Fora da Globo, Ricardo Boechat tornou-se dos jornalistas mais populares do país

Profissional, que começou com o colunista Ibrahim Sued, tornou-se personagem público nos últimos anos

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O jornalista Ricardo Boechat, que morreu nesta segunda-feira (11) em São Paulo
O jornalista Ricardo Boechat, que morreu nesta segunda-feira (11) em São Paulo - Eduardo Knapp - 20.2.18/Folhapress
São Paulo

Em 2001, colunista do jornal O Globo e comentarista no Bom Dia Brasil, na Globo, Ricardo Boechat foi grampeado em conversa telefônica com o empresário Paulo Marinho, descrevendo uma reportagem que preparava para o jornal.

Nela, questionava o empresário Daniel Dantas, então em disputa com o empresário Nelson Tanure, ligado a Marinho. O grampo foi divulgado pela revista Veja, e Boechat foi demitido pelas Organizações Globo, hoje Grupo Globo.

O que poderia ser o fim de sua carreira se provou o contrário. Começou ali a trajetória que o tornaria popular em todo o país, por meio de veículos como a rádio BandNews FM, onde ancorava um programa matinal, e o Jornal da Band. Estava no Grupo Bandeirantes havia 15 anos.

Ricardo Boechat, 66, morreu após a queda de um helicóptero em São Paulo nesta segunda-feira (11).

Tendo começado no carioca Diário de Notícias nos anos 70 e trabalhado por 14 anos produzindo notas para o colunista Ibrahim Sued, seu mentor, Boechat nunca quis deixar o jornalismo impresso e assinou até esta semana uma coluna de notas na revista IstoÉ.

Por seu trabalho, levou três vezes o extinto Prêmio Esso e é descrito como o maior vencedor do Prêmio Comunique-se. Mais recentemente, tornou-se celebridade a ponto de ser chamado para fazer voz numa animação da Disney, "Zootopia".

Algumas de suas manifestações na rádio se transformaram em memes antológicos. Em 2015, por exemplo, ele questionou a intolerância religiosa que havia levado à agressão de uma menina de 11 anos. O pastor Silas Malafaia tuitou que era "asneira" e Boechat, "idiota".

"Ô, Malafaia, vai procurar uma rola", respondeu Boechat no ar. "Não me enche o saco. Você é um pilantra, tomador de grana de fiel, explorador da fé alheia. Você é um homofóbico, uma figura execrável, horrorosa. Não tenho medo de você, não, seu otário."

O jornalista nasceu em 1952 em Buenos Aires, na Argentina, filho do diplomata Dalton Boechat e da argentina Mercedes Carrascal. No início da carreira, viveu em Niterói, onde ainda mora a mãe, de 86 anos, que se tornou conhecida da audiência.

Ele contava das broncas que levava de "Doña Mercedes", por coisas que falava da rádio. E chegou a ligar para ela, no ar, para que ajudasse a esclarecer se ele havia traduzido corretamente a palavra "taller", oficina em espanhol.

Boechat tornou-se um personagem que os ouvintes aprenderam a "amar", na descrição do colunista da Folha José Simão, que conversava com ele todas as manhãs, havia uma década. Além da mãe, citava constantemente a mulher, "minha doce Veruska".

"O Boechat era um vulcão", descreve Simão. "Tinha pensamento próprio, falava o que estava na cabeça. Era o que ele imaginava, o que sentia na hora. E muito engraçado. Era um gozador. Carioca da gema."

A colunista da Folha Mônica Bergamo também conversava pelas manhãs com Boechat e recorda: "A coisa mais desafiadora do mundo era entrar no ar com ele. Era muito difícil para os colunistas, porque ele contestava no ar. Não tinha esse negócio de encher a bola".

Ambos e outros enfatizam a independência que o caracterizava. Ele havia sido membro do Partido Comunista Brasileiro e, quando da morte de Fidel Castro, deixou escapar seu respeito pelo líder cubano no ar.

Mas, de maneira geral, desde a saída das Organizações Globo, atacava sem distinguir partido. Até Jair Bolsonaro começar a ganhar proeminência, falavam-se constantemente e o futuro presidente o tratava pelo apelido de Jacaré.

Mas, quando Bolsonaro votou pelo impeachment dizendo ser em "memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff", Boechat questionou a "barbaridade" no Jornal da Band, onde geralmente se mostrava mais contido:

"Torturadores não têm ideologia. Torturadores não têm lado. Torturadores são apenas torturadores. É o tipo humano mais baixo que a natureza pode conceber. São covardes, são assassinos e não mereceriam, em momento algum, ser citados como exemplo."

Ele era casado com Veruska Boechat e deixa seis filhos. Beatriz, 40, Rafael, 38, Paula, 36, e Patricia, 29, de seu primeiro casamento com Claudia Costa de Andrade, e Valentina, 12 e Catarina, 10, do casamento com Veruska.

O velório do jornalista seria realizado no MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo, nesta segunda e terça.

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