'Hoje é o dia da libertação', diz Trump ao anunciar 'tarifas recíprocas' de 10% a produtos importados do Brasil
A taxa aplicada para o Brasil será uma das menores. Presidente confirmou taxação de 25% de todos os carros fabricados fora dos EUA
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RESUMO
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GERADO EM: 02/04/2025 - 18:34
Trump Impõe Tarifa de 10% sobre Produtos Brasileiros em Nova Medida Econômica
O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou tarifas recíprocas sobre produtos importados, incluindo uma taxa de 10% para itens brasileiros, considerada a menor. A medida, parte de uma política protecionista, impõe 25% sobre automóveis estrangeiros e taxas variáveis para outros países, como 34% para a China. Trump afirma que a iniciativa visa defender a economia americana e corrigir desequilíbrios comerciais históricos.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cumpriu hoje a promessa de anunciar "tarifas recíprocas" de ao menos 10% para produtos estrangeiros importados pelos americanos.
O Brasil é um dos países que terão seus produtos taxados nos EUA em 10%, o percentual mais baixo do pacote. O caráter linear das tarifas foi adiantado ontem pela colunista do GLOBO Míriam Leitão.
A Casa Branca informou que novas tarifas entram em vigor em 5 e 9 de abril. Em um discurso de quase uma hora nos jardins da Casa Branca no fim da tarde de hoje, Trump repetiu várias vezes que "hoje é o Dia da Libertação".
Antes, Trump confirmou que vai impor 25% de tarifas a todos os automóveis fabricados fora dos EUA a partir de meia-noite. Ele já havia mencionado essa medida na semana passada e a confirmou hoje. Esses produtos ficam fora das "tarifas recíprocas", assim como aço e alumínio, que igualmente já haviam sido taxados em 25% por Trump.
O governo dos EUA vai aplicar 10% de tarifas para produtos de países como Brasil, Cingapura e Reino Unido. O maior peso recaiu sobre países asiáticos. Economias como China, Vietnã, Camboja e Taiwan terão seus itens taxados em mais de 30%.
Não houve mudança no caso de Canadá e México, vizinhos dos EUA com quem integram uma zona de livre-comércio, que já tiveram seus produtos vendidos aos EUA taxados em 25% no mês passado.
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Também estão no grupo de países taxados em 10% outros latino-americanos como Colômbia, Argentina, Chile, Peru, Costa Rica, República Dominicana, Equador, Guatemala, Honduras e El Salvador. A Nicarágua, governada pelo opositor de Trump Daniel Ortega, sofrerá taxação de 18% sobre todos os seus produtos enviados aos EUA.
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Para a China, por exemplo, a tarifa será de 34%. Camboja tem uma das maiores taxas: 49%. O Japão e a Índia, aliados geopolíticos e econômicos dos EUA, terão seus produtos tarifados em 24% e 26%, respectivamente.
— Vou assinar uma ordem executiva histórica instituindo tarifas recíprocas a países de todo o mundo. Uma reciprocidade que significa: se eles fazem conosco, vamos fazer com eles — disse Trump na Casa Branca. — Este é um dos dias mais importantes, na minha opinião, na história dos Estados Unidos.
Brasil fica com tarifa básica
Segundo a Casa Branca, a política de Trump estabelecerá uma tarifa básica de 10% sobre todos os produtos de todos os países, exceto aqueles que estiverem em conformidade com o acordo de livre-comércio USMCA entre México, Canadá e Estados Unidos (os produtos que não estiverem em conformidade continuarão a ser cobrados a uma taxa de 25%).
Os importadores de mercadorias de outros países começarão a pagar a tarifa básica de 10% no sábado, às 12h01 (horário de Brasília). Entre eles estão os produtos que vão do Brasil para os EUA.
Um grupo de cerca de 60 países, que as autoridades seniores do governo Trump rotularam de “piores infratores”, receberá uma tarifa de metade da taxa que cobram dos Estados Unidos. Essas tarifas recíprocas entrarão em vigor em 9 de abril, às 12h01 (horário de Brasília).
O republicano afirmou que os EUA são tratados de forma injusta no comércio mundial há mais de 50 anos com tarifas sobre produtos americanos e barreiras não tarifárias e que "isso não vai mais acontecer". Além disso, ele se queixou de que vários países subsidiam suas exportações.
— Hoje é o dia da independência econômica dos EUA — afirmou. — Em algum momento vou assinar uma ordem executiva determinando tarifas recíprocas para outros países.
Remédios ficaram fora
Medicamentos e outros produtos — incluindo alguns já sujeitos a tarifas anteriores — não estão incluídos nas novas taxas, segundo uma ficha técnica divulgada pela Casa Branca. No entanto a indústria farmacêutica pode ser alvo de outras tarifas no futuro.
O presidente americano diz que suas medidas protecionistas têm como objetivo estimular a produção nos EUA, mas há um temor entre economistas de que tornem produtos mais caros para os americanos, gerando inflação.
— Vamos produzir os carros e navios, chips, aviões, minerais e medicamentos de que precisamos bem aqui na América — disse Trump ao anunciar as novas tarifas. — As empresas farmacêuticas vão voltar com tudo, estão voltando com tudo, todas estão voltando para o nosso país porque, se não voltarem, vão pagar um imposto pesado. E, se voltarem, eu vou ficar muito feliz.
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Trump alegou que uma maior produção interna vai representar uma inflação menor para os americanos, apesar de vários especialistas alertarem que as tarifas devem fazer justamente o contrário, encarecer os preços domésticos nos EUA.
O presidente americano disse que suas medidas vão incluir tarifas “não monetárias”, mas não detalhou. Trump alegou que os parceiros comerciais manipulam seus câmbios e adotam restrições referentes a exigências ambientais e à propriedade intelectual que punem as empresas americanas.
Durante o seu discurso, o presidente exibiu uma tabela com exemplos de altas tarifas cobradas por vários países sobre produtos americanos que ingressam em suas economias.
— Eu não os culpo por fazerem isso, na verdade estão sendo bastante inteligentes. Eu culpo quem esteve antes bem aqui, no Salão Oval, dizendo que isso está tudo bem.
Discurso eleitoral
O presidente afirmou que “em 1929, tudo chegou a um fim muito abrupto com uma Grande Depressão, e isso nunca teria acontecido se eles tivessem continuado com a política tarifária”. Foi uma referência às críticas de vários economistas de que a política protecionista de Trump repete os erros do governo americano nos anos 1930, agravando a crise com tarifaço.
Trump indicou estar consciente de que os países atingidos vão retaliar. E manifestou apoio aos agricultores, parte de sua base eleitoral. Esse é um grupo que pode ser o primeiro a sentir os efeitos das tarifas retaliatórias de outros países, uma vez que essas nações prometem taxar os grãos e outras commodities dos EUA. Mesmo assim, ele sustenta que suas medidas são boas para o agronegócio americano:
— Com as ações de hoje, também estamos defendendo nossos grandes agricultores e pecuaristas que são brutalizados por nações em todo o mundo.
Donald Trump vê as questões tarifárias como uma espécie de emergência nacional para reduzir o déficit comercial dos EUA, que alcançou US$ 918 bilhões em bens e serviços importados no ano passado. Ao declarar emergência nacional, ele ficou autorizado a tomar medidas unilaterais com base na Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional como a imposição de tarifas comerciais.
Repetindo o discurso de sua campanha eleitoral, no ano passado, Trump disse que está tomando uma posição e “finalmente colocando os Estados Unidos em primeiro lugar” durante os comentários que antecederam a assinatura de seu plano de tarifas recíprocas.
— Hoje estamos defendendo o trabalhador americano e estamos finalmente colocando os Estados Unidos em primeiro lugar — afirmou.
O presidente afirmou que os EUA cuidam “de países de todo o mundo” e então “quando você quer reduzir um pouco, eles ficam chateados por você não estar mais cuidando deles”. Ele disse ainda que as tarifas são um sinal de que “vamos cuidar primeiro de nosso povo”.
— Nós realmente podemos ser muito ricos. Podemos ser muito mais ricos do que qualquer outro país, não dá nem para acreditar, mas estamos ficando espertos — disse Trump.