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Mundo Venezuela

Dia 'D' mostra que guerra entre Maduro e Guaidó está longe de terminar, diz analista venezuelano

Diretor do Instituto Datanálisis diz que só deserção em massa de militares, que ainda não ocorreu, pode determinar derrota do governo
Venezuelanos confrontam policiais na ponte de Símon Bolívar, na fronteira entre Colômbia e Venezuela Foto: SCHNEYDER MENDOZA 23-02-2019 / AFP
Venezuelanos confrontam policiais na ponte de Símon Bolívar, na fronteira entre Colômbia e Venezuela Foto: SCHNEYDER MENDOZA 23-02-2019 / AFP

RIO — A oposição venezuelana obteve neste sábado uma “pequena vitória” em sua guerra com o governo do presidente Nicolás Maduro, essencialmente, porque a partir de agora poderá responsabilizar o Palácio de Miraflores por um violento boicote à entrada de ajuda humanitária, num país onde 80% da população vive abaixo da linha da pobreza. Venceu-se uma batalha, apontou o analista venezuelano Luis Vicente León, diretor do Instituto diretor da Datanálisis. Segundo ele, a menos que ocorra algo inesperado, a guerra ainda está longe de terminar e, como todo conflito, está custando vidas.

Depois de um dia de violência, repressão, mortes e caminhões incendiados, é inevitável perguntar-se quem ganhou e quem perdeu…

LUIS VICENTE LEÓN: Devemos entender o que estamos vendo como uma guerra. Se alguém esperava que Maduro caísse, foi um fracasso. Se achavam que a ajuda humanitária levaria a uma intervenção estrangeira, foi um fracasso. Se imaginavam que abririam as fronteiras, outro fracasso. Mas a verdade é que nada disso deveria ter sido esperado. Esta era uma batalha que a oposição não podia perder, mas sua vitória é pequena.

Qual foi essa vitória?

LEÓN: Mostrar ao mundo um governo que boicota um canal humanitário num país onde as pessoas estão morrendo de fome e por falta de remédios. Como fará agora o presidente para continuar acusando os Estados Unidos e suas sanções de serem os culpados pela crise econômica? Maduro perdeu um discurso que era central e vai pagar por isso. Mas o presidente conseguiu minimizar os custos desta pequena derrota, porque manteve o controle territorial. Digamos, Maduro preservou esse controle, não ganhou nada novo. E perdeu argumentos discursivos.

E a oposição?

LEÓN: Por um lado, conseguiu poucas deserções de militares. A esperada fratura militar ainda não aconteceu e sem ela nada acontecerá. Os caminhões poderiam ter entrado, mas sem uma deserção em massa nada mudará em termos de poder. Agora, não sabemos como estão as coisas dentro das Forças Armadas, o que sabemos é que ainda há coesão a favor de Maduro. Para conseguir essa ruptura é necessário um acordo de anistia mais confiável para os militares, com nome e sobrenome. A posição está melhor posicionada do que ontem, obteve um triunfo menor. Mas o cenário não mudou e é assim que terminam as batalhas, a menos que seja a última.

A ruptura de relações diplomáticas com a Colômbia era esperada?

LEÓN: Sim, mais cedo ou mais tarde. Depois virão rupturas com o Brasil e os EUA.

E agora, como continuar?

LEÓN: Imagino que a oposição continuará tentando levar a ajuda humanitária para a Venezuela, buscando caminhos alternativos. Talvez tentem entrar individualmente e só mostrem os resultados quando as doações já estiverem dentro do país. Deverão pensar opções alternativas e criativas.

Para muitos, esse canal humanitário é, no fundo, uma jogada política?

LEÓN: Claro, é uma estratégia política, mas num país que precisa de ajuda. É uma jogada para pressionar Maduro e os militares, mas também tem como objetivo ajudar um povo que precisa de uma mudança. A verdadeira ajuda humanitária é a saída de Maduro do poder.

Uma jogada que custou várias vidas…

LEÓN: Estamos em guerra, a oposição está tentando tirar um governo do poder. Um governo que considera usurpador. Lamentavelmente morreram e morrerão pessoas. O ideal teria sido uma negociação política, mas é inviável. Estar em guerra implica custos e perdas de vidas humanas.