Economia Previdência

Governo aposta em Guedes para superar crise e abrir caminho para reforma

Ministro vai à CCJ nesta terça-feira tirar dúvidas e falar sobre a necessidade de aprovação
Ministros Onyx Lorenzoni e Paulo Guedes durante cerimônia no Palácio do Planalto Foto: UESLEI MARCELINO / REUTERS
Ministros Onyx Lorenzoni e Paulo Guedes durante cerimônia no Palácio do Planalto Foto: UESLEI MARCELINO / REUTERS

BRASÍLIA - Com os ânimos ainda acirrados por um fim de semana de troca de farpas entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, o governo conta com a ajuda do ministro da Economia, Paulo Guedes, para tentar arrefecer a crise com o Congresso e abrir caminho para aprovar a reforma da Previdência . Guedes participa de audiência pública nesta terça-feira na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para falar da proposta.

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— A vinda do Paulo Guedes já é algo que a gente espera que dê uma arrefecida (na crise), porque ele vai tirar dúvidas e falar sobre a necessidade da reforma. Ele é um ministro importantíssimo nesse momento por causa da pauta prioritária do governo. Isso tudo faz parte do movimento de aproximação do Executivo, mostrando a disposição de interagir junto do Legislativo — disse o líder do governo na Câmara, major Vitor Hugo.

A tarefa do chefe da pasta da Economia, no entanto, não será fácil. A segunda-feira começou com o próprio presidente, que reuniu ministros palacianos e Guedes, fazendo um esforço de aproximação com o Congresso. Mas, mesmo depois do apelo do Planalto — especialmente dos ministros Onyx Lorenzoni (Casa Civil), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Carlos Alberto Santos Cruz (Secretaria de Governo) — para que houvesse trégua, os perfis bolsonaristas nas redes sociais, influenciados pelo vereador Carlos Bolsonaro, continuaram a fazer postagens com ataques a Rodrigo Maia. A atitude irritou até mesmo a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), que tem tentado intermediar um acordo de paz.

Nesta terça-feira, no entanto, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), avaliou que o momento mais tenso da crise entre Bolsonaro e Rodrigo Maia já passou . Antes de uma reunião com governadores em Brasília, Doria disse que o momento deve ser de “paz e serenidade” e disse ser possível passar o texto em até quatro meses.

Apoio com ressalvas

Nesta terça-feira, os líderes dos partidos DEM, MDB, PSD, PP, PR e PRB farão uma declaração de apoio à reforma da Previdência. Essas legendas, no entanto, deixarão claro que não apoiarão mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC) - concedido a idosos e deficientes da baixa renda - e nas regras de aposentadoria dos trabalhadores rurais. O PR defende ainda uma flexibilização nas normas para os professores, reduzindo a idade mínima de aposentadoria, proposta no texto, de 60 anos para 55 anos. O ato também representa um sinal de apoio a Maia.

O presidente da Câmara não comentou mais o assunto, mas também fez movimentações. Almoçou com a cúpula do DEM, incluindo o presidente do Senado, David Alcolumbre, e Lorenzoni.

Durante o encontro, o chefe da Casa Civil ouviu a contrariedade do DEM em relação às postagens nas redes sociais. Onyx também ouviu críticas direcionadas a Vitor Hugo. No domingo, após reunião com Bolsonaro para tratar da tramitação da reforma da Previdência, o líder defendeu “a nova política” e disse que Bolsonaro está convicto de suas atitudes. Ele citou Maia em grupos de mensagens como se o presidente da Câmara estivesse associado a uma “velha política”, na qual votos são trocados por cargos. Os caciques do DEM reforçaram ainda ao ministro que é preciso criar um ambiente político positivo para a aprovação da reforma.

O porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, afirmou, no fim do dia, que, se a proposta de reforma da Previdência não for aprovada, o Brasil vai mergulhar “em um buraco sem fundo”:

- Nós temos duas opções: aprovar a proposta a Previdência ou mergulharmos em um buraco sem fundo.

Ainda conforme o porta-voz, o presidente está disposto e aberto à interlocução com todos os congressistas. Sobre a relação tumultuada com o presidente da Câmara, ele brincou com a origem militar de Bolsonaro:

- Embora o presidente não tenha sido boina azul, ele tem como lema “tudo pela paz”.

Resolvida em 3 ou 4 meses

Também em tom otimista, Guedes disse nesta segunda acreditar que as lideranças políticas vão “superar problemas de comunicação” que afetam a proposta. Segundo ele, a reforma pode ser “resolvida” na Câmara em três ou quatro meses.

- As principais lideranças políticas vão superar eventuais problemas de comunicação. É natural com todo mundo. O presidente que está chegando falar: “não quero dançar de rosto colado”. Mas o par que está com ele tem que dizer: “tudo bem, mas temos que dançar junto”. Nós vamos ter que conversar sobre isso - disse Guedes em evento com prefeitos.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, por sua vez, afirmou que Bolsonaro e Maia “exageraram” em seus embates públicos nos últimos dias . Mas ressaltou que considera o assunto “matéria superada” e disse que não vê risco para a votação da reforma:

- O presidente Rodrigo Maia e o presidente da República, nesse episódio, acho que exageraram, tanto de um lado quanto do outro. Mas eu entendo que é natural da política. Política é debate, diálogo e entendimento. Busco no Senado estabelecer diálogo, harmonia, e espero poder contribuir com meu papel institucional.

Impacto no dólar

Os sinais de um arrefecimento na crise entre Bolsonaro e o Congresso trouxe alívio aos mercados financeiros na segunda-feira. Depois de um pregão de muita volatilidade, a Bolsa de Valores de São Paulo fechou em leve queda, de 0,08%.

Já o dólar comercial, que na semana passada chegou a bater R$ 3,90, recuou com força e fechou a segunda-feira em queda de 1,17%, a R$ 3,856. (Colaboraram Bruno Góes, Karla Gamba, Gustavo Maia, Daniel Gullino e Amanda Almeida)