Economia

Brasil é o país que mais gasta com aposentadoria na América Latina, diz BID

Despesa com idosos corresponde a 7 vezes valor destinado a jovens
Reforma da Previdência Foto: Pixabay
Reforma da Previdência Foto: Pixabay

BRASÍLIA — O Brasil é o país da América Latina que mais gasta com aposentadoria e onde essas despesas têm trajetória mais explosiva. De acordo com dados que serão divulgados hoje pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Previdência consumiu 12,5% do PIB em 2015, último ano com dados disponíveis. Em 2065, se não houver reforma no sistema, esse número saltará para 50,1%. Esse volume representaria 138% da projeção de gastos em 2065 - a conta não fecha.

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O gasto excessivo com Previdência no Brasil, aponta o estudo, revela um desequilíbrio que compromete as gerações futuras. De acordo com o levantamento, o país gasta com a população mais velha sete vezes o que destina aos mais jovens, que demandam despesas como educação.

— A primeira e mais óbvia recomendação é a reforma da Previdência — pontua Alejandro Izquierdo, assessor Sênior do Departamento de Pesquisa do BID e um dos autores do estudo.

— É preciso pensar no futuro gastando mais com crianças do que com os mais velhos. Na América Latina, países gastam, em média, quatro vezes com os idosos, em relação ao que gastam com crianças. No Brasil, são sete vezes. Você não está investindo no futuro. Acho que isso é uma das mensagens-chave deste relatório — explica ele.

Na média da América Latina, os gastos com idosos correspondem a quatro vezes as despesas com jovens.

No Brasil, em 14 estados a remuneração média dos servidores aposentados supera a dos ativos . No Rio de Janeiro, as rendas já estão encostando. Inativos recebem R$ 5,4 mil mensais e os ativos, R$ 5,6 mil. Os dados são de um levantamento feito pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Argentina é o segundoO relatório do BID mostra que, sem reforma, as despesas com Previdência devem crescer bem mais que em outros países da região. No ranking com 19 nações da América Latina e do Caribe, a Argentina aparece em segundo lugar. Nos vizinhos, os gastos com aposentadoria saltarão de 11,4% para 21% nos próximos cinquenta anos. A situação é menos crítica em países que passaram por reformas.

No Chile, frequentemente citado pela equipe econômica como referência local, o sistema previdenciário consome 3,5% do PIB, número que saltará para 6,2% até 2065.

Envelhecimento: 30% das cidades brasileiras tem mais aposentados do INSS que trabalhadores formais

De acordo com o estudo, a idade média de aposentadoria ajuda a explicar os altos gastos com o sistema no Brasil. O documento pontua que o quadro está relacionado ao “elevado gradiente de envelhecimento, bem como ao fato de que a maioria das pessoas se aposenta antes dos 60 ou 65  anos e recebe pelo menos o salário mínimo como aposentado”.

A realidade também é observada no resto da América Latina, onde o envelhecimento da população puxou esses gastos. O BID diz que governos precisam preservar gastos com os mais jovens, que tendem a ser esmagados com demandas cada vez maiores por parte da população mais velha.

“Sem reformas, o gasto público com o envelhecimento na região deverá aumentar de 16% para 27,6% do PIB de 2015 a 2065. Os custos das aposentadorias deverão contribuir mais para o aumento do gasto relacionado com idade, aumentando 8 pontos percentuais. O gasto público com saúde deverá aumentar 5,2 pontos percentuais até 2065, enquanto o gasto com educação deverá diminuir 1,6 ponto percentual, já que os gastos por estudante permanecem estáveis no nível de 2015”, alerta o documento.

A reforma da Previdência faz parte de uma série de recomendações feitas pelo BID para que os países da América Latina, inclusive o Brasil, direcionem melhor os gastos públicos.Gastos com servidoresAlém do sistema de aposentadorias, o estudo destaca que é preciso diminuir o peso dos gastos com servidores. Para isso, a principal medida seria reduzir a diferença entre salários nos setores público e privado. No governo federal, servidores chegam a ganhar 67% mais que seus pares no setor privado. Na América Latina, esse gap é de 23%.

Para corrigir essas distorções, o estudo sugere ações como eliminação de cargos públicos em áreas superlotadas e freio nas contratações de servidores — duas medidas que já foram tomadas pelo Ministério da Economia por meio de dois decretos editados nos últimos meses. O relatório recomenda ainda o congelamento temporário de salários, com reajustes que cubram apenas a inflação, mas a avaliação dos autores é que a medida não seria necessária especificamente no Brasil.

- Precisamos rever os diferenciais, usando como referência salários do setor privado. Congelamentos temporários são para casos muito específicos. Não estamos recomendando para o Brasil - afirma Carola Pessino, especialista em gestão fiscal que também assina o relatório.

Os autores destacam ainda que, ao reduzir gastos obrigatórios, o país conseguirá direcionar recursos para investimentos — o que não ocorreu nos últimos anos. De 1993 a 2015, as chamadas despesas de capital no Brasil recuaram de 29,5% do total do gasto primário para 5,7%.

DESPESAS INEFICAZES
Brasil apresenta desequilíbrio nos valores despendidos com Previdência e saúde
Gastos com aposentadorias (% do PIB)
2015
2065
12,5
Brasil
50,1
11,4
Argentina
21
4,4
Equador
18
12,1
Uruguai
16,7
3
Nicarágua
14,1
5,5
Costa Rica
13,1
3
Bahamas
10,2
5,5
Colômbia
9,8
2,4
Belize
9,1
3,1
Paraguai
8
3,1
México
7,3
3
Barbados
6,7
1,7
Honduras
6,3
3,5
Chile
6,2
4,1
Bolívia
5,7
7 vezes
8,3%
É a proporção de gastos no Brasil
Redução de desigualdade no Brasil
com a população mais velha, em relação
por meio de impostos diretos e
às despesas com mais jovens
programas de transferência. Em países
desenvolvidos, redução chega a 38%
4 vezes
39% do PIB
É a média da América Latina e Caribe
É a proporção dos gastos públicos
para a proporção de gastos com os
idosos em relação às despesas com
no Brasil, sete pontos percentuais
mais jovens. Nos EUA, a relação é de
a mais que no início de 2003
dois para um
6,8
Costa Rica
Gastos com
saúde (% do PIB)
13,1
4,5
El Salvador
12,9
2015
6,1
Uruguai
12,1
2065
5,5
Colômbia
11,4
4,4
Honduras
10,9
6,4
Argentina
10,3
3,9
Chile
8,9
4,2
Brasil
8,1
3,3
México
7
Fonte: Banco Interamericano
de Desenvolvimento (BID)
3,3
Peru
6
DESPESAS INEFICAZES
Brasil apresenta desequilíbrio nos valores despendidos com Previdência e saúde
Gastos com aposentadorias (% do PIB)
Brasil
Argentina
Equador
Uruguai
Nicarágua
Costa Rica
Bahamas
Colômbia
Belize
Paraguai
México
Barbados
Honduras
Chile
Bolívia
7 vezes
É a proporção de gastos no Brasil
com a população mais velha, em relação
às despesas com mais jovens
4 vezes
É a média da América Latina e Caribe
para a proporção de gastos com os
idosos em relação às despesas com
mais jovens. Nos EUA, a relação é de
dois para um
8,3%
Redução de desigualdade no Brasil
por meio de impostos diretos e
programas de transferência. Em países
desenvolvidos, redução chega a 38%
39% do PIB
É a proporção dos gastos públicos
no Brasil, sete pontos percentuais
a mais que no início de 2003
Gastos com saúde (% do PIB)
Costa Rica
El Salvador
Uruguai
Colômbia
Honduras
Argentina
Chile
Brasil
México
Peru
Fonte: Banco Interamericano
de Desenvolvimento (BID)