Economia Brasília

Líder do governo na Câmara alfineta Maia e defende 'nova política'

Major Vitor Hugo encaminhou mensagens em grupo de Whatsapp do PSL após encontro com o Bolsonaro
Líder do governo, Major Vitor Hugo Foto: Jorge William / Agência O Globo
Líder do governo, Major Vitor Hugo Foto: Jorge William / Agência O Globo

BRASÍLIA e RIO - Após reunião com o presidente Jair Bolsonaro neste domingo para tratar da tramitação da reforma da Previdência, o líder do governo na Câmara, major Vitor Hugo (PSL-GO), defendeu  “a nova política” e disse que Bolsonaro está convicto de suas atitudes. Ele citou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, em mensagens de WhatsApp com o PSL. O episódio irritou Maia e promete acirrar ainda mais os atritos entre o parlamentar e o presidente da República, que desde sexta-feira trocam farpas em torno da articulação da reforma da Previdência.

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Na troca de mensagens com o grupo do PSL, o líder do governo afirma que é preciso "mudar a situação". Ele não citou a “velha política”, expressão criticada por Maia, mas fez referência “às práticas do passado”. As mensagens foram postadas depois em redes sociais.

“Nosso presidente está certo e também convicto de suas atitudes. Estive com ele hoje pela manhã. As práticas do passado não nos levaram ao caminho em que queremos estar. Todos nós, em particular do PSL, somos agentes para ajudar a mudar a situação em que nos encontramos. Todos que nos elegemos nessa legislatura (passamos, pois, pelo crivo das urnas e da população que não aguenta mais...), eleitos e reeleitos, temos a possibilidade de escolher de que lado estar... somos todos a nova política. Não dá mais”, escreveu o líder no grupo.

Em seguida, enviou um post de uma reportagem do jornal O GLOBO, de novembro de 2017, que cita  Rodrigo Maia, " Para aprovar mudanças na Previdência, Temer autoriza Maia a negociar cargos ", diz o título da matéria, que também destaca o toma lá dá cá com a divisão de secretarias com partidos do centrão.

Uma segunda mensagem é de uma charge que faz referência ao “diálogo” da ex-presidente Dilma Rousseff com o Congresso. Ela leva na cabeça um saco de cargos para garantir as negociações.

Um deputado do PSL afirma que o governo sinaliza uma "guerra digital" contra os caciques do Congresso. A ideia é a construção de uma pressão por meio das redes sociais para que o parlamento encampe as pautas do governo. Dentro dos núcleo de negociadores do governo, porém, há dúvidas sobre um sucesso dessa estratégia.

A avaliação é que por mais razão existente no discurso de se evitar troca de cargos e emendas por votos seria preciso neste momento "tapar o nariz" e fazer uma negociação tradicional para aprovar a reforma da Previdência. Na visão deste grupo, um enfrentamento deveria ocorrer apenas em momento posterior.

Ao sair do Palácio da Alvorada na manhã deste domingo, o líder do governo na Câmara negou que tivesse tratado com Bolsonaro sobre os desentendimentos com Maia . No entanto, falou em aproximação entre os dois:

— A semana passada foi uma semana muito tensa e agora a gente vai caminhar para uma aproximação — disse o deputado.

Para o Delegado Waldir (GO), líder do PSL na Câmara, a distinção entre "velha" e "nova" política é um equívoco e equivale a fazer bullying com um grupo de parlamentares. Ele nega que a posição do Major Vitor Hugo seja compartilhada pelos demais deputados da bancada.

— Todos os 513 são parlamentares eleitos pelo povo, e qualquer separação entre quem é bom e ruim tem que ser feita pelo povo nas urnas. (Essa separação) é a posição única e exclusivamente de quem falou. Nenhum parlamentar do PSL compartilha disso, e se compartilhar, vai ser sua opinião pessoal.

Para o cientista político Lier Pires Ferreira, é preciso que o presidente cobre dos aliados, como seus filhos e os integrantes do partido, apoio na articulação pela reforma.

— Articulação política significa trânsito no Congresso. Primeiro, o presidente precisa se afastar dos microfones e usar seu prestígio pessoal e do cargo para definir uma estratégia e cobrar de seus aliados, o que inclui seus filhos e os integrantes do partido, que deixem de lado as disputas por poder, e foquem no cumprimento dos compromissos das pautas do governo. É preciso ao menos definir quem serão os responsáveis pela articulação.

O especialista ressalta ainda que a demora na aprovação da reforma, assim como sua desidratação, representam um risco ao próprio governo, que teve na questão previdenciária um dos principais apelos durante a campanha:

— Toda mobilização política que colocou Bolsonaro no centro da campanha eleitoral, com apoio do setor financeiro e de empresários, tem na reforma da Previdência um eixo central. A dificuldade de diálogo do presidente hoje, não mais em campanha, tem demonstrado insuficiências de liderança, o que somado à questão dos filhos e das disputas de poder dentro do próprio partido, tem gerado um desgaste.