Por Roniara Castilhos, TV Globo — Brasília


O vice-presidente da República, Hamilton Mourão — Foto: Luisa Gonzalez/Reuters

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirmou nesta terça-feira (2) que "de esquerda, é o comunismo, não resta a mínima dúvida".

Mourão deu a declaração em Brasília após ter sido questionado sobre o fato de o presidente Jair Bolsonaro ter afirmado em Israel, após visitar o Centro Mundial de Memória do Holocausto, não ter "dúvida" de que o nazismo era um regime de esquerda.

"De esquerda, é o comunismo, não resta a mínima dúvida. Se a gente for olhar, sabe que sou um crítico contumaz desta questão de direita e esquerda. Eu acho que são ambas visões totalitárias, de controle total da população, de desrespeito aos direitos humanos e que não se coadunam com o espírito que a gente busca para a humanidade", declarou Mourão nesta terça.

"Eu critico direita e esquerda. [...] Nazismo e comunismo são duas faces de uma moeda só, o totalitarismo", acrescentou o vice-presidente.

Mais cedo, nesta terça, Bolsonaro visitou o Centro Mundial de Memória do Holocausto, em Jerusalém. O museu afirma que o nazismo era de direita.

O nazismo consistiu em um movimento nacionalista durante o regime de Adolf Hitler que pregava a superioridade dos arianos e perseguia judeus. O nazismo, reforçam historiadores, se dizia justamente contrário à esquerda, ao comunismo e ao socialismo.

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Polêmica

Bolsonaro falou sobre nazismo ao ser questionado sobre a declaração do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, de que o regime totalitário era de esquerda.

"O senhor concorda com o seu chanceler de que o nazismo foi um movimento de esquerda?", indagou um jornalista a Bolsonaro.

"Não há dúvida, não é? Partido Socialista, como é que é? Da Alemanha. Partido Nacional Socialista da Alemanha", respondeu o presidente (veja no vídeo acima).

Conforme o comentarista Guga Chacra, da GloboNews, o partido citado por Bolsonaro tinha o objetivo de expandir a presença dos arianos, não a esquerda. O comentarista acrescentou ainda que Bolsonaro é filiado ao Partido Social Liberal (PSL).

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'Besteira completa'

Em entrevista ao jornal "O Globo" em setembro do ano passado, o próprio embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel, afirmou ser uma "besteira completa" dizer que o fascismo e o nazismo são movimentos da esquerda.

"Isso não é fundamentado, é um erro, é simplesmente uma besteira", acrescentou.

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'Fraude intelectual'

A fala de Ernesto Araújo, com a qual Bolsonaro disse concordar, foi criticada por historiadores ouvidos pelo Jornal Nacional.

Para Para Antonio Barbosa, historiador da Universidade de Brasília (UnB), falar que o nazismo é um fenômeno de esquerda é uma "fraude".

"Uma fraude intelectual e uma releitura completamente equivocada da própria história. É como se fosse negar o fato histórico que aconteceu na Alemanha nos anos 1930, nos anos 1940. Esse é o primeiro ponto. O segundo é que o nazismo se justifica como a oposição mais vigorosa ao socialismo, à esquerda, ao comunismo. [...] No caso da política externa, isso é extremamente perigoso porque mostra ao mundo uma visão sectária, radicalmente sectária no Brasil, o que não é bom para o país", afirmou.

Para Ruth Bem-Ghiat, historiadora especializada em fascismo e autoritarismo pela universidade NYU, de Nova York (EUA), o ministro tem que reler os livros de história.

Ruth reforça ainda que dizer que o nazismo e o fascismo são de esquerda é um "absurdo".

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