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Economia

Crise empurra 1 milhão de famílias para as classes D e E

Com mais gente na base da pirâmide social, segmento mais pobre da população vai consumir R$ 450 bi este ano, prevê estudo
Com a crise prolongada, quase um milhão d epessoas serão deslocadas para as classes D/E Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo
Com a crise prolongada, quase um milhão d epessoas serão deslocadas para as classes D/E Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo

RIO — A crise prolongada vai levar quase um milhão de famílias a engrossar as classes D/E este ano, a mais baixa na pirâmide de renda , de acordo com estudo inédito do IPC Marketing. Pelas estimativas do economista Marcos Pazzini, diretor do IPC e responsável pela pesquisa, vão descer um degrau de classe econômica, 988.472 mil lares para a faixa de rendimento médio domiciliar de até R$ 708 mensais, o que representa queda de 58% em relação à classe superior, a C.

Com isso, o consumo nesse segmento é o que mais vai crescer este ano, nas contas de Pazzini. A alta será de 14,2%, contra 7,2% da classe A.

O segmento mais pobre injetará R$ 450 bilhões na economia em 2019, segundo as previsões. Pouco abaixo do consumo da classe A, que será de R$ 595 bilhões. A diferença é que a classe A concentra 1,47 milhão de famílias, o que representa apenas 8,6% do contingente da classe D/E, com seus 17,12 milhões de domicílios.

Mais microempresas

De acordo com a pesquisa, haverá queda no número de domicílios nas classes C, B e A. Somente na base da pirâmide de renda haverá aumento no número de famílias, indicando empobrecimento.

— O crescimento maior do consumo das classes D/E virá principalmente do aumento no número de famílias — afirma Pazzini.

Apesar da piora das projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o estudo mostra que o potencial de consumo do Brasil este ano deve crescer 2,7%, para R$ 4,7 trilhões, já com o desconto da inflação. Pazzini diz que o desempenho do consumo das famílias tem melhorado, mesmo com a recuperação lenta:

— No ano passado, o consumo das famílias cresceu quase o dobro do PIB, 1,9% contra 1,1%. Em 2017, tinha empatado e, em 2016, teve queda superior à do PIB. O consumo se recupera. Há um movimento grande de criação de microempresas no país. Subiu quase 13% este ano, com a criação de pessoa jurídica no lugar do emprego formal.

Pazzini refere-se a 10,4 milhões de microempresas no país, número já 12,4% maior que o registrado em 2018. As pequenas também cresceram. Eram 20,2 milhões no ano passado, número bem superior aos 18 milhões de 2016.

O aumento do consumo será majoritariamente em bens de primeira necessidade, segundo o estudo. Os gastos com manutenção do lar, que são as despesas com água, luz, aluguel, telefone e gás, concentram a maior parte dos R$ 4,7 trilhões previstos. São 39,1% do orçamento das famílias destinados a essas despesas. Em 2014, eram 35,1%.

Apesar de a inflação ter subido no início do ano, pressionada pelos alimentos, os preços de legumes, verduras e frutas devem cair e dar uma folga no orçamento das famílias, esperam os economistas.

— A queda da inflação forte de alimentos em 2017 deu um alívio numa situação econômica frágil, que permanece. A partir de maio, as famílias devem ter alívio no bolso, pois os preços dos alimentos tendem a se acomodar —diz Silvia Matos, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Para Marcelo Azevedo, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a mudança de humor dos consumidores na última sondagem feita pela entidade ainda não é uma tendência consolidada.