Política Brasília

Governo oficializa exoneração de Bebianno e alega 'foro íntimo'

General Floriano Peixoto Vieira Neto vai assumir o cargo
O ministro da Secretaria-Geral da Presidencia, Gustavo Bebianno, durante entrevista Foto: Daniel Marenco/Agência O Globo/05-02-2019
O ministro da Secretaria-Geral da Presidencia, Gustavo Bebianno, durante entrevista Foto: Daniel Marenco/Agência O Globo/05-02-2019

BRASÍLIA —  Após a crise instalada desde a última semana no governo, a demissão do ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, foi confirmada na noite desta segunda-feira pelo porta-voz da Presidência da República, Otávio do Rêgo Barros. Em um pronunciamento à imprensa, ele leu uma nota na qual comunicou oficialmente que o presidente Jair Bolsonaro decidiu pela exoneração de Bebianno.

Perguntado sobre a razão da demissão, o porta-voz explicou que foi uma questão de "foro íntimo" do presidente. No pronunciamento ele não respondeu as principais perguntas sobre a crise, nem sobre a demora no anúncio da demissão. Rêgo Barros disse apenas que Bolsonaro usou o "tempo necessário" pensando na decisão.

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Em nome do presidente Jair Bolsonaro, o porta-voz agradeceu ao ministro Bebianno e lhe desejou sucesso:

— O presidente agradece sua dedicação à frente da pasta e deseja sucesso na nova caminhada — afirmou Rêgo Barros em seu pronunciamento.

De acordo com o porta-voz, o general Floriano Peixoto Vieira Neto, que ocupava o cargo de secretário executivo do ministério, será o novo ministro da Secretaria Geral . Com a nomeação dele, o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) será o único ministro sem patente militar a despachar do Palácio do Planalto. Floriano Peixoto será o oitavo militar no primeiro escalão do governo.

O porta-voz negou ainda que o governo tenha intenção de fazer mudanças nas atribuições da pasta.

— O general Floriano passará a ser o Secretário Geral da Presidência de forma definitiva e não há a possibilidade de mudanças na estrutura da pasta — disse Rêgo Barros.

Agora, fora do governo, Bebianno diz que voltará a advogar . Segundo o empresário Paulo Marinho, um dos mais próximos aliados do ex-ministro, ele não descarta seguir na política.

A demissão ocorre após uma crise ao longo de toda a última semana. O ex-ministro foi chamado de mentiroso pelo vereador Carlos Bolsonaro, na última quarta-feira. No Twitter, o filho mais próximo do presidente disse que Bebianno mentiu ao falar ao GLOBO que havia conversado três vezes com o presidente no dia anterior. A declaração foi dada para negar que ele estava protagonizando a crise. Na ocasião, Bebianno disse que só havia tratado de assuntos institucionais e não sobre uma possível instabilidade no governo.

Carlos chegou a compartilhar um áudio do presidente para Bebianno como forma de comprovar que não o houve uma conversa entre os dois. As mensagens foram posteriormente compartilhadas pelo próprio Bolsonaro.

O processo de desgaste de Bebianno começou com denúncias envolvendo supostas irregularidades na sua gestão à frente do caixa eleitoral do PSL, partido dele e de Bolsonaro, publicadas na "Folha de S. Paulo". Bolsonaro e os filhos, no entanto, acusam o ex-coordenador da campanha de vazar informações para a imprensa.

A "fritura" do ministro ocorria desde a transição, quando o presidente esvaziou a Secretaria-Geral da Presidência para tirar poderes do desafeto do filho. Durante todo o período de mudança de governo, Bebianno evitou declarações à imprensa e se cercou de militares em seu gabinete como modo de se blindar no Planalto.

Bebianno nega as acusações e promete, fora do poder, comprovar com textos e áudios que não mentiu e que não é responsável pelos casos de candidaturas laranjas nos estados. Ele também está disposto a rebater os ataques de Carlos Bolsonaro.

Na semana passada, políticos e militares atuaram para tentar debelar a crise e evitar a demissão. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, chegou a ligar para o ministro da Economia, Paulo Guedes, para dizer que a demissão poderia atrapalhar a aprovação da reforma da Previdência.

Na sexta-feira, durante uma reunião no Palácio do Planalto, Onyx disse a Bebianno que ele ficaria no governo, mas foi alertado a permanecer em silêncio.

No fim da tarde do mesmo dia, Bolsonaro e Bebianno se encontraram pessoalmente. O presidente chegou a a oferecer a ele  um cargo na diretoria da hidrelétrica de Itapu, mas Bebianno recusou. Após uma conversa ríspida, com ataques de ambos os lados, Bolsonaro saiu decidido a demiti-lo e integrantes do governo vazaram para a imprensa que o ato de exoneração do ministro já havia sido assinado.