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Casos de feminicídio inspiram 'Dama de paus', romance vencedor de prêmio da Amazon

Depois de três livros publicados por grandes editoras, a autora Eliana Cardoso decidiu lançar obra de forma independente
Autora de "Dama de Paus", Eliana Cardoso ganha o prêmio Kindle de Literatura Foto: Renato Paraschin / Divulgação
Autora de "Dama de Paus", Eliana Cardoso ganha o prêmio Kindle de Literatura Foto: Renato Paraschin / Divulgação

SÃO PAULO — O romance "Dama de paus", de Eliana Cardoso, é o vencedor da terceira edição do Prêmio Kindle de Literatura, que recompensa narrativas longas inéditas publicadas em e-book no Kindle Direct Publishing (KDP), plataforma de autopublicação digital da Amazon.

O resultado foi anunciado na manhã desta terça, 26, em cerimônia na Casa do Saber de São Paulo. A autora receberá R$ 30 mil e terá seu romance publicado em livro físico pela editora Nova Fronteira.

— Ontem à noite, tive certeza que não ia levar. Mas dei sorte. A vida tem dessas surpresas — diz a autora, de 74 anos, que teve seus dois primeiros livros publicados pela Companhia das Letras: a novela "Bonecas russas", de 2014, e "Nuvem negra", de 2016. Sua terceira obra, "Sopro na Aragem" (2017), saiu pela editora Córrego. Com "Dama de paus", é a primeira vez que a autora decide publicar de forma independente.

— Acho que as editoras são de muito difícil acesso, e a KDP é absolutamente democrática — diz Eliana. — Qualquer pessoa que sabe apertar o botãozinho pode publicar seu livro.

Crime de honra à moda antiga

"Dama de paus" intercala diversas histórias e vozes femininas para desvendar os segredos de um crime do passado. Após o velório de sua neta, Damiana revê sua trajetória e de suas filhas, enquanto lê o testamento e ouve uma conversa alheia pela porta entreaberta do quarto. A complexa teia narrativa joga uma nova luz sobre o que parecia ser um crime de honra à moda antiga.

Economista de formação, Eliana Cardoso nasceu em Belo Horizonte, em 1944. Doutora em economia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), trabalhou para o Banco Mundial em países da Ásia e da América Latina.

Autora de diversos livros de economia, ela abandonou a carreira acadêmica para se dedicar à literatura.

— Cada um dos livros que escrevi passou por um processo diferente — conta Eliana. — No caso de "Dama de paus", foi inspirado em uma história que me deixou muito chocada quando era jovem em Minas Gerais na década de 1970. Houve uma série de crimes em que todos os maridos foram absolvidos por crime de honra. Houve um caso em que uma mulher foi assassinada não pelo marido, e sim pelo ex-marido. Na casa dela. O advogado usou como argumento legítima defesa da honra de terceiros. Isso me deixou tão chocada que a história me acompanhou a vida inteira.

Imortal da ABL estava entre os jurados

Mais de 1.200 autores de todo o Brasil se inscreveram nesta edição do prêmio, submetendo mais de 1.500 títulos inéditos entre agosto e outubro de 2018. As obras foram publicadas no KDP em uma categoria categoria Select, específica para a premiação. Todas estão à venda para e-book na plataforma.

Eliana superou outros quatro finalistas: Bruno Loureiro Mahé ("O registro"), N. R. Melo ("O som do fim do túnel"), Maria José Silveira ("Terra sem males: Um romance fantasia"), Maria de Regino ("Três luas de verão e uma figueira encantada"). O júri final foi composto pela escritora e jornalista Sônia Rodrigues e o poeta e imortal da Academia Brasileira de Letras Antonio Carlos Secchin.

"Eliana Cardoso demonstra grande maestria na alternância de plano espaciais e temporais do relato, numa linguagem despojada a serviço de um enredo extremamente bem urdido, onde as únicas certezas é a persistência da dúvida", diz trecho de justificativa de Secchin.

Os vencedores das edições anteriores foram Mauro Maciel, por "Memorial do desterro" (2018) e Gisele Mirabai, por "Machamba" (2017) , que na sequência também foi finalista do Prêmio Jabuti de 2018 na categoria romance.

* Bolívar Torres viajou a convite da Amazon