'Ainda há muito o que avançar', diz Jungmann sobre apuração do caso Marielle

Ministro da Segurança Pública na época do assassinato, ele questionou o fato de a investigação não ter sido federalizada

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Por Julia Lindner
Atualização:
Jungmann diz que caso não está encerrado Foto: Werther Santana/Estadão

BRASÍLIA - Ministro da Segurança Pública na época do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), Raul Jungmann questiona o fato de a investigação não ter sido federalizada e diz que "ainda tem muito o que avançar". Mesmo após a prisão de dois suspeitos da execução, nesta terça-feira, 12 Jungmann considera que "não dá para dizer que o caso está encerrado". Segundo ele, os investigadores ainda não apresentaram indícios suficientes da motivação do crime.

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"Os indícios são suficientes para pedir a prisão dos dois, mas não para dizer que está encerrado o caso", disse Jungmann ao Estadão/Broadcast. Segundo ele, a alegação de que houve crime de ódio pelo fato de Marielle ser de esquerda, como sugeriu o delegado do caso, Giniton Lages, "precisa ter suporte fático". "Imaginar que dois milicianos resolveram matar a Marielle por causa da agenda que ela defendida... Tudo bem, pode ser possível, mas tem de ser provado." A denúncia do MP vai na mesma direção da explicação do delegado e acrescenta que a ação foi típica de queima de arquivo e mostrou "desprezo pela vida".

Poucos dias antes de o crime completar um ano, foram presos na manhã desta terça-feira, 12, os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Vieira de Queiroz, acusados de matar a vereadora e o motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018. O Ministério Público não descarta haver um mandante do crime.

Para o ex-ministro da Segurança Pública, a hipótese de que o crime tenha sido motivado por ódio eliminaria a possibilidade de haver mandantes. "Alguém passa três meses montando um crime, com todo o custo, com todo o risco, por motivação ideológica, pode até ser, mas é preciso que tenha provas e que se demonstre a consistência disso. Até aqui isso não foi algo posto, colocado ou dito", reforçou.

Sobre as investigações, também considera que precisam avançar ainda mais para encontrar ou descobrir o que houve com a arma, o carro usado pelos criminosos e identificar testemunhas "para que se tenha a necessária consistência". "É um avanço, mas ainda tem muito o que avançar", disse o ex-ministro sobre as prisões realizadas nesta terça.

Jungmann lembrou que, durante sua atuação no Ministério da Segurança Pública, no ano passado, tentou promover a federalização das investigações duas vezes, mas que ele e o governo "foram bloqueados, impedidos" por resistência do Ministério Público Estadual e da Polícia Civil. Com isso, alega que a PF apenas recebia e repassava informações, mas não participava efetivamente "com toda a sua capacidade técnica" e não tinha acesso aos autos do processo. 

Posteriormente, em outubro, após depoimento de Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, solicitou que a PF entrasse para fazer a 'investigação das investigações', processo que segue em andamento paralelamente. "A PF é uma das melhores polícias do mundo e tem recursos tecnológicos extremamente avançados. Com certeza teria dado contribuição às investigações (caso houvesse a federalização das investigações), não tenho dúvida", comentou Jungmann. 

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No dia seguinte ao crime, em 2018, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, defendeu a federalização da investigação. O então ministro Raul Jungmann colocou a Polícia Federal à disposição, mas o chefe de Polícia Civil do Rio e o Ministério Público Estadual recusaram a oferta. 

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