No comunicado que anunciou a decisão de manter a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 6,5% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central apontou a redução dos riscos externos por causa das sinalizações de que o Federal Reserve (Fed) não deve manter uma postura de elevação dos juros nos Estados Unidos. Mas economistas apontam que essa mudança não deve representar uma alteração das previsões para o cenário dos juros no Brasil - pelo menos nos próximos meses.
"O Copom reconheceu a melhora do cenário externo, caindo o risco de o Fed precisar subir os juros de uma forma mais acentuada", destaca Luciano Sobral, economista do Santander, ressalvando que isso "não foi o bastante" para fazer com que o comitê indicasse alguma mudança na trajetória da Selic para os próximos meses.
“Foi uma guinada bastante forte na última reunião do Fed e que surpreendeu o mercado”, afirma Patrícia Pereira, especialista da Mongeral Aegon Investimentos. “Essa mudança é positiva para os mercados emergentes.”
Em nota, a Rosenberg Associados destaca que, mesmo com a redução na percepção dos riscos externos, "a mensagem trazida por este comunicado reforça a perspectiva de estabilidade de juros no cenário atual". "Seria preciso que uma evolução pior da atividade, ou melhor das reformas/cenário externo, alterasse seu balanço de riscos e eliminasse a assimetria, para trazer a discussão de nova queda de juros à mesa. Por ora, este não é nosso cenário base."
O presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, deve ter comandado último reunião do Copom nesta quarta — Foto: Beto Nociti/BCB
O rumo dos juros nos EUA influenciam as decisões do BC no Brasil porque, com taxas mais altas, os EUA se tornam mais atraentes para recursos aplicados em economias emergentes, como é o caso da brasileira. Isso provoca uma desvalorização do real e, consequentemente, uma pressão inflacionária no Brasil, o que poderia levar o BC a subir os juros.
Na semana passada, o Fed decidiu manter inalteradas as taxas de juros no intervalo de 2,25% a 2,5% e reforçou o tom de paciência para a política monetária – ou seja, de que os juros dos EUA podem subir menos do que o esperado neste ano ou até mesmo não subir.
No fim do ano passado, o Fed já havia sinalizado que política de aperto monetário estava próxima do fim. Em 2018, foram quatro aumentos das taxas de juros.
Nova diretoria
Essa deve ser a última reunião do Copom comandada por Ilan Goldfajn. Ele deve ser substituído na presidência do Banco Central por Roberto Campos Neto, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro.
Sobral relaciona a mudança de diretoria ao comunicado sem grandes alterações nas perspectivas e indicações. "Essa é provavelmente a última reunião com essa composição do comitê. É um comunicado bem neutro, de quem de fato quer passar o bastão sem fazer muito barulho."
"Hoje não esperávamos uma mudança por provavelmente ser a última reunião do Ilan. Na próxima reunião, a expectativa será pela comunicação do novo presidente do BC", afirma Patrícia.
O que diz o BC
Após a reunião do Copom, o Banco Central informou que a decisão é compatível com a convergência da inflação para a condução da política monetária (definição dos juros para atingir as metas de inflação) em de 2019 e, "com peso menor e gradualmente crescente", em 2020.
"O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural", acrescentou.
O BC informou ainda que "cautela, serenidade e perseverança nas decisões de política monetária, inclusive diante de cenários voláteis, têm sido úteis na perseguição de seu objetivo precípuo de manter a trajetória da inflação em direção às metas".
Por fim, a instituição projetou, com juros e câmbio projetados pelo mercado, que a inflação ficará em 3,9% para 2019 e 3,8% para 2020, ou seja, em linha com as metas de inflação predefinidas.