Política

Análise diz que lama do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho matou o Rio Paraopeba

Estudo técnico da Fundação SOS Mata Atlântica não encontrou sinal de vida aquática nos 305 quilômetros do rio e seus afluentes
PA Brumadinho (MG) 20/02/2019 - 30 dias do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. Foto Alexandre Cassiano / Agência O Globo. Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo
PA Brumadinho (MG) 20/02/2019 - 30 dias do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. Foto Alexandre Cassiano / Agência O Globo. Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo

RIO — A lama do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho matou o Paraopeba afirma uma análise do rio feita por técnicos da Fundação SOS Mata Atlântica. Não há sinal de vida aquática em 305 quilômetros do rio e seus afluentes percorridos por uma equipe da fundação. O estudo destaca que a água do Paraopeba está imprópria para o consumo humano e de animais, irrigação e lazer em toda a extensão do rio, afetando 21 municípios de Minas Gerais. Foi identificada ainda a contaminação por quatro metais pesados: ferro, cromo, cobre e manganês, todos nocivos à saúde, salienta a coordenadora do estudo, Malu Ribeiro.

— É muito duro assinar um estudo que, na prática, é o atestado de óbito do rio. A qualidade da água ao longo de 21 municípios oscila de péssima a ruim. A onda de lama teve um efeito devastador sobre o meio ambiente e tudo o que dele depende, como a água potável — destaca Malu.

Os técnicos analisaram a água de 22 pontos, de 31 de janeiro a 9 de fevereiro. Malu Ribeiro coordena há três anos estudos sobre os rios da Bacia do Rio Doce devastados pelo rompimento da barragem de rejeito de Fundão, em Mariana, da Samarco, controlada pela Vale e a BHP Billiton.

— É como se fosse um pesadelo contínuo. O tipo de rejeito é um pouco diferente, mas a devastação é imensa. Não há peixes nem quaisquer outros animais no rio —  lamenta Malu.

Na verdade, peixes foram encontrados mortos em árvores e encostas a mais de um quilômetro de distância do Ribeirão Ferro-Carvão, em Córrego do Feijão, e do Paraopeba, dizem os pesquisadores.

O Paraopeba é extremamente sinuoso, o que facilitou o acúmulo de rejeito em meandros e remansos. A pesquisa observa que as barreiras de contenção instaladas pela Vale para conter o fluxo de sedimentos e permitir a captação de água não alcançaram o resultado desejado. "Os valores de turbidez (indicam a concentração de sedimentos) medidos 500 metros a jusante desses barramentos superaram em 3,6 vezes o limite máximo definido na legislação", diz o estudo. A chuva que tem caído na região aumentou ainda mais o fluxo de lama pelo rio.

— As estações de tratamento de água existentes hoje ao longo do Paraopeba não estão preparadas para esse tipo de poluição. Para usar essa água será necessário mudar os métodos, o que tem custo _ observa Malu Ribeiro.

As barragens da termelétrica de Ibirité e da hidroelétrica de Retiro Baixo que, de início, conseguiram reter mais rejeitos pesados, com as chuvas perderam parte da eficiência, pois o fluxo rejeitos mais finos aumentou.  Segundo Malu Ribeiro, a lama já chegou ao lago da Hidroelétrica de Três Marias, no Rio São Francisco. A Agência Nacional de Águas (ANA), porém, afirma que os dados mais recentes disponíveis, do dia 24, não indicam alteração significativa da qualidade da água depois de Retiro Baixo.

Malu Ribeiro diz ser impossível estimar agora se será possível recuperar o Paraopeba e quanto tempo isso levará e que impacto o rejeito poderá ter no São Francisco, mesmo que em pouca quantidade.

— Assistimos à morte lenta de nossos rios, como o São Francisco, há anos. A lama da Vale foi um golpe letal no Paraopeba e agora temos um cenário ainda mais dramático com consequências por muitos anos — frisa a pesquisadora.