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Política Lava-Jato

Análise:Delação da OAS reforça apelo pela aprovação do pacote de Moro

Primeiro grande acordo firmado pela gestão de Raquel Dodge na PGR atinge uma série de partidos
Obra da OAS Foto: Dado Galdieri / Bloomberg
Obra da OAS Foto: Dado Galdieri / Bloomberg

BRASÍLIA - Ao longo dos últimos cinco anos, os investigadores da Operação Lava-Jato descobriram quase tudo o que havia para ser revelado sobre o funcionamento do esquema de corrupção que capturou grandes espaços da máquina federal nos governos petistas de Lula e Dilma Rousseff. A divisão de contratos bilionários da Petrobras e do setor elétrico entre um clube de empreiteiras que abasteciam clandestinamente os bolsos e as campanhas de políticos influentes da República levou dezenas de mandatários, empresários e burocratas do serviço público à prisão. A história, no entanto, segue em construção.

Nesta quarta-feira, O GLOBO revela com exclusividade parte do conteúdo da delação dos executivos da OAS que administraram, entre 2010 e 2014, a “Controladoria de Projetos Estruturados”, como era chamado na empreiteira o setor clandestino de pagamento de propinas e repasses de caixa dois a políticos de diferentes partidos. Se não avança na trama nacional, a delação cumpre um importante papel ao abrir detalhes inéditos de como o método descoberto pela Lava-Jato também serviu para desviar recursos públicos e corromper políticos em diferentes estados, fraudar contratos de diferentes obras, em macular a disputa de diferentes eleições.

A pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), os relatos dos delatores, registrados em mais de 200 depoimentos, foram distribuídos pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal, a instâncias judiciais de pelo menos noves estados, dando a dimensão do que ainda poderá ser investigado e descoberto contra oligarquias políticas regionais. A OAS distribuiu pelo menos R$ 125 milhões a uma série de políticos país afora. As histórias narradas pelos ex-executivos reavivam no imaginário nacional temas que fazem parte da pauta atual do Congresso, mas que estavam relegados à militância solitária do ministro da Justiça, Sergio Moro, nos últimos tempos.

Ao revelar a extensão do caixa dois da empreiteira, que alimentou campanhas dos principais políticos e partidos na cúpula do poder, entre 2010 e 2014, os delatores da OAS mostram que a discussão da criminalização do caixa dois, em pauta no Parlamento, é algo que deve ser discutido logo. O pagamento periódico de propinas milionárias e de mesadas a servidores públicos também reforça o apelo de um dos projetos do pacote de Sergio Moro, que prevê o cumprimento da pena em regime fechado para condenados por corrupção. E há ainda a prisão em segunda instância, tema crucial para garantir que a impunidade não prevaleça em processos contra poderosos.

A delação da OAS, primeiro grande acordo firmado pela gestão de Raquel Dodge na PGR, atinge uma série de partidos, o que desde já pode representar um obstáculo ao avanço dessas pautas anticorrupção no Parlamento. A lista de corrompidos pela empreiteira, no entanto, não deve parar de crescer. Se a delação dos integrantes do setor de propina revelou a logística de pagamento a uma infinidade de políticos, a delação do ex-presidente da empreiteira Léo Pinheiro, em fase de produção de provas na PGR, pode ampliar ainda mais a trama, acrescentando à história detalhes dos acordos até então desconhecidos firmados por trás dos repasses de valores.

como funcionava o esquema
Com contratos bilionários no Brasil e no exterior, a OAS distribuiu entre 2010 e 2014 cerca de R$ 125 milhões em propinas e repasses de caixa dois
delatores: oito
ex-funcionários
da empreiteira
Empreiteira
OAS
1
delatores
R$ 125
Em delação, oito ex-funcionários explicaram como atuavam na "Controladoria de Projetos Estruturados", o departamento clandestino da OAS que cuidava das propinas
milhões
é o valor estimado
das propinas e repasses de
caixa dois entre 2010 e 2014
2
3
políticos envolvidos
obras superfaturadas
Políticos
facilitavam o
superfaturamento
de obras e
contratos
Os delatores revelaram os nomes dos políticos e as campanhas financiadas irregularmente
Em troca das propinas e repasses de campanha, os políticos atuavam pelos interesses da empreiteira
O esquema ilegal da construtora envolvia o superfaturamento de obras emblemáticas, como:
• Estádios da Copa de 2014
• Transposição do Rio São Francisco
• Porto Maravilha, no Rio
• Ferrovia de Integração Oeste-Leste
• Empreendimentos no exterior
como funcionava
o esquema
Com contratos bilionários no Brasil e no exterior, a OAS distribuiu entre 2010 e 2014 cerca de R$ 125 milhões em propinas e repasses de caixa dois
1
delatores
Em delação, oito ex-funcionários explicaram como atuavam na "Controladoria de Projetos Estruturados", o departamento clandestino da OAS que cuidava das propinas
delatores: oito
ex-funcionários
da empreiteira
Empreiteira OAS
R$ 125
milhões
é o valor estimado
das propinas e repasses de
caixa dois entre 2010 e 2014
21 Políticos envolvidos
2
políticos envolvidos
Os delatores revelaram os nomes dos políticos e as campanhas financiadas irregularmente
3
obras superfaturadas
Em troca das propinas e repasses de campanha, os políticos atuavam pelos interesses da empreiteira
O esquema ilegal da construtora envolvia o superfaturamento de obras emblemáticas, como:
• Estádios da Copa de 2014
• Transposição do Rio São Francisco
• Porto Maravilha, no Rio
• Ferrovia de Integração Oeste-Leste
• Empreendimentos no exterior