Política Brasília

Bolsonaro diz que Bebianno terá que 'voltar às suas origens', se forem constatadas irregularidades

Ao ser questionado se havia conversado com o ministro, o presidente afirmou, em entrevista à Record TV, que era mentira
Presidente Jair Bolsonaro em entrevista na TV Record Foto: Reprodução
Presidente Jair Bolsonaro em entrevista na TV Record Foto: Reprodução

BRASÍLIA — O presidente Jair Bolsonaro afirmou, na noite desta quarta-feira, em entrevista ao Jornal da Record, que se o ministro Gustavo Bebianno , da Secretaria-Geral da Presidência, estiver envolvido no uso de candidatos do PSL como laranjas na campanha eleitoral de 2018, ele deverá sair do governo. O presidente afirmou ainda que não conversou com o ministro, como ele afirmou ao GLOBO na terça-feira : 'Mentira'.

— Se tiver envolvido (Bebianno), logicamente, e responsabilizado, lamentavelmente o destino não pode outro a não ser voltar às suas origens.

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Bolsonaro afirmou ainda que providências já foram tomadas sobre o caso e que a Polícia Federal já abriu uma investigação sobre o caso.

— O Sergio Moro tomou as providências, determinou que a Polícia Federal investigasse esse caso.

O presidente disse que o "pessoal (do PSL) tem que ter consciência". Bolsonaro disse que Moro tem carta branca para apurar qualquer crime sobre corrupção ou lavagem de dinheiro:

— Não são todos, é uma minoria do partido que está nesse tipo de operação que não podemos concordar — afirmou.

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Ao responder se falou com o ministro Bebianno sobre o assunto na noite de terça-feira, como o ministro afirmou ao GLOBO, Bolsonaro disse que em nenhum momento conversou com ele:

— Mentira. Sabe por que é mentira? Porque eu determinei que a Polícia Federal investigasse. Determinei ao Sergio Moro que, dentro da sua esfera e atribuição se fosse possível investigar, e está sendo investigado. Essa é a resposta que dou para todos aqueles que tentam praticar corrupção no Brasil.

No fim de semana, uma reportagem publicada pela "Folha de S.Paulo" apontou que o PSL, partido do presidente, destinou R$ 400 mil de fundo partidário para Maria de Lourdes Paixão, de 68 anos, candidata a deputada federal de Pernambuco que recebeu apenas 274 votos. Na época, Bebianno era presidente da legenda. Ele comandou o partido entre janeiro e outubro de 2018. Nesta quarta-feira, a Polícia Federal  intimou a candidata a prestar depoimento sobre a suspeita de ter sido usada como laranja pelo PSL.

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Em entrevista a Globonews, Bebianno negou ter cometido irregularidades, disse não vai pedir demissão e que o repasse de verbas do partido aos candidatos é responsabilidade dos diretórios estaduais.

— É muito difícil. É humanamente impossível eu saber de determinado candidato do Rio Grande do Sul, do Maranhão ou de Pernabuco e saber quanto cada candidato ganhou. Quem monta a chapa é o diretório estadual — disse o ministro.

Após um dia de rumores no Palácio do Planalto de que protagonizava uma nova crise do governo, Bebianno negou, na noite de terça-feira, que fosse motivo de instabilidade no executivo. Bebianno cancelou agenda programada para o dia, depois de almoçar com seus assessores no restaurante do Planalto e ter se recusado a dar declarações à imprensa. À noite, ele se reuniu com o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

— Não existe crise nenhuma.  Só hoje falei três vezes com o presidente — disse Bebianno ao GLOBO, afirmando que a conversa se deu por mensagens no WhatsApp.

Um dia depois da entrevista do ministro ao GLOBO, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, foi para as redes sociais para desmentir o comandante da Secretaria-Geral da Presidência .

A crise com Bebianno foi deflagrada após Carlos Bolsonaro expor nas redes sociais um áudio do presidente endereçado a Bebianno, que comandou a campanha eleitoral e presidiu o PSL no período de disputa.

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O filho do presidente, que não é do governo, postou a gravação no começo da tarde, enquanto o pai voava de São Paulo a Brasília, para mostrar a seus seguidores que o ministro teria mentido, ao dizer ao GLOBO que havia conversado com Bolsonaro sobre acusações envolvendo seu nome.

O gesto do filho do presidente desagradou a ala militar do Planalto, que viu no entrevero um desgaste desnecessário para o governo.

Bebianno disse que tinha conversado com Bolsonaro na terça-feira para rebater rumores de que estaria enfraquecido no cargo, após o jornal “Folha de S.Paulo” noticiar que o PSL fez repasses de dinheiro do fundo público para candidatos em Pernambuco, reduto eleitoral do atual presidente do PSL, Luciano Bivar, que foram direcionados para candidatos que apenas cumpriam a cota de 30% de mulheres na disputa. Uma gráfica que recebeu parte dos recursos também tem atuação suspeita.

— Gustavo, está complicado eu conversar ainda. Então não vou falar, não vou falar com ninguém a não ser estritamente o essencial. E estou em fase final de exames para possível baixa hoje, tá ok? Boa sorte aí — diz Bolsonaro, no áudio, cuja data e horário de envio não podem ser confirmados.

Durante toda esta quarta-feira, o Palácio do Planalto não se pronunciou oficialmente sobre o caso. No começo da noite, porém, o próprio Bolsonaro replicou em uma rede social a mensagem do filho, num gesto que foi interpretado como aval a Carlos contra o ministro, que foi um dos principais articuladores de sua campanha.

MOURÃO

Bolsonaro disse ainda que o vice-presidente passou com "certa tranquilidade" pelo período em que assumiu interinamente a Presidência, enquanto ele se passava por uma cirurgia no Hospital Albert Einstein.  O presidente afirmou ainda que não houve qualquer desconforto com seus filhos ou com a classe política quando Mourão assumiu.

— Ele (Hamilton Mourão) passou com certa, no meu entender, tranquilidade. O que pesa em alguns momentos é que ele dá umas escorregadas no tocante a adequação junto à mídia. Até porque falta o tato para tratar com vocês. Vou conversar de novo com Mourão.