BRASÍLIA - Após um dia de rumores no Palácio do Planalto de que protagonizava uma nova crise do governo de Jair Bolsonaro, o ministro Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência, negou, na noite desta terça-feira, que seja motivo de instabilidade no executivo. Bebianno cancelou agenda programada para esta tarde, depois de almoçar com seus assessores no restaurante do Planalto e ter se recusado a dar declarações à imprensa. À noite, ele se reuniu com o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
— Não existe crise nenhuma. Só hoje falei três vezes com o presidente — disse Bebianno ao GLOBO, afirmando que a conversa se deu por mensagens no WhatsApp. Um dos temas da conversa teria sido o cancelamento de sua viagem ao oeste do Pará, que ocorreria nesta quarta-feira. Segundo ministro, a agenda foi suspensa a pedido de Bolsonaro que esperar ter alta e quer reencontrar seus ministros na volta a Brasília, após 16 dias internado no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Além dele, também cancelaram a viagem o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e a ministra Damares Alves, da pasta Família, Mulher e Direitos Humanos.
— O presidente espera ter alta e nos pediu para esperá-lo aqui para despachar — justificou.
No fim de semana, uma reportagem publicada pela "Folha de S.Paulo" apontou que o PSL, partido do presidente, destinou R$ 400 mil de fundo partidário para Maria de Lourdes Paixão, de 68 anos, candidata a deputada federal de Pernambuco que recebeu apenas 274 votos. Na época, o ministro era presidente da legenda. Ele comandou o partido entre janeiro e outubro de 2018. Nesta quarta-feira, a Polícia Federal intimou a candidata a prestar depoimento sobre a suspeita de ter sido usada como laranja pelo PSL.
— Não tenho nenhuma responsabilidade sobre isso. A executiva nacional tem o dever de garantir que os recursos sejam distribuídos, mas é o diretório estadual que determina quem vai receber os valores — disse o ministro.
Bebianno afirmou que o deputado federal Luciano Bivar (PE), atual presidente do PSL e cujo grupo comanda a legenda em Pernambuco, é quem deve responder sobre Maria de Lourdes. Bivar a teria indicado para receber os recursos.
— Simplesmente não conheço a candidata. As explicações deve ser dadas por ela e por Bivar que a indicou. Tudo que a executiva nacional fez à época foi dentro da lei.
O ministro garante ter se envolvido pessoalmente para destinar recursos apenas para a candidata derrotada ao governo do Maranhão, Maura Jorge, e para as deputadas federais Joice Hasselmann (SP) e Dayane Pimental (BA), na época presidente do PSL Mulher. Bebianno disse que também quis enviar recursos para a deputada estadual Janaína Paschoal, que negou a oferta.
Um dos mais próximos aliados de Bolsonaro durante a campanha, Bebianno é desafeto do vereador Carlos Bolsonaro, filho mais próximo do presidente. O parlamentar carioca seria o responsável por advogar junto ao pai para que Bebianno tenha menos poder no governo.
Na transição, por exemplo, a Secretaria de Comunicação, área de interesse de Carlos, que tradicionalmente é subordinada à Secretaria-Geral da Presidência foi realocada para a Secretaria de Governo, comandada pelo ministro Carlos Alberto Santos Cruz.