São Paulo - O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) afirmou que o governo do presidente Jair Bolsonaro “tem que entender que, em uma democracia, o Executivo não está acima dos outros poderes”, e que não usa redes sociais "para agredir ninguém", em resposta às recentes trocas de farpas com Bolsonaro e aos tuítes do filho do presidente, Carlos Bolsonaro. Maia concedeu uma coletiva na tarde deste sábado na casa do governador de São Paulo, depois de um almoço a convite de João Doria.
O presidente da Câmara minimizou a crise e afirmou que os confrontos desta semana “terminam com essa semana que se encerra agora, no passado” e que é momento “de olhar para frente” para a aprovação da reforma da Previdência.
- Cada um colocou seu ponto de vista. O presidente colocou o dele, eu coloquei o meu. Não tenho nada mais a tratar do que ocorreu nos últimos dias. Minha preocupação é sinalizar para a sociedade que o Parlamento vai continuar sendo um ponto de equilíbrio e diálogo. Vamos aprovar a reforma, entre outras matérias de interesse da sociedade - disse Maia.
Ele não indicou, porém, qualquer mudança de estratégia na abordagem dessa agenda com o Executivo. Afirmou que a participação do governo federal na articulação da reforma "é problema do Executivo".
- Não tem (mudança de estratégia). Minha agenda é a reforma da previdência, depois reforma tributária e repactuação do estado brasileiro. De que forma o governo vai ou não participar não é problema meu. É problema do Executivo. Continuo defendendo e mostrando aos parlamentares a importância dessa matéria. A aprovação dessa reforma é decisiva para o futuro do Brasil - disse Maia.
Maia e Bolsonaro tiveram discordâncias públicas nos últimos dias a a respeito da articulação da reforma da Previdência. Maia esperava que o Planalto liderasse o processo de aprovação do projeto. Bolsonaro diz que a responsabilidade com a reforma está com o Congresso. O embate foi parar nas redes sociais. Maia ficou irritado com publicações a seu respeito feitas na rede social do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente.
- Vivo em um país democrático, e dentro do que me perguntam falo o que acredito. Não uso as redes sociais para agredir ninguém. Uso as redes sociais para dar informação aos meus eleitores, à sociedade brasileira. Assim tenho me portado desde que assumi meu primeiro mandato de deputado federal e na Presidência da Câmara. Vivemos em uma democracia, e nela o Executivo não está acima dos outros poderes - disse Maia.
Ao ser informado de que Bolsonaro disse, em visita oficial no Chile, que o presidente da Câmara tem se comportado "de forma agressiva", Maia respondeu:
- Pode pesquisar meus tuítes, os do presidente e os das pessoas no entorno dele, para ver quem está sendo agredido nas redes sociais.
Ao embarcar de Santiago, neste mesmo sábado, Bolsonaro disse que nunca criticou Maia.
- O Brasil é maior do que todos nós. O Rodrigo Maia, eu nunca o critiquei, eu não o critiquei. Nas redes sociais eu não o critiquei. Não sei por que ele de repente está se comportando dessa forma um tanto quanto agressiva - disse o presidente.
Minutos depois, em São Paulo, Maia repetiu, várias vezes, que falta diálogo na articulação da reforma da previdência.
- A reforma é debatida no Parlamento, entre parlamentares da base, independentes e da oposição. É assim que a democracia representativa funciona no Brasil. O ministro Paulo Guedes tem tentado intervir na escolha do relator, na escolha do presidente. Não é tão independente a relação como se pode pensar. Vai se escolher um relator por sorteio? Não é assim que as coisas funcionam. As coisas funcionam no diálogo, e é isso que precisamos construir - afirmou Maia.
O governador de São Paulo, João Doria, disse que fez ontem o convite ao presidente da Câmara para um encontro na casa do tucano, nos Jardins, em São Paulo, do qual também participou o vice de Doria, Rodrigo Garcia (DEM). A reunião entre eles, na hora do almoço deste sábado, durou cerca de uma hora e meia. Doria afirmou que Maia tem o apoio do governo de São Paulo para seguir adiante com a aprovação da reforma.
- Não estamos (o governo de São Paulo) assumindo liderança nesse tema. Estamos é apoiando a importância da reforma da previdência para mudar o Brasil. Vamos colocar a força de São Paulo para apoiar. Se a reforma não for consagrada esse ano, o Brasil terá seríssimos problemas fiscais, inclusive para os governos estaduais, municipais e federais - disse Doria.
Respaldando as afirmações de Maia, Doria disse que é preciso "esquecer o que passou", em referência aos embates com Bolsonaro e o filho, Carlos, que não costuma poupar caracteres no Twitter.
- Temos uma nova inflexão. Concordo com o presidente Rodrigo Maia que estamos olhando para frente. Foi isso que conversamos hoje. A agenda do Brasil é de todos. Vamos esquecer o que passou. É um momento de diálogo, de serenidade. Apoiamos e confiamos plenamente na conduta, trabalho e relevância do deputado Rodrigo Maia como presidente da Câmara Federal e como líder para a aprovação da Reforma da Previdência - disse o governador de São Paulo.
Após a coletiva, Maia retornaria nesta mesma tarde para Brasília.