado na quinta-feira uma resolução em que reconhecia a autoridade Guaidó. Fontes ouvidas pela agência Reuters dizem que a Itália bloqueou uma declaração comum da UE sobre a Venezuela nesta segunda-feira. Coube, então, a cada país definir sua posição individualmente.

"Maduro não convocou eleições presidenciais no prazo de 8 dias que fixamos. Assim, o Reino Unido, junto a seus aliados europeus, reconhece agora Juan Guaidó como presidente constitucional interino até que se possa celebrar eleições críveis", escreveu O ministro de Relações Exteriores do Reino Unido, Jeremy Hunt, no Twitter.

posição dos países sobre a venezuela
Legenda
Reconhecem Juan Guaidó como presidente
Apoiam a permanência de Nicolás Maduro na Presidência
Pedem diálogo ou novas eleições (mas não se
manifestaram sobre a permanência de um ou outro)
• Espanha*
• Reino Unido*
• Suécia*
• Dinamarca
• França*
• Áustria
• Alemanha*
• Portugal*
• Polônia
• Letônia
• Lituânia
• Finlândia
• Holanda*
• Bélgica
• Estônia
• Luxemburgo
• República Tcheca
• Ucrânia
• Macedônia do Norte
• Bulgária
• China
• Rússia
• Cuba
• Turquia
• Bolívia*
• Nicarágua
• Coreia do
Norte
• Argentina
• Bahamas
• Brasil
• Canadá
• Chile
• Colômbia
• Costa Rica*
• Guatemala
• Haiti
• Honduras
• Panamá
• Paraguai
• Peru
• Rep. Dominicana
• Austrália
• Israel
• Equador*
• Albânia
• Estados Unidos
• Malta
7
países
39
países
• Itália*
• Grécia
• México
• Uruguai*
4
países
* Países que fazem parte do Grupo de Contato Internacional
(criado pela União Europeia para tentar promover eleições livres na Venezuela)
Editoria de Arte
posição dos países
sobre a venezuela
39 países
Reconhecem Juan Guaidó como presidente
• Espanha*
• Reino Unido*
• Suécia*
• Dinamarca
• França*
• Áustria
• Alemanha*
• Portugal*
• Polônia
• Letônia
• Lituânia
• Finlândia
• Holanda*
• Bélgica
• Estônia
• Luxemburgo
• República Tcheca
• Ucrânia
• Macedônia do Norte
• Bulgária
• Argentina
• Bahamas
• Brasil
• Canadá
• Chile
• Colômbia
• Costa Rica*
• Guatemala
• Haiti
• Honduras
• Panamá
• Paraguai
• Peru
• Rep. Dominicana
• Austrália
• Israel
• Equador*
• Albânia
• Estados Unidos
• Malta
7 países
Apoiam a permanência de Nicolás
Maduro na presidência
• China
• Rússia
• Cuba
• Coreia do Norte
• Turquia
• Bolívia*
• Nicarágua
4 países
Pedem diálogo ou novas eleições
(mas não se manifestaram sobre a
permanência de um ou outro)
• Itália*
• Grécia
• México
• Uruguai*
* Países que fazem parte do Grupo
de Contato Internacional
(criado pela União Europeia para tentar promover eleições livres na Venezuela)
Editoria de Arte

O Ministério de Relações Exteriores da Dinamarca também confirmou apoio ao opositor "até novas e livres eleições democráticas" no país sul-americano. O chanceler austríaco, o conservador Sebastian Kurz, ressaltou que Guaidó "conta com o pleno apoio" do país para restabelecer a democracia na Venezuela, que, segundo ele, "sofre há tempos demais com a má gestão socialista e a ausência de Estado de direito".A chanceler alemã, Angela Merkel,  que esta em viagem ao Japão, emitiu nota de apelo por solução "estável e democrática" na Venezuela.

O presidente francês, Emmanuel Macron, oficializou o apoio a Guaidó no Twitter."Os venezuelanos têm direito de se expressar livremente e democraticamente. A França reconhece Juan Guaidó como 'presidente encarregado' para implementar um processo eleitoral. Apoiamos o grupo de contato, criado com a União Europeia, neste período de transição", escreveu Macron.

No domingo, dia em que se encerrou o prazo do ultimato europeu, a União Europeia anunciou que será coanfitriã , ao lado do Uruguai, de uma reunião do grupo de contato criado na última quinta-feira pelo bloco para buscar resolver a crise da Venezuela por meio de eleições livres. Estarão presentes ainda chanceleres da Bolívia, da Costa Rica e do Equador na reunião desta quinta-feira, 7 de fevereiro, em Montevidéu. O anúncio da reunião expôs a divergência de tom do bloco em relação à abordagem dos Estados Unidos, que rejeita qualquer negociação com Maduro. Neste domingo, o presidente americano, Donald Trump, disse que uma intervenção militar "é uma opção" para a crise.

Rússia critica 'interferência' europeia

Em entrevista à rede espanhola La Sexta, o líder bolivariano havia rejeitado o ultimato europeu e prometeu "não dar o braço a torcer por covardia".

— Por que a União Europeia tem que dizer a um país do mundo que já fez eleições que tem que repetir suas eleições presidenciais porque não ganharam seus aliados de direita? — questionou Maduro, entrevistado em Caracas pelo jornalista Jordi Évole.

Maduro tomou posse em 10 de janeiro para um segundo mandato presidencial, após ser reeleito em eleições marcadas por denúncias de fraude, boicote da oposição e abstenção de 54%. Mais de 40 países, incluindo a União Europeia em bloco, questionaram a legitimidade do pleito.

Embora acuse Maduro de sufocar a democracia, a União Europeia relutou diante do precedente de uma autodeclaração, e por isso demorou a seguir os Estados Unidos e a maioria das nações latino-americanas. Nesta segunda, diante da onda de apoio na Europa a Guaidó, a Rússia denunciou a "interferência" dos países do continente nos assuntos internos da Venezuela. Moscou é um dos principais aliados e credores do regime de Maduro.

— Percebemos as tentativas de legitimar a usurpação do poder como uma interferência direta e indireta nos assuntos internos da Venezuela — declarou a jornalistas o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov.

Durante a entrevista à La Sexta, Maduro enviou uma mensagem a Guaidó.

— Que abandone a estratégia golpista. Se quer conseguir algo, sente-se em uma mesa de negociação cara a cara — desafiou o presidente.

Guaidó, de 35 anos, disse na semana passada que não se engajará em diálogos "falsos" que deem oxigênio ao governo e o permitam ganhar tempo. O líder opositor diz que os venezuelanos continuarão nas ruas "até que cesse a usurpação" de poder de Maduro. No sábado, ele convocou uma nova manifestação para o dia 12 de fevereiro, terça-feira da próxima semana.