Economia

Apoiado por Doria, Maia diz que 'Executivo não está acima dos outros poderes'

Depois de almoço com governador de São Paulo, presidente da Câmara também afirmou que Parlamento 'vai continuar sendo ponto de equilíbrio e diálogo'
João Dória e Rodrigo Maia, em encontro no mês passado Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
João Dória e Rodrigo Maia, em encontro no mês passado Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

São Paulo - O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) afirmou que o governo do presidente Jair Bolsonaro “tem que entender que, em uma democracia, o Executivo não está acima dos outros poderes”, e que não usa redes sociais "para agredir ninguém", em resposta às recentes trocas de farpas com Bolsonaro e aos tuítes do filho do presidente, Carlos Bolsonaro. Maia concedeu uma coletiva na tarde deste sábado na casa do governador de São Paulo, depois de um almoço a convite de João Doria.

O presidente da Câmara minimizou a crise e afirmou que os confrontos desta semana “terminam com essa semana que se encerra agora, no passado” e que é momento “de olhar para frente” para a aprovação da reforma da Previdência.

- Cada um colocou seu ponto de vista. O presidente colocou o dele, eu coloquei o meu. Não tenho nada mais a tratar do que ocorreu nos últimos dias. Minha preocupação é sinalizar para a sociedade que o Parlamento vai continuar sendo um ponto de equilíbrio e diálogo. Vamos aprovar a reforma, entre outras matérias de interesse da sociedade - disse Maia.

Ele não indicou, porém, qualquer mudança de estratégia na abordagem dessa agenda com o Executivo. Afirmou que a participação do governo federal na articulação da reforma "é problema do Executivo".

- Não tem (mudança de estratégia). Minha agenda é a reforma da previdência, depois reforma tributária e repactuação do estado brasileiro. De que forma o governo vai ou não participar não é problema meu. É problema do Executivo. Continuo defendendo e mostrando aos parlamentares a importância dessa matéria. A aprovação dessa reforma é decisiva para o futuro do Brasil - disse Maia.

Maia e Bolsonaro tiveram discordâncias públicas nos últimos dias a a respeito da articulação da reforma da Previdência. Maia esperava que o Planalto liderasse o processo de aprovação do projeto. Bolsonaro diz que a responsabilidade com a reforma está com o Congresso. O embate foi parar nas redes sociais. Maia ficou irritado com publicações a seu respeito feitas na rede social do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente.

- Vivo em um país democrático, e dentro do que me perguntam falo o que acredito. Não uso as redes sociais para agredir ninguém. Uso as redes sociais para dar informação aos meus eleitores, à sociedade brasileira. Assim tenho me portado desde que assumi meu primeiro mandato de deputado federal e na Presidência da Câmara. Vivemos em uma democracia, e nela o Executivo não está acima dos outros poderes - disse Maia.

Ao ser informado de que Bolsonaro disse, em visita oficial no Chile, que o presidente da Câmara tem se comportado "de forma agressiva", Maia respondeu:

- Pode pesquisar meus tuítes, os do presidente e os das pessoas no entorno dele, para ver quem está sendo agredido nas redes sociais.

Ao embarcar de Santiago, neste mesmo sábado, Bolsonaro disse que nunca criticou Maia.

- O Brasil é maior do que todos nós. O Rodrigo Maia, eu nunca o critiquei, eu não o critiquei. Nas redes sociais eu não o critiquei. Não sei por que ele de repente está se comportando dessa forma um tanto quanto agressiva - disse o presidente.

Minutos depois, em São Paulo, Maia repetiu, várias vezes, que falta diálogo na articulação da reforma da previdência.

- A reforma é debatida no Parlamento, entre parlamentares da base, independentes e da oposição. É assim que a democracia representativa funciona no Brasil. O ministro Paulo Guedes tem tentado intervir na escolha do relator, na escolha do presidente. Não é tão independente a relação como se pode pensar. Vai se escolher um relator por sorteio? Não é assim que as coisas funcionam. As coisas funcionam no diálogo, e é isso que precisamos construir - afirmou Maia.



O governador de São Paulo, João Doria, disse que fez ontem o convite ao presidente da Câmara para um encontro na casa do tucano, nos Jardins, em São Paulo, do qual também participou o vice de Doria, Rodrigo Garcia (DEM). A reunião entre eles, na hora do almoço deste sábado, durou cerca de uma hora e meia. Doria afirmou que Maia tem o apoio do governo de São Paulo para seguir adiante com a aprovação da reforma.

- Não estamos (o governo de São Paulo) assumindo liderança nesse tema. Estamos é apoiando a importância da reforma da previdência para mudar o Brasil. Vamos colocar a força de São Paulo para apoiar. Se a reforma não for consagrada esse ano, o Brasil terá seríssimos problemas fiscais, inclusive para os governos estaduais, municipais e federais - disse Doria.

Respaldando as afirmações de Maia, Doria disse que é preciso "esquecer o que passou", em referência aos embates com Bolsonaro e o filho, Carlos, que não costuma poupar caracteres no Twitter.

- Temos uma nova inflexão. Concordo com o presidente Rodrigo Maia que estamos olhando para frente. Foi isso que conversamos hoje. A agenda do Brasil é de todos. Vamos esquecer o que passou. É um momento de diálogo, de serenidade. Apoiamos e confiamos plenamente na conduta, trabalho e relevância do deputado Rodrigo Maia como presidente da Câmara Federal e como líder para a aprovação da Reforma da Previdência - disse o governador de São Paulo.

Após a coletiva, Maia retornaria nesta mesma tarde para Brasília.