Ausência de vídeo elogioso em redes sociais de Bolsonaro incomoda Bebianno

O agora ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência foi demitido do cargo nesta segunda-feira, 18

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Por Camila Turtelli
Atualização:

BRASÍLIA - A divulgação de um vídeo em que o presidente Jair Bolsonaro faz elogios públicos a Gustavo Bebianno, demitido nesta segunda-feira, 18, do cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência atendeu, em parte, o acordo costurado para tentar apaziguar os ânimos. Até o início da madrugada desta terça-feira, 19, a mensagem não havia sido publicada nas redes sociais do presidente, seu principal canal de comunicação, o que irritou o agora ex-ministro, segundo uma pessoa próxima.

O ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Gustavo Bebianno Foto: DIda Sampaio/Estadão

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O combinado seria Bolsonaro postá-lo em suas redes sociais, agradecendo a “dedicação e o comprometimento do senhor Bebianno”. Foi uma estratégia acertada na última hora, para evitar que o ex-auxiliar saísse “atirando”. O vídeo, porém, foi distribuído à imprensa e a aliados do presidente por meio do WhatsApp.

Para Bebianno, a divulgação no Twitter de Bolsonaro, que reúne 3,3 milhões de seguidores, era uma "questão de honra", segundo este interlocutor. Foi pelo mesmo Twitter que o então chefe da Secretaria-Geral da Presidência foi chamado de "mentiroso" por Carlos Bolsonaro, filho do presidente. A acusação foi endossada pelo próprio pai, que compartilhou a postagem de Carlos mais tarde.

No vídeo divulgado a aliados, Bolsonaro usou um tom apaziguador, de trégua, para se referir ao ex-auxiliar, a quem chamou de “senhor Gustavo Bebianno”. “Comunico que desde a semana passada diferentes pontos de vista sobre questões relevantes trouxeram a necessidade de uma reavaliação”, afirmou o presidente, sem especificar as divergências. “Avalio que pode ter havido incompreensões e questões mal entendidas de parte a parte, não sendo adequado prejulgamentos de qualquer natureza”, completou ele, ao desejar a Bebianno “sucesso em sua nova jornada”. Antes, o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, disse que a exoneração do ministro ocorrera por “razões de foro íntimo.”

Ex-coordenador da campanha de Bolsonaro e responsável por levá-lo para o PSL, Bebianno caiu após um ruidoso embate público com Carlos Bolsonaro. Na semana passada, o filho do presidente chamou o então chefe da Secretaria-Geral de “mentiroso” por ele ter dito que havia conversado três vezes com Bolsonaro. Bebianno tentava com isso negar que estivesse isolado por causa de uma crise, mas foi desmentido por Carlos e pelo próprio presidente.

O clima azedou de vez após Bolsonaro ser informado de que o ministro deixara vazar para interlocutores mensagens de áudio com conversas privadas entre os dois. Antes disso, o nome de Bebianno também havia sido citado em denúncias sobre um esquema de desvio de dinheiro do Fundo Eleitoral do PSL para patrocinar candidaturas laranjas, em 2018.

“Acho que a questão entre o presidente e o ministro Bebianno tem mais problemas do que a questão dos laranjas”, afirmou nesta segunda-feira, 18, o vice-presidente Hamilton Mourão. “Agora vamos ver como colocar uma gaze úmida nessa queimadura de terceiro grau (no governo)”, emendou a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), mostrando preocupação com o impacto da crise sobre o Congresso.

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A “fritura” de um dos homens fortes do governo se arrastou por dias. Para evitar que a instabilidade contaminasse votações prioritárias para o governo no Congresso, como a reforma da Previdência, ministros do núcleo político, militares e até Maia tentaram convencer Bolsonaro a manter Bebianno no cargo.

O plano não surtiu efeito e os “bombeiros” políticos fizeram de tudo para construir uma “saída negociada”, que não deixasse o ex-ministro na “chuva”. Emissários do presidente chegaram a oferecer a Bebianno – que comandou o PSL em 2018 – uma diretoria de Itaipu Binacional e até uma embaixada em Roma ou em Portugal, para que ele saísse do Brasil. Bebianno, porém, não aceitou. “Tudo o que fiz foi por garra, não foi por emprego ou para ganhar dinheiro”, disse o ex-ministro ao Estado. “O tempo é o senhor da razão”.

O receio de auxiliares de Bolsonaro é de que, mesmo com os agradecimentos feitos pelo presidente, Bebianno seja o que no jargão político se chama de “homem-bomba” e aja para detonar o governo e o filho do presidente. A oposição, por exemplo, vai convidá-lo para prestar depoimento.

“Preciso pedir desculpas ao Brasil por ter viabilizado a candidatura de Bolsonaro. Nunca imaginei que ele seria um presidente tão fraco”, afirmou Bebianno a interlocutores.

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Áudio. Na prática, a gota d’água que levou à demissão do ministro – assinada no fim de semana, mas só anunciada ontem – foi a divulgação de um áudio de WhatsApp no qual o presidente dizia a ele que não queria “aproximação” com a TV Globo.

O episódio ocorreu na última terça-feira, quando Bolsonaro, ainda internado no Hospital Albert Einstein, mandou o então ministro suspender uma audiência que teria com o vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet Carvalho.

“Como você coloca nossos inimigos dentro de casa?”, perguntou ele a Bebianno, segundo o site Poder 360. Para Bolsonaro, a divulgação do áudio foi uma “deslealdade”. Um interlocutor do presidente confirmou o teor da mensagem ao Estado.

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Bebianno deve ficar ainda em Brasília nos próximos dias. A um interlocutor, o ex-ministro teria dito que teme por sua segurança. Ele continua recebendo ameaças pelo seu número de WhatsApp e disse que já identificou algumas pessoas.  Nesta terça-feira, ele ainda deve se encontrar com o atual presidente do PSL, Luciano Bivar (PE) ainda.

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