Política Brasília

Maia liga para Guedes e diz que queda de Bebianno ameaçaria reforma da Previdência

Presidente da Câmara avalia que possível exoneração significaria falta de compromisso com Congresso
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia e o ministro da Economia, Paulo Guedes Foto: Jorge William/Agência O Globo/05-05-2019
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia e o ministro da Economia, Paulo Guedes Foto: Jorge William/Agência O Globo/05-05-2019

BRASÍLIA — O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ligou na manhã desta quinta-feira para o ministro da Economia, Paulo Guedes, para enviar um recado ao presidente Jair Bolsonaro: a possível queda da ministro Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência, pode atrapalhar a aprovação da reforma da Previdência. Segundo duas fontes ouvidas pelo GLOBO, Maia argumentou que, ao exonerar Bebianno, principal aliado durante a campanha, o presidente indicaria que não honrará compromissos com o Congresso.

A interlocutores, o presidente da Câmara avaliou que depois de entregar a aprovação da reforma da Previdência, Bolsonaro não hesitará em sufocá-lo politicamente, caso também entre em rota de colisão com os filhos.

Embora publicamente Maia tenha afirmado que não "se intrometerá em conflitos de parentes do presidente", ele argumentou com Guedes que tem bom relacionamento com Bebianno, elogiado por ele após ser reeleito para a Presidência da Câmara. O ministro, embora comandando uma pasta esvaziada, se aproximou do parlamentar e passou a ser visto como uma alternativa ao chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, cuja relação com Maia está estremecida desde que atuou nos bastidores para impedir a releição dele à presidência da Câmara.

A atuação de Maia em favor de Bebianno foi tratada na madrugada desta quinta-feira em conversas de WhatsApp e em um encontro de aliados do ministro que articulam para evitar a queda do ministro e conter a instabilidade no Palácio do Planalto.

Nesta quinta-feira, Bolsonaro recebe Onyx e Guedes no Palácio da Alvarada. Em entrevista à TV Rercord na noite de quarta-feira, o presidente prometeu para hoje "bater o martelo sobre a reforma."

Mais cedo, o presidente recebeu os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Carlos Alberto Santos Cruz (Secretaria de Governo) e Gustavo Canuto (Desenvolvimento Regional), além do deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), líder do governo na Câmara. Todos sairam do local sem dar entrevistas.

O Palácio do Planalto tem nesta quinta-feira um clima de expectativa sobre o desfecho da crise. A aliados, Bebianno não tem demostrado a intenção de deixar o cargo voluntariamente, cedendo à pressão do vereador Carlos Bolsonaro, filho mais próximo do presidente.

O ministro espera conversar pessoalmente com o presidente e se defender da acusação de que participou de um esquema de candidaturas laranjas, conforme reportagem publicada pela "Folha de S.Paulo" no último domingo. Segundo o texto, o PSL destinou R$ 400 mil de fundo partidário para Maria de Lourdes Paixão, de 68 anos, candidata a deputada federal de Pernambuco que recebeu apenas 274 votos . A Polícia Federal passou a investigar o caso.

Na época, Bebianno era presidente da legenda. Ele comandou o partido entre janeiro e outubro de 2018, mas alega que cabe ao deputado federal Luciano Bivar, atual presidente da legenda e responsável pelo diretório de Pernambuco, para explicar as acusações.

Nas conversas que vem mantendo com assessores e aliados, Bebianno afirmou que se manterá em silêncio sobre as declarações de Bolsonaro, "respeitando o cargo que ainda mantém como secretário-geral da Presidência."