Por BBC


Brie Larson, que vive a Capitã Marvel, e Tessa Thompson, a Valquíria de 'Vingadores', brincaram no Twitter que suas personagens poderiam formar um casal fofo — Foto: Getty Images via BBC

ALERTA DE SPOILER! Este texto contém detalhes de filmes da Marvel, incluindo lançamentos recentes.

Você pode não saber, mas a Marvel apresentou seu primeiro personagem LGBTQ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Queers) no recente filme 'Vingadores: Ultimato'.

Não, ele não participou da batalha final. É o homem enlutado que integra o grupo de apoio liderado por Steve Rogers, o Capitão América.

Na cena, o personagem fala de quando perdeu seu parceiro após o estalo de Thanos e sobre como algum tempo depois ele saiu para um encontro com outro homem, no qual choraram a morte dos que se foram.

O personagem era tão importante para o diretor Joe Russo que ele mesmo decidiu interpretá-lo.

"É um momento perfeito, porque uma das coisas que são mais atrativas para o universo Marvel é seu foco na diversidade", disse Russo em entrevista à revista Deadline. "Era importante para nós, como fizemos quatro desses filmes, que existisse um personagem gay em algum deles. Sentimos que era importante que um de nós o representasse, para garantir a integridade e mostrar que é tão importante para os cineastas que um de nós tenha representado isso. É um momento perfeito, porque uma das coisas que precisa ser convincente sobre o Universo Marvel é o seu foco na diversidade."

Somente em 2019 a Marvel estreou uma produção tendo uma mulher como personagem principal, 'Capitã Marvel' — Foto: Marvel Studios

Os espectadores foram apresentados ao universo dos Vingadores em uma série de filmes: "Homem de Ferro" em 2008, "Thor" e "Capitão América" em 2011.

São três filmes de enorme sucesso sobre homens brancos com superpoderes.

Somente em 2018 a Marvel levou às telas um longa protagonizado por um personagem negro, "Pantera Negra", e, em 2019, uma produção encabeçada por uma mulher, "Capitã Marvel".

E nenhum dos 22 filmes da franquia Vingadores, em 11 anos, incluiu um personagem principal que é LGBTQ.

"Eu acho que é muito revelador que os irmãos Russo (os diretores Anthony e Joe Russo) tenham feito tanto alarde sobre a inclusão de um personagem abertamente gay", disse Philip Ellis, um jornalista da cultura pop de Birmingham, ao programa Newsbeat da BBC. "Se eles não tivessem dito nada sobre isso, aquela cena poderia ter sido vista como uma agradável surpresa, mas como eles fizeram tanto alarde, ela deixou bastante a desejar."

A cena também desapontou outra jornalista, Gabriella Geisinger, que escreve sobre filmes para o jornal inglês The Daily Express.

"Não tinha aquele letreiro de neon para chamar a atenção, o que de certa forma é bom e normaliza isso." Mas, por outro lado, segundo ela, a cena passa tão batida que não mostra o quão significativa é.

Críticos esperam que provável herói gay da Marvel não siga o estereótipo dos protagonistas homens brancos como o Capitão América, interpretado por Chris Evans — Foto: Getty Images via BBC

Personagem bissexual

É possível que já exista um personagem gay em Vingadores.

A atriz Tessa Thompson sempre deu vida à sua personagem Valquíria como se ela fosse bissexual, isso estando ou não no roteiro.

"Mesmo que não esteja escrito no roteiro, a maneira que ela interage com o mundo ao seu redor vem de um lugar de ser uma mulher bissexual", diz Geisinger.

Dentro do universo cinematográfico da Marvel ainda estamos em uma era de pioneirismo - com personagens negros e femininos apenas começando a liderar filmes nos últimos 18 meses.

Tanto "Pantera Negra" quanto Capitã Marvel ganharam mais de US$ 1 bilhão (R$ 3,94 bilhões) nas bilheterias mundiais - muito mais do que "Thor: Ragnarok", "Homem Aranha: De Volta ao Lar" ou "Doutor Estranho".

O próximo herói da Marvel parece que será um personagem LGBTQ, interpretado por um ator gay em "Os Eternos" - que fala de uma antiga raça de seres superpoderosos que ganharam poderes devido às experiências de um raça alienígena chamada Os Celestiais.

"Vai ser muito decepcionante se eles escolherem um tipo muito tradicional masculino, como Capitão América, que seja gay apenas no nome", diz Philip.

"Homens brancos são vistos como um padrão tanto na cultura pop em geral quanto na comunidade LGBTQ. Eu gostaria de ver uma mulher negra gay no papel principal ou um herói não-binário (a pessoas cuja identidade ou expressão de gênero não se limita às categorias masculino ou feminino)."

Em 2018 a Marvel estreou um longa protagonizado por um negro, 'Pantera Negra'; críticos dizem que falta mais diversidade nas superproduções — Foto: Getty Images via BBC

Censura

Philip diz que, se esse passo da Marvel se confirmar, já é possível esperar reações críticas a "Os Eternos" em lugares como a China, onde o conteúdo LGBTQ em filmes é fortemente censurado.

"Não deveria ser assim, mas é preciso um certo tipo de coragem criativa para contar esses tipos de histórias e incluir esses personagens", diz ele. "Nós assumimos que os personagens são heterossexuais a menos que nos digam o contrário. Vai ser interessante e, provavelmente, bastante confuso quando tivermos esses primeiros grandes personagens gays em filmes de franquias gigantes. Mesmo em uma versão muito editada, você tem pessoas que são gays e marginalizadas em lugares como Rússia e China e elas merecem se ver na tela também."

E, embora a franquia dos Vingadores seja sobre heróis e galáxias, os relacionamentos românticos desempenharam um papel importante em muitas das histórias de seus personagens.

O relacionamento da Feiticeira Escarlate e Visão é uma parte fundamental de "Vingadores: Guerra Infinita" e resulta em uma das cenas mais repletas de ação em "Vingadores: Ultimato".

O amor do Capitão América por Peggy Carter também o leva a uma decisão importante em "Vingadores: Ultimato".

A jornalista Gabriella Geisinger diz que gostaria de ver filmes de super-heróis tratando com a mesma importância e naturalidade relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo.

"Nós entramos nesses filmes assumindo que todos os personagens são heterossexuais, a menos que nos digam o contrário", diz ela. "Infelizmente, até que a sociedade chegue a um ponto em que não precisemos assumir isso, acho que você sempre terá que fazer uma pequena declaração sobre um personagem e sua orientação sexual."

Para Philip, seria uma inspiração para a geração mais jovem se a Marvel mostrasse um heróis LGBTQ na tela, "abertamente gay, vivendo sua melhor vida" e "salvando o universo".

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