Os Estados Unidos mantiveram hoje o impasse sobre a adesão de novos membros na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Ao mesmo tempo, o governo de Donald Trump elogiou a “posição de liderança” do Brasil em abrir mão do Tratamento Especial e Diferenciado (TED) em acordos da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Significa que a barganha feita entre Jair Bolsonaro e Donald Trump está desequilibrada até o momento. Em 19 de março, em Washington, o presidente brasileiro anunciou que o Brasil começaria a abrir mão do TED, que dá mais flexibilidade na implementação de acordos comerciais. Em contrapartida, Trump prometeu dar “apoio para que o Brasil inicie o processo de acessão com vistas a tornar-se membro pleno da OCDE”.
A expectativa nos meios diplomáticos era de o governo Trump aproveitar a reunião do Conselho de Representantes na OCDE, ocorrida hoje, a última que antecede a conferência ministerial de 22 e 23 deste mês em Paris, para enfim desbloquear a demanda brasileira e de outros países para aderir à organização. Isso é considerado importante para impulsionar reformas e integrar mais o Brasil na economia global.
O Valor apurou, porém, que a delegação americana mais uma vez repetiu que “não tinha instruções” para uma decisão do Conselho sobre possível adesão de novos membros.
Os americanos reafirmam a representantes brasileiros que o governo Trump apoia a entrada do Brasil na OCDE. Mas que o alargamento da entidade deve vir num contexto de sua modernização, sem dizer exatamente o que isso quer dizer.
O que continua na mesa, oficialmente, é a proposta que Washington apresentou em dezembro, na qual apoiava a entrada da Argentina e, para assegurar isso, aceitava ao mesmo tempo a adesão da Romênia impulsionada pela União Europeia (UE).
Até agora Washington não mudou seu documento, para incluir o Brasil em sua proposta ao lado dos argentinos. O que parece certo é que os europeus vão querer emplacar o mesmo número de países que os americanos. Além da Romênia, a Bulgária está na lista para negociar adesão.
Agora as atenções vão estar voltadas para a conferência ministerial da OCDE, dentro de duas semanas. O ministro da Fazenda, Paulo Guedes, é esperado como um dos participantes convidados.
Por sua vez, também hoje, em Genebra, na OMC a delegação americana voltou a se posicionar pelo desmantelamento do Tratamento Especial e Diferenciado (TED) como existe hoje e não poupou elogios à posição do Brasil nas discussões do tema.
Em sua intervenção, o Brasil reiterou que não vai alterar seu status de país em desenvolvimento, mas não pedirá TED em negociações de acordos em curso ou no futuro. No entanto, frisou que vantagens obtidas através do TED no passado, e em vigor, serão mantidas.
Já países como Paquistão insistiram que o TED é inegociável e rejeitam inclusive uma proposta moderada feita pela Noruega.