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Política Bolsonaro

Análise: As redes e as ruas forçaram recuo sobre criação de ministérios

Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, é quem deve pagar a maior fatura política
Esplanada dos Ministérios vista do Congresso Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo
Esplanada dos Ministérios vista do Congresso Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo

BRASÍLIA — O recuo na criação do Ministério das Cidades tem um grupo visível de vencedores: os militantes alinhados ao governo que ameaçam ir às ruas e atacaram o acordo nas redes sociais desde o dia em que ele foi firmado, há duas semanas. O campo dos derrotados, por sua vez, é amplo, mas tem um quarteto na linha de frente: os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, o líder do governo Fernando Bezerra e o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que negociaram a recriação da pasta.

Dos quatro, Maia é quem deve pagar a maior fatura. A recriação do ministério foi apontada inicialmente como resultado de uma pressão do Centrão. Só que os líderes dos principais partidos deste grupo negaram ter dado aval à negociação e jogaram a responsabilidade pela conversa no colo do presidente da Casa. Não à toa, argumentaram, o principal cotado para assumir a pasta era o ex-ministro Alexandre Baldy, amigo de Maia. Ao final, a imagem que ficou era de que o presidente da Câmara estava usando o parlamento para emplacar um aliado no Executivo.

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Ao recuar do acordo, o Congresso parece admitir ter caído em uma armadilha ao tentar emparedar o presidente da República. Bolsonaro deixou claro desde o primeiro momento que os termos da negociação foram levados a ele já prontos e, em entrevista, fez questão de dizer que exigiria que o nome do ministro fosse indicado pela Frente dos Municípios.

Se o presidente preserva assim a imagem de que não aceita o fisiologismo, por outro lado mina ainda mais a frágil articulação política de seu governo. Em Brasília, o respeito aos acordos firmados entre líderes é central para o andamento da pauta congressual.

Se não quiser passar os próximos anos vendo suas propostas caminharem aos soluços, algo parecido com um diálogo sério e transparente precisará ser institucionalizado entre Executivo e Legislativo. A menos que o presidente já tenha optado por apostar todas as fichas na pressão permanente como método de governo. E é bom lembrar que esta pode funcionar em temas populares, mas dificilmente será efetiva em temas áridos e complexos como as reformas econômicas.