BRASÍLIA — No centro de uma polêmica por ter determinado a exclusão de uma reportagem e o bloqueio de redes sociais, o ministro
Alexandre de Moraes,
do Supremo Tribunal Federal
(STF),
declarou sua “devoção às liberdades individuais” em 2017,
ao ser sabatinado no Senado.
Na ocasião, Alexandre de Moraes também citou o ativista norte-americano Martin Luther King Jr., ressaltando que, para ele, "há um desejo interno por liberdade na alma de cada ser humano", incluindo a
liberdade de expressão
e de pensamento.
— Reafirmo minha independência, meu compromisso com a Constituição e minha devoção às liberdades individuais. Martin Luther King, em um de seus mais belos sermões, "o nascimento de uma nova nação", apontava que o "desejo interno por liberdade na alma de cada ser humano" alcança seu mais amplo significado na liberdade individual, intelectual, na liberdade de pensamento, na liberdade de expressão, na liberdade de crença e cultos religiosos, na liberdade de escolha — disse Moraes na ocasião.
— O direito fundamental à liberdade de expressão, portanto, não se direciona somente a proteger as opiniões supostamente verdadeiras, admiráveis ou convencionais, mas também aquelas que são duvidosas, exageradas, condenáveis, satíricas, humorísticas, bem como as não compartilhadas pelas maiorias. Ressalte-se que mesmo as declarações errôneas estão sob a guarda dessa garantia constitucional.
Meses antes, em junho de 2018,
ao votar contra o impedimento a sátiras de políticos durante o período eleitoral,
o magistrado defendeu que quem não gostaria de ser satirizado deveria "ficar em casa" e não sair candidato. Na ocasião, quando o veto foi derrubado pela Corte, ele disse que a poribição seria "uma ilegítima intervenção na liberdade de expressão"
— Quem não quer ser criticado, ser satirizado, que fique em casa, não seja candidato, não se ofereça para disputar cargos políticos. Querer evitar isso por uma ilegítima intervenção na liberdade de expressão é inconstitucional — afirmou Moraes.
A
decisão
do ministro
Alexandre de Moraes
de
censurar
uma reportagem da revista "Crusoé" sobre o presidente do Supremo,
Dias Toffoli
, contrasta com posições da maioria da Corte e vai, de acordo com especialistas, na contramão dos direitos à liberdade de expressão e de imprensa. Veja outros momentos em que esse direito foi defendido por seus pares.
Janeiro de 2019: 'Mais liberdade, mais combate a corrupção', por Luiz Fux
O ministro Luiz Fux saiu em defesa de uma parceria entre a imprensa e os órgãos de investigação como estratégia no combate à corrupção. Ele afirmou que: "Quanto maior for a liberdade de imprensa, maior será o combate a corrupção. Foi a imprensa que inaugurou a estratégia de focar nos corruptores". (
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Novembro de 2018: 'Plena liberdade', por Lewandowski
O ministro Ricardo Lewandowski derrubou uma decisão que proibia o jornal "O Estado de S. Paulo" de divulgar informações sobre a Operação Boi Barrica, que envolveu o empresário Fernando Sarney, filho de José Sarney (MDB). Na ocasião, ele destacou que o STF garantira “plena liberdade de imprensa proibitiva de qualquer tipo de censura prévia”.
Junho de 2018: 'Ilegítima intervenção', por Alexandre de Moraes
Ao votar contra o impedimento a sátiras de políticos durante o período eleitoral, Alexandre de Moraes defendeu que quem não gostaria de ser satirizado deveria "ficar em casa" e não sair candidato. Na ocasião, quando o veto não encontrou aval da Corte, ele disse que seria "uma ilegítima intervenção na liberdade de expressão". (
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Junho de 2018: 'Expressão da alma', por Cármen Lúcia
Em um seminário sobre os 30 anos da Constituição, a ministra Cármen Lúcia, então presidente do STF, afirmou que o Estado e a Justiça não funcionam bem se a imprensa não for livre: "Quem não tem direito livre à própria liberdade de expressão não tem garantia de qualquer outro direito, porque palavra é a expressão da alma". (
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Criticado por ministros do governo Temer por alterar o indulto natalino assinado pelo ex-presidente, o ministro Luís Roberto Barroso afirmou que a a "liberdade de expressão faz parte da vida". Ele também disse que quando se cumpre uma missão de vida, “elogios ou críticas não fazem muita diferença”. (
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Novembro de 2017: 'Não tem como guardar sigilo', por Marco Aurélio Mello
Em um seminário em Brasília, o ministro Marco Aurélio Mello divergiu do colega Alexandre de Moraes ao defender que a imprensa divulgasse informações de caráter sigiloso. Para o magistrado, os jornalistas não têm obrigação de manter temas sob confidencialidade: "Se foi quebrado o sigilo, não tem como a imprensa guardar o sigilo". (
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Outubro de 2015: 'Mordaça é sofrimento', por Carmen Lúcia
Ao receber o prêmio Liberdade de Imprensa da Associação Nacional de Jornais (ANJ), a ministra Carmen Lúcia disse que “toda mordaça é sofrimento” e que precisamos de uma “imprensa liberta de qualquer teia”. Ela afirmou que palavras expostas pela imprensa são "asas que nos dão para que a gente possa voar no céu dos sentimentos e ideais". (
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Maio de 2015: 'Custe o que custar', por Fachin
Ao ser sabatinado pelo Senado antes de chegar à Corte, o ministro Edson Fachin disse que 'o preço da liberdade de expressão é um preço que a sociedade precisa adimplir custe o que custar'. Diante dos parlamentares, e sustentou que a censura não deve ser admitida em "nenhuma hipótese" e que se trata de "ofensa ao preceito constitucional". (
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Junho de 2015: 'Cala a boca já morreu', por Carmen Lúcia
Ao relatar uma ação sobre a publicação de biografias não autorizadas (o STF decidiu, por unanimidade, autorizá-las), a ministra Carmen Lúcia citou o ditado popular "Cala a boca já morreu" ao defender que autores tivessem garantida a possibilidade de publicar as obras sem autorização prévia dos biografados. (
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Maio de 2013: 'Conquistas formidáveis', por Joaquim Barbosa
Em um congresso da Unesco, o ministro Joaquim Barbosa afirmou que o Brasil estava longe de ser uma democracia perfeita, mas que "não se pode negar, entretanto, as conquistas formidáveis que alcançamos em nosso país no campo da liberdade de expressão e da liberdade de imprensa, especialmente depois da redemocratização". (
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