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Maduro tem vitória relativa na disputa política da Venezuela

Presidente Nicolás Maduro em reunião com representantes de seus países aliados em Caracas

O ditador Nicolás Maduro ganhou este round na disputa contra a oposição liderada por Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino da Venezuela por 50 países, incluindo o Brasil e os EUA. Não houve uma deserção em massa de militares como esperavam os opositores e as nações aliadas quando tentaram enviar ajuda humanitária através das fronteiras brasileira e colombiana.

Se levarmos em conta a posição de Guaidó há uma semana e agora, houve um enfraquecimento do opositor. O momento crucial dele era no fim de semana passado. Houve impacto internacional, sem dúvida, diante da violenta repressão imposta pela ditadura venezuelana. Mas Maduro se sustentou no poder, viu poucas deserções e pôde cantar vitória.

Passados alguns dias, os holofotes da mídia e mesmo do governo dos EUA deixaram de mirar em Caracas. Outros temas geopolíticos ofuscaram, ao menos temporariamente, a crise venezuelana. Donald Trump se reúne no Vietnã com o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e pode haver anúncios históricos hoje. Não muito distante dali, Paquistão e Índia, duas potências nucleares, entraram em atrito e há o temor de uma escalada militar.

Para completar, Guaidó também se equivocou ao deixar a Venezuela. Sua decisão de sair é compreensível, mas teria sido melhor permanecer dentro do território venezuelano, liderando a oposição em manifestações contra a ditadura. Agora, se o líder opositor tentar voltar, pode ser preso pelo regime de Maduro. Seu destino não seria distinto do de seu mentor e amigo Leopoldo López, que liderava a oposição até acabar na prisão. Se permanecer no exterior, Guaidó pode ficar no circuito diplomático, mas, aos poucos, pode perder força internamente na Venezuela.

Maduro, por sua vez, não deveria se entusiasmar, apesar de claramente ter resistido ao desafio da oposição. O mundo viu nos últimos dias a dimensão da sua repressão. Seu regime corrupto e incompetente segue extremamente impopular. Nas ruas, muitos venezuelanos são obrigados a buscar comida nos lixos. Difícil ver um futuro para esta ditadura.

Ao longo das últimas semanas, tenho delineado aqui cinco cenários para o futuro da Venezuela: 1) Maduro é deposto e Guaidó lidera uma transição para a democracia; 2) Maduro é deposto e militares assumem o poder; 3) Governos paralelos; 4) Maduro sobrevive; 5) Guerra civil.

Comparado a uma semana atrás, o primeiro cenário, que seria o mais positivo para a democracia, tem probabilidade menor de ocorrer. Mas aumentou levemente o de militares assumirem o poder se Guaidó não retornar ao país. Os generais podem calcular que seria o melhor cenário para eles, pois se livrariam de Maduro e poderiam negociar uma anistia para seus crimes estando no comando em Caracas. O cenário de governos paralelos sempre foi algo simbólico e será ainda mais caso Maduro permaneça no poder.

Maduro conseguiu sobreviver mais um pouco, mas terá de recorrer a cada vez mais repressão. Neste sentido, aumentaria o risco de guerra civil, especialmente se parte da oposição se radicalizar e desistir da via pacífica para derrubar o ditador.

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