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Recuo de Bolsonaro sobre embaixada em Jerusalém é resultado da pressão do setor agroexportador

Brasil abrirá quarto escritório diplomático; outro fica na Cisjordânia
Presidente Jair Bolsonaro bate continência ao ser recebido em Israel pelo premier Benjamin Netanyahu Foto: RONEN ZVULUN / REUTERS
Presidente Jair Bolsonaro bate continência ao ser recebido em Israel pelo premier Benjamin Netanyahu Foto: RONEN ZVULUN / REUTERS

RIO — A decisão do presidente Jair Bolsonaro de abrir um escritório de negócios em Jerusalém , sem cumprir a antiga promessa de transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para a cidade, é uma consequência, principalmente, das pressões do setor agroexportador, segundo fontes diplomáticas ouvidas pelo GLOBO. Este será o quarto escritório diplomático do Brasil no exterior, e dois dos outros três que já existem também foram resultado de limitações políticas.

Atualmente, funcionam um Escritório de Representação em Ramallah, na Cisjordânia, uma vez que o Brasil reconhece o Estado da Palestina desde 2010; um Escritório Comercial em Taipé, porque o país não mantém relações diplomáticas formais com Taiwan, depois de em 1974 ter reconhecido que a China tem jurisdição sobre a ilha; e, ainda, um Escritório Financeiro em Nova York.

— Você abre um escritório quando não pode abrir uma embaixada, e é sempre por alguma limitação ou constrangimento político —explicou uma fonte diplomática.

Nos casos de Ramallah e Taipé, este é exatamente o motivo. O Brasil optou pelos escritórios já que, em ambos os casos, existem situações políticas que tornam complicada a abertura de uma embaixada. No caso de Jerusalém, apontaram as fontes consultadas, "uma decisão dessa magnitude teria aberto uma frente de conflito de consequências imprevisíveis com o mundo árabe".

Os números referentes ao comércio exterior brasileiro explicam a preocupação do setor exportador. Em janeiro passado, as vendas de produtos brasileiros para os mercados árabes alcançaram US$ 1,2 bilhão, o que representa um aumento de 18% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Foi o maior resultado para janeiro dos últimos dez anos, de acordo com dados da Câmara de Comércio Árabe Brasileira.

Em volumes, as vendas para a região aumentaram 9% na mesma comparação, chegando a 4,3 milhões de toneladas. O bloco respondeu por 6,4% do total exportado pelo Brasil no primeiro mês de 2019.

O Escritório de Representação funciona quase como uma embaixada e é chefiado por um embaixador. Diplomata de carreira, o embaixador Francisco Mauro Brasil de Holanda é o representante do Brasil junto ao Estado da Palestina desde fevereiro de 2016.

Já o Escritório de Negócios opera mais como um consulado, e o de Taipé é atualmente administrado por um conselheiro.

— No caso de Jerusalém, a criação do Escritório de Negócios poderia gerar uma tensão com a embaixada de Tel Aviv, já que trata-se, claramente, de uma jogada política. Não se descarta, até mesmo, o envio de um embaixador —  concluiu uma das fontes.