Por Alan Chaves e Emily Costa, G1 RR — Boa Vista


Venezuelanos correm ao comércio brasileiro para comprar comida

Venezuelanos correm ao comércio brasileiro para comprar comida

Em meio à ordem do presidente da Venezuela Nicolás Maduro para fechar a fronteira com Brasil na noite desta quinta-feira (21), venezuelanos entraram no país para comprar estoques de mantimentos em Pacaraima (RR).

"Estamos correndo contra o tempo o mais rápido possível para poder passar antes que a fronteira feche", disse o venezuelano Genson Medina, de 22 anos, que nesta tarde comprava mantimentos em um comércio de Pacaraima, a 215 km da capital Boa Vista, onde há intensa movimentação, antes do fechamento da fronteira, que aconteceu às 20 horas (horário local).

Venezuelanos cruzam fronteira levando mantimentos para casa — Foto: Alan Chaves/G1 RR

No pronunciamento, o líder chavista disse que a fronteira entre os dois países seria "fechada total e absolutamente até novo aviso". Às 20 horas, começou o bloqueio.

Com medo do fechamento da fronteira, venezuelanos correm para fazer compras em Roraima

Com medo do fechamento da fronteira, venezuelanos correm para fazer compras em Roraima

O anúncio de Maduro foi feito em meio à pressão para que ele permita a entrada de ajuda humanitária oferecida pelos EUA e por países vizinhos, incluindo o Brasil, após pedido do auto-proclamado presidente interino Juan Guaidó. Maduro vê a oferta dessa ajuda como uma interferência externa na política do país.

"Eu acho que os venezuelanos estavam prevendo que a fronteira seria fechada porque hoje o movimento aqui quase dobrou. De meio dia até uma hora foi o maior volume de compra, uns 30% a mais que em dias comuns", disse o comerciante brasileiro Orandir Cardoso, 53 anos.

Em Brasília, o governador do estado, Antônio Denarium (PSL), disse acreditar que, embora crie um "clima tenso" na região, a decisão do presidente da Venezuela Nicolás Maduro de fechar a fronteira com o Brasil não impedirá a entrega de alimentos e medicamentos aos cidadãos do país vizinho.

Venezuelanos fazem fila para comprar mantimentos em comércio na fronteira do Brasil — Foto: Alan Chaves/G1 RR

Morador de Santa Elena de Uairén, primeira cidade venezuelana após a fronteira, Nelson Rodrigues, 34, decidiu comprar tudo em dobro para estocar alimentos em casa.

"Vou levar mais por precaução. Fechar a fronteira é ruim porque nós precisamos comprar comida aqui", disse Nelson se referindo à escassez de comida e remédios no país em crise.

"Nem temos estimativa de quanto vendemos, porque sai tudo muito rápido", afirmou Osmar Cardoso, 55, comerciante brasileiro.

Nelson Rodrigues, 34 — Foto: Alan Chaves/G1 RR

Tanques em cidade fronteiriça

Um dia antes do anúncio de Maduro, o exército venezuelano movimentou tanques na cidade de Santa Elena de Uairén, a 15 Km da divisa com Brasil, na tarde de quarta-feira (20).

A movimentação foi registrada por moradores e divulgada em redes sociais. Ela ocorreu um dia após governo brasileiro anunciar que, em cooperação com os Estados Unidos, vai ofertar ajuda humanitária ao país a partir de sábado (23).

Tanques do exército foram transportados em caminhões — Foto: Reprodução/Twitter/@americodegrazia

Ricardo Delgado, ex-prefeito de Santa Elena e integrante da oposição ao governo Maduro, disse em entrevista ao G1 que os cinco tanques já estavam na cidade há anos, mas foram movimentados numa “tentativa de intimidar a população frente à ajuda humanitária”.

Ele disse que no sábado, 300 voluntários venezuelanos devem ajudar a levar a ajuda anunciada pelo Brasil. O material, segundo ele, deve ser transportado em três caminhões venezuelanos.

O G1 procurou o Itamaraty nesta quinta acerca da ajuda humanitária à Venezuela mas não obteve retorno.

No twitter, o deputado nacional venezuelano pelo Estado de Bolívar, Américo De Grazia, publicou imagens dos tanques pelas ruas de Santa Elena. Ele acusou Nicolás Maduro de ser "usurpador" e disse que a mobilização é para impedir a ajuda de entrada humanitária no país.

Pela manhã, fronteira teve fila gigantesca de venezuelanos entrando no Brasil — Foto: Alan Chaves/G1 RR

Segundo Fátima Araújo, moradora e comerciante da região, os tanques foram levados para abastecer e depois colocados em uma base militar da fronteira onde permaneciam até às 11h (13h de Brasília) desta quinta.

Por telefone, o vice-cônsul da Venezuela em Roraima José Martír disse que não vai comentar sobre o assunto.

Procurada, a assessoria do Exército em Roraima informou que "a situação é de normalidade" entre Brasil e Venezuela e que as atividades militares permanecem normais na fronteira. "Continuamos na nossa missão de fiscalizar e controlar a faixa de fronteira", informou.

Desde agosto, um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) dá poder de polícia às Forças Armadas em Roraima. A medida está em vigor até março e garante a "proteção das instalações e atividades relacionadas ao acolhimento de refugiados".

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