Blog do João Máximo

Por João Máximo

Jornalista, escritor e pesquisador; especialista em futebol e música.

G1


A atriz e cantora americana Doris Day em foto de 1955 feita em Londres. — Foto: Bob Dear/AP

Ela era bonita, charmosa, inteligente, radiante, boa atriz e excelente cantora. Viveu uma vida de sucessos, com dois momentos difíceis superados às custas de muito talento. Ganhou prêmios, fez fortunas e morreu aos 97 anos cercada de cães e gatos criados em sua fazenda de Carmel, cidade da Califórnia da qual Clint Eastwood já foi prefeito.

Com tanta coisa para se dizer sobre Doris Day é no mínimo um desperdício um obituário realçar os papéis de virgem convicta que ela andou representando em alguns filmes da década de 60. Aquela, a mocinha das comédias cor de rosa com Rock Hudson ou Cary Grant, era criticada até pelos fãs. Mas estava longe de ser a melhor Doris Day.

Sua carreira de cantora começa quando termina, por força de uma perna quebrada, sua vida de dançarina. Foi crooner da orquestra de Les Brown, com quem alcançou seu primeiro sucesso, “Sentimental journey”. Logo virou estrela, gravando, chegando ao cinema e, depois, à televisão. Foi uma das maiores cantoras do seu tempo. A voz pequena, rouca, triste nas baladas românticas, contagiante nas canções alegres, deram a ela o prestígio que, do outro lado, só Frank Sinatra tinha. Foi ao lado dele que ela representou e cantou num de seus filmes mais memoráveis. No original, “Young at heart”.

Outros trabalhos que bastariam para fazer esquecer os papéis virginais são “O homem que sabia demais”, “Julie”, “A teia da renda negra” e “Ama-me ou esquece-me”. Por este. teria merecido um Oscar, mesmo não aceitando assumir plenamente o papel de Ruth Etting, a cantora ali biografada. Recusou-se, por exemplo, a aparecer na cena em que é estuprada pelo amante, gangster vivido por James Cagney.

O primeiro momento difícil foi quando Martin Melcher, terceiro de seus quatro maridos, bon vivant, empresário esperto, sumiu com todo o dinheiro dela. Sozinha, cantando e representando, ganhou tudo outra vez. E mudou de marido.

O segundo grande problema deu-se quando o filho Terry Melcher, produtor musical, não aprovou a contratação de um grupo de rock liderado por um certo Charles Manson.

Inconformado, Manson determinou que sua “família”, na verdade membros de uma sombria comunidade marginal, executassem todos os moradores da residência de Terry, na época alugada a Roman Polanski. Os Mansons invadiram a casa e, por engano, mataram Sharon Tate e quatro amigos. Sharon, grávida, era casada com Polanski, então viajando.

Terry e Doris nunca mais se livraram das lembranças daquela noite. Depois da morte dele, em 2004, ela se refugiou de vez na propriedade em Carmel, onde fundara a “pet foundation” que leva o seu nome. Não mais gravou, não fez filmes, disse não a todos os convites para participar da festa do Oscar. O pianista clássico Oscar Levant, que esteve com ela em um de seus primeiros filmes, “Romance em alto-mar”, foi dos primeiros a reconhecer nela uma cantora técnica e emocionalmente fabulosa.

“Posso afirmar que Doris sempre foi grande – disse ele. – Eu a conheço desde os tempos em que... não era virgem.

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