O presidente autoproclamado da Venezuela, Juan Guaidó, no Palácio do Planalto — Foto: Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo
O autodeclarado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, afirmou durante entrevista em Brasília nesta quinta-feira (28) que, mesmo diante de ameaças que diz receber do regime de Nicolás Maduro, retornará à Venezuela até a próxima segunda-feira (4).
Principal líder da oposição ao governo de Maduro, Guaidó chegou a Brasília na madrugada desta quinta. Pela manhã, se reuniu com diplomatas de países da União Europeia.
À tarde, encontrou-se com o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro. Depois da reunião, os dois fizeram um pronunciamento no Palácio do Planalto. Após o pronunciamento, Juan Guaidó concedeu entrevista a jornalistas brasileiros e estrangeiros.
"Como todos sabem, eu recebi ameaças pessoais, familiares e também ameças de encarceramento por parte do regime de Maduro. Mesmo assim isso não vai evitar o nosso retorno à Venezuela, neste fim de semana, no mais tardar na segunda-feira", disse o autoproclamado presidente da Venezuela.
Segundo o líder oposicionista, a resposta do regime de Maduro às reivindicações da oposição e do "povo venezuelano", não pode seguir sendo "repressão, perseguição, massacrar indígenas, como fizeram em Santa Elena de Uairén".
Durante a entrevista, Guaidó repetiu que a Venezuela vive um regime de ditadura que persegue e prende adversários políticos.
Ele acusou o governo Maduro de queimar alimentos e medicamentos que seriam destinados ao povo venezuelano, como forma de impedir a ajuda humanitária oferecida por países que não reconhecem mais o governo do atual presidente.
"A Venezuela está entre dois caminhos: a ditadura e a democracia", enumerou.
Segundo Guaidó, no momento a Venezuela tem cerca de mil presos políticos. E, segundo ele, mais de mil exilados que continuam a luta “cada vez mais intensa” pela democracia no país.
“A fórmula de violência, a fórmula da perseguição, não funciona e não está funcionando. Só está atrasando o inevitável: uma transição democrática na Venezuela”, disse o líder da oposição.
Guaidó ressaltou que nos últimos cinco anos foram tentados três processos de negociação com Maduro, a fim de assegurar eleições livres no país, com a possibilidade de observação internacional e de auditoria do resultado.
“A exigência do povo da Venezuela era uma eleição livre, com um árbitro imparcial, o direito de eleger e de ser eleito”, declarou, acrescentando que a prisão de adversários políticos e de concorrentes de Maduro em processos eleitorais "não pode ser parte de uma eleição livre".
Em meio à crise na Venezuela, Jair Bolsonaro recebe Juan Guaidó no Palácio do Planalto
'Risco'
Guaidó declarou que "durante anos" o exercício da política em seu país foi "criminalizado", com perseguições e assassinatos políticos. Segundo ele, apenas essa perseguição não é criminalizada no país, o que representa um risco para quem faz política.
"Claro que há um risco, inclusive de vida, o exercício da política na Venezuela, mas também temos um dever, resolvemos entregar nossa vida ao serviço de um país", disse.
O líder de oposição defendeu a busca por eleições livres e declarou que seu movimento não desistirá, pois está "perto" do triunfo.
"Vamos seguir insistindo porque estamos cada vez mais perto desse triunfo da democracia na Venezuela e na região", declarou.
Itamaraty
À noite, Guaidó foi até o Palácio Itamaraty para um jantar oferecido pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
Durante o jantar, ele deixou o palácio para falar com um grupo de venezuelanos que estava na porta do local. Ele reafirmou que, apesar das ameaças que vem recebendo, voltará à Venezuela ainda nesta semana.
Guaidó também ressaltou que irá ao Paraguai nesta sexta-feira (1º) para uma reunião com o presidente Mario Abdo Benítez. A previsão é de que o líder oposicionista deixe Brasília logo cedo em direção a Assunção, capital paraguaia.
O autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, fala com um grupo de venezuelanos na porta do Palácio Itamaraty, em Brasília — Foto: Alvaro Costa/TV Globo
Crise na Venezuela
O Brasil está entre os países que não reconhecem a legitimidade de Maduro como presidente da Venezuela.
O país enfrenta uma profunda crise política, econômica e social, com a inflação acima de 1.000.000% ao ano; milhares de pessoas fugindo do país para outras regiões da América do Sul; e líderes da oposição denunciando perseguição política.
Na semana passada, Maduro determinou o fechamento da fronteira da Venezuela com o Brasil, em Pacaraima (RR).
O presidente venezuelano se diz vítima de uma tentativa de golpe por parte do Grupo de Lima, do qual o Brasil faz parte, e afirma que os Estados Unidos comandam uma "perseguição ilegal" contra o governo dele.
* Colaborou Hamanda Viana, da TV Globo