Cultura Filmes

China lança primeira super produção de ficção científica

'The Wandering Earth' é esperança de demosntrar maturidade da indústria cinematográfica do país
Cena de 'The Wandering Earth' Foto: Divulgação
Cena de 'The Wandering Earth' Foto: Divulgação

PEQUIM - A China chegou atrasada na exploração espacial e, nos cinemas, também chegou tarde à ficção científica. Mas o primeiro blockbuster do país ambientado no espaço, "The Wandering Earth" (ainda sem título em português), foi lançado esta semana em meio a expectativas grandiosas de uma nova era no cinema chinês.

Trata-se da primeira produção de uma série de filmes de grande orçamento abordando um gênero que, até agora, esteve além do alcance da maioria dos cineastas daqui — técnica e financeiramente. Entre esses filmes estarão “A Fortaleza Shanghai”, sobre um ataque alienígena na Terra, e “Pathfinder”, sobre uma nave espacial que cai em um planeta deserto.

— Os cineastas da China vêem a ficção científica como cálice sagrado — diz Raymond Zhou, um crítico independente, destacando como Hollywood estabeleceu os padrões tecnológicos e as expectativas do público em níveis muito altos.

“The Wandering Earth”, filmado em 3D, ocorre em um futuro distante no qual o sol está prestes a se expandir em uma estrela gigante vermelha e devorar a Terra. O perigo iminente força os engenheiros do mundo a elaborar um plano para levar o planeta a um novo sistema solar usando propulsores gigantes. As coisas vão muito mal quando a Terra precisa passar por Júpiter, desencadeando uma luta desesperada para salvar a humanidade da aniquilação.

Cena de 'The Wandering Earth' Foto: Divulgação
Cena de 'The Wandering Earth' Foto: Divulgação

Os efeitos especiais — como as mudanças climáticas apocalípticas que ocorreriam se a Terra de repente saísse de sua órbita aconchegante — certamente serão comparados com os de Hollywood. Mas as primeiras críticas foram positivas.

— É como se a indústria tivesse chegado na maioridade —  avalia Zhou.

"The Wandering Earth" foi lançado no Ano Novo Lunar, o início de um feriado oficial de uma semana que é tradicionalmente um período de pico de bilheteria na China. O filme terá lançamento limitado nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Em casa, competirá com “Crazy Alien”, uma comédia inspirada em “E.T. o Extra-Terrestre ”sobre dois irmãos que esperam capitalizar a chegada de um visitante do espaço.

Liu Cixin

Tanto “The Wandering Earth” quanto “Crazy Alien” são adaptados das obras de Liu Cixin, escritor que liderou o renascimento da ficção científica na China, tornando-se o primeiro vencedor chinês do Prêmio Hugo, em 2015.

Seus romances são grandes épicos, cuidadosamente pesquisados. Isso os torna fantasias plausíveis sobre os encontros da humanidade com um universo perigoso. Traduzi-los em filmes desafiaria qualquer cineasta, como o diretor de "The Wandering Earth", Guo Fan, reconheceu durante uma exibição em Pequim na semana passada.

Isso fez com que o filme, produzido pela Beijing Jingxi Culture & Tourism Co. e pela China Film Group Corp., fosse um teste para a indústria.

Guo, que usa o nome Frant Gwo em inglês, observou que o público chinês respondeu friamente a muitos blockbusters de ficção científica anteriores de Hollywood. Os estúdios, portanto, têm sido cautelosos em investir os recursos necessários para criar uma ficção científica convincente.

O orçamento teria atingido quase US$ 50 milhões, modestos pelos padrões de Hollywood, mas ainda significativos na China. Mais de sete mil pessoas participaram da produção, grande parte dela filmada no novo Oriental Movie Metropolis, um estúdio de US$ 8 bilhões na cidade costeira de Qingdao, construído pelo gigante imobiliário e de entretenimento Dalian Wanda.

— Eu espero que este filme não perca dinheiro pelo menos — disse Guo, cujo filme anterior, "My Old Classmate", era uma comédia romântica. — Se esse não der prejuízo, poderemos continuar fazendo ficção científica.

A popularidade dos romances de Liu pode ajudar. Assim como duas  produções recentes de Hollywood, "Gravidade" e "Perdido em Marte". Ambos incluíam importantes reviravoltas que, não por coincidência, mostravam o programa espacial da China de forma positiva. e os dois foram grandes sucessos no país asiático.