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Política Eleições 2018

Temer desiste e atua por Meirelles na eleição presidencial

Sem apoio do PMDB e temendo virar alvo fácil na campanha, presidente já anunciou decisão a ministros
O presidente Michel Temer e Henrique Meirelles em lançamento da candidatura de Paulo Skaf ao governo de SP Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
O presidente Michel Temer e Henrique Meirelles em lançamento da candidatura de Paulo Skaf ao governo de SP Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

BRASÍLIA — Em conversa com aliados do seu círculo pessoal, no Palácio da Alvorada, na tarde de domingo, o presidente Michel Temer confirmou que não irá disputar as eleições de outubro. Reunido com o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles e com dois de seus auxiliares mais próximos, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, o presidente deixou claro que pretende sair de cena como candidato e deu sinais de que irá atuar nos bastidores pela candidatura do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles.

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Desde que anunciou o desejo de disputar a reeleição, Temer experimentou o avanço do noticiário policial — ele responde a dois inquéritos no STF — sobre seu grupo político e familiar. Também enfrentou resistências dentro do seu próprio partido, preocupado com os prejuízos financeiros de uma campanha presidencial centrada na sua reeleição. Para auxiliares do presidente, a escalada de notícias negativas e a devassa no passado de Temer tenderiam a piorar muito durante a campanha, o que deixaria o presidente sob constante tiroteio dos candidatos.

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— Imagine como seria a cobertura da imprensa de um presidente candidato, com todos os repórteres que já cobrem o Planalto indo a todo evento dele? O Michel não teria um segundo de paz. E tudo que ele precisa agora é tocar o governo e deixar de ser alvo — diz ao GLOBO um auxiliar direto de Temer.

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Além de ter sido aconselhado a sair dos holofotes eleitorais, Temer decidiu trabalhar pela construção da candidatura de Meirelles por considerar o ex-ministro o único que poderá fazer a defesa do seu governo durante a campanha. A recente aproximação com Geraldo Alckmin, na última semana, manteve o diálogo aberto com o PSDB. Temer, no entanto, sabe que o pré-candidato tucano jamais defenderia o governo na campanha — e tampouco interessa ao PSDB atrair para sua candidatura a impopularidade do presidente.

Internamente, no PMDB, Temer também foi convencido das resistências ao seu nome dentro dos diretórios regionais. Ao longo de três jantares com lideranças peemedebistas nas últimas semanas, o clima entre os líderes regionais era de angústia. Os dirigentes estaduais do PMDB apresentaram uma série de dificuldades políticas ante a possibilidade de terem que sustentar uma candidatura de Temer nos estados. Sem recursos próprios para bancar o projeto, Temer teria de utilizar as verbas do seu partido, o que prejudicaria a distribuição de dinheiro para campanhas de parlamentares e de governadores país afora.

Os altos índices de impopularidade de Temer, que sequer conseguiria frequentar locais públicos durante a campanha, também preocupavam os peemedebistas. Diante desse cenário, o nome de Meirelles passou a ser visto como solução pelo presidente.

Além de contar com recursos próprios para financiar sua campanha, Meirelles atenderia ao objetivo pessoal de Temer, de contar com uma candidatura que defenda seu governo durante a campanha. Dentro do PMDB, a resistência ao nome do ex-ministro da Fazenda também seria infinitamente menor que ao nome de Temer.

Primeiro, na avaliação dos peemedebistas, porque Meirelles não tem a impopularidade do presidente, que poderia tirar votos em palanques estaduais. Segundo porque o ex-ministro teria um legado positivo na economia para defender.

— Para o nosso grupo no estado, a questão do Meirelles é muito simples. Onde ele não atrapalha (busca pelo voto), ele ajuda. Onde ele não ajuda, no caso da pesquisa, ele também não atrapalha — diz um peemedebista.

O XADREZ REGIONAL NO PMDB

Dentro do PMDB, os diretórios mais hostis ao projeto do PMDB ter candidato são os grupos comandados pelo senador Renan Calheiros, em Alagoas, e Roberto Requião, no Paraná. Esse dois diretórios e o grupo peemedebista do Ceará, ligado ao presidente do Senado Eunício Oliveira, têm se mantido distante em torno de Meirelles.

Nas últimas semanas, além de definir a equipe de assessores que já atua na pré-campanha, Meirelles escolheu seu marqueteiro, Chico Mendez, e contratou o serviço de um instituto de pesquisas especializado em estudar o comportamento das camadas populares da sociedade.

O ex-ministro tem procurado construir sua base de apoio no PMDB a partir de diretórios comandados por aliados ou com figuras simpáticas a seu nome, como é o caso de Santa Catarina, Goiás e São Paulo, onde a rivalidade com o PSDB de Geraldo Alckmin impede qualquer aproximação.

Em visita a Florianópolis há duas semanas, Henrique Meirelles ouviu conselhos do deputado Mauro Mariani (PMDB-SC) no sentido de fazer mais aparições públicas e deixar a timidez de lado.

— Ele pode ser uma novidade. Pode atrair os que já apoiam o presidente Temer e os que rejeitam o seu nome — disse o deputado.

Como Meirelles está disposto a bancar a própria campanha, Mariani acha que este fato pode ser um “diferencial” para aglutinar forças no partido por liberar os recursos para as campanhas de deputados.