Política Bolsonaro

Maioria dos brasileiros é contra a flexibilização das regras de armas, diz Ibope; rejeição é maior na periferia

Mulheres são principais opositoras da medida, que é promessa de campanha do governo; apenas 31% acham que armar mais pessoas tornaria sociedade mais segura
Edital preparado pelo ministério da Justiça prevê compra de 106 mil pistolas 9mm Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
Edital preparado pelo ministério da Justiça prevê compra de 106 mil pistolas 9mm Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo

RIO — Em cinco meses de governo, o presidente Jair Bolsonaro editou três decretos para flexibilizar a posse e o porte de armas no Brasil, uma de suas principais promessas de campanha. Uma pesquisa do Ibope mostra, porém, que o Palácio do Planalto não goza do apoio da maioria da população nesta seara: 61% dos entrevistas são contra afrouxar as regras de posse e 73% se disseram contrários ao porte de armas para cidadãos comuns, conforme antecipou o colunista do GLOBO Lauro Jardim . A rejeição é maior entre mulheres.

De acordo com o levantamento, apenas 37% dos entrevistados se disseram favoráveis à flexibilização da posse de arma de fogo. O afrouxamento das regras, objeto de um decreto presidencial editado por Bolsonaro em janeiro, só é apoiado majoritariamente no estrato dos que ganham mais de cinco salários-mínimos (53%). Na região Sul, a mais aderente à medida, há empate técnico (48% a favor e 51%, contra). Enquanto isso, sete em cada dez pessoas ouvidas nas periferias brasileiras discordaram da flexibilização.

flexibilização da posse de arma de fogo
Por gênero
A favor da posse de arma de fogo
Contra a posse de arma de fogo
Não sabe/não respondeu
Homens
Mulheres
MÉDIA
1%
2%
2%
50%
27%
37%
49%
71%
61%
Por região
A favor da posse de arma de fogo
Contra a posse de arma de fogo
Não sabe/não respondeu
Norte/Centro-Oeste
Nordeste
Sudeste
Sul
2%
1%
2%
1%
43%
33%
35%
48%
55%
66%
63%
51%
Fonte: IBOPE
flexibilização da
posse de arma de fogo
Por gênero
A favor da posse de arma de fogo
Contra a posse de arma de fogo
Não sabe/não respondeu
Homens
Mulheres
MÉDIA
1%
2%
2%
50%
27%
37%
49%
71%
61%
Por região
A favor da posse de arma de fogo
Contra a posse de arma de fogo
Não sabe/não respondeu
Norte/
Centro-Oeste
2%
1%
2%
1%
43%
33%
35%
48%
55%
Nordeste
66%
Sudeste
63%
Sul
51%
Fonte: IBOPE

A rejeição ao porte de armas — condição em que o dono da arma é autorizado a carregá-la consigo nas ruas — é ainda maior. Apenas 26% são a favor, e oito em cada dez mulheres discorda da medida. Na perifeira, 75% condenam flexibilizar as regras. No Sudeste, 76% dos entrevistados são contrários à liberação do porte. O levantamento do Ibope foi realizado entre os dias 16 e 19 de março, antes da publicação do decreto presidencial, editado em maio, que ampliou as categorias que têm direito ao porte de arma.

A pesquisa do Ibope aponta que a maioria da população brasileira discorda totalmente que aumentar o número de pessoas armadas torne a sociedade mais segura (51%) — 16% concordam totalmente e 15%, em parte. Apenas 31% têm total convicção de que ter uma arma em casa a torne mais segura e 18%, de que carregar um armamento traz mais segurança ao portador. Neste último caso, 47% discordam completamente.

flexibilização do porte de arma de fogo
Por gênero
A favor do porte de arma de fogo
Contra o porte de arma de fogo
Não sabe/não respondeu
Homens
Mulheres
MÉDIA
1%
2%
1%
34%
18%
26%
65%
80%
73%
Por região
A favor do porte de arma de fogo
Contra o porte de arma de fogo
Não sabe/não respondeu
Norte/Centro-Oeste
Nordeste
Sudeste
Sul
z%
0%
2%
0%
34%
27%
22%
29%
65%
73%
76%
71%
Fonte: IBOPE
flexibilização do
porte de arma de fogo
Por gênero
A favor do porte de arma de fogo
Contra o porte de arma de fogo
Não sabe/não respondeu
Homens
Mulheres
MÉDIA
1%
2%
2%
50%
27%
37%
49%
71%
61%
Por região
A favor do porte de arma de fogo
Contra o porte de arma de fogo
Não sabe/não respondeu
Norte/
Centro-Oeste
2%
1%
2%
1%
43%
33%
35%
48%
55%
Nordeste
66%
Sudeste
63%
Sul
51%
Fonte: IBOPE

Posse de armas

De acordo com o Ibope, metade dos entrevistados homens se disse favorável à flexibilização da posse de armas e 49% se declararam contrários à medida. Entre as mulheres, porém, a rejeição sobe para 71% (27% apoiam). A rejeição parte de pessoas de todas as idades, mas tende a ser maior entre os mais velhos. Nos estratos de 45 a 54 anos e de 55 anos ou mais, 63% discordam da flexibilização, enquanto nos de 16 a 24 anos há 40% de apoio à proposta do governo.

A rejeição tende a ser maior também entre os entrevistados de menor escolaridade, embora não haja grande dispersão. Há 32% de apoio e 65% de rejeição ao afrouxamento da posse entre os que estudaram até a 4ª série do ensino fundamental. No ensino médio, é 41% a 59% e no superior, 38% a 59%.

como era E
como ficou
Mais duas categorias
Limite na compra de
armas e munições
Primeiro decreto
Na versão anterior, entre as 20
categorias que tiveram porte
facilitado, estavam apenas advogados
do setor público e proprietários ou
dirigentes de lojas de armas e de
escolas e clubes de tiro
Primeiro decreto
A versão anterior da medida não
Segundo decreto
estipulava quantidade máxima de armas
O decreto permite agora que
todos os
e munições para colecionadores,
tenham direito ao
advogados do país
caçadores e atiradores
porte de arma. Esse número, segundo a
Segundo decreto
OAB, chega a 1,139 milhão de
profissionais. Também receberam o
Estabelece limite de armas que
direito os
funcionários de lojas de
colecionadores, caçadores e atiradores
armas e de escolas e clubes de tiro
poderão adquirir: cinco, 15 e 30,
que sejam responsáveis pela guarda
respectivamente. O limite poderá ser
dos armamentos
ultrapassado, com autorização da PF.
As munições que essas categorias
podem comprar ficam limitadas a mil,
inconstitucional
total que pode ser ultrapassado com
Mesmo com as
autorização do Comando do Exército
mudanças, o decreto é
considerado inconstitucional por
Arma ostensiva
especialistas. Um dos principais
pontos criticados é que o texto
alterou o Estatuto do
Desarmamento ao aumentar o
número de categorias profissionais
Primeiro decreto
com acesso facilitado à arma
Havia apenas expressão proibindo o
uso ostensivo de arma, sem previsão de
Crianças
punição e perda de porte no caso de
embriaguez
Segundo decreto
O porte será suspenso por um ano
caso o portador conduza arma
Primeiro decreto
“ostensivamente”. Caso haja
A versão anterior dizia que a prática em
reincidência, a permissão será
clubes de tiro seria permitida a qualquer
cancelada. A autorização também será
menor de 18 anos, desde que
revogada se o portador de arma for
autorizado por um dos pais
abordado “em estado de embriaguez
ou sob efeito de substâncias químicas
Segundo decreto
ou alucinógenas”
Novo texto diz que a prática é
permitida para jovens entre 14 e 18
anos, desde que autorizado pelos seus
Fuzil
responsáveis legais, ou apenas um
deles, na falta do outro
Área rural
Primeiro decreto
Estavam liberados tanto a posse quanto
o porte de armas portáteis de uso
permitido, o que inclui o fuzil, que se
Primeiro decreto
encaixava nos critérios técnicos
previstos
Incluiu os moradores de áreas ruais
entre as categorias sem necessidade de
Segundo decreto
comprovar “efetiva necessidade” para o
porte de armas
O governo passou a proibir o porte de
fuzil. O novo decreto ainda autoriza a
Segundo decreto
qualquer pessoa a posse, mas o
comando do Exército terá prazo de 60
Em áreas rurais, o decreto condiciona a
dias para estabelecer quais armas serão
autorização do porte de armas à “justa
permitidas. Segundo o Jornal Nacional,
posse” da terra — termo que tem o
o fuzil T4 será considerado pelo Exército
objetivo de impedir que invasores de
arma de uso restrito, o que impede sua
propriedades, como movimentos sem
compra por civis
terra, tenham esses armamentos
como era E como ficou
Limite na compra de
armas e munições
Primeiro decreto
A versão anterior da medida não
estipulava quantidade máxima de armas
e munições para colecionadores,
caçadores e atiradores
Segundo decreto
Estabelece limite de armas que
colecionadores, caçadores e atiradores
poderão adquirir: cinco, 15 e 30,
respectivamente. O limite poderá ser
ultrapassado, com autorização da PF.
As munições que essas categorias
podem comprar ficam limitadas a mil,
total que pode ser ultrapassado com
autorização do Comando do Exército
Mais duas categorias
Primeiro decreto
Na versão anterior, entre as 20
categorias que tiveram porte
facilitado, estavam apenas advogados
do setor público e proprietários ou
dirigentes de lojas de armas e de
escolas e clubes de tiro
Segundo decreto
O decreto permite agora que
todos os
tenham direito ao
advogados do país
porte de arma. Esse número, segundo a
OAB, chega a 1,139 milhão de
profissionais. Também receberam o
direito os
funcionários de lojas de
armas e de escolas e clubes de tiro
que sejam responsáveis pela guarda
dos armamentos
inconstitucional
Mesmo com as
mudanças, o decreto é
considerado inconstitucional por
especialistas. Um dos principais
pontos criticados é que o texto
alterou o Estatuto do
Desarmamento ao aumentar o
número de categorias profissionais
com acesso facilitado à arma
Fuzil
Primeiro decreto
Estavam liberados tanto a posse quanto
o porte de armas portáteis de uso
permitido, o que inclui o fuzil, que se
encaixava nos critérios técnicos
previstos
Segundo decreto
O governo passou a proibir o porte de
fuzil. O novo decreto ainda autoriza a
qualquer pessoa a posse, mas o
comando do Exército terá prazo de 60
dias para estabelecer quais armas serão
permitidas. Segundo o Jornal Nacional,
o fuzil T4 será considerado pelo Exército
arma de uso restrito, o que impede sua
compra por civis
Área rural
Primeiro decreto
Incluiu os moradores de áreas ruais
entre as categorias sem necessidade de
comprovar “efetiva necessidade” para o
porte de armas
Segundo decreto
Em áreas rurais, o decreto condiciona a
autorização do porte de armas à “justa
posse” da terra — termo que tem o
objetivo de impedir que invasores de
propriedades, como movimentos sem
terra, tenham esses armamentos
Crianças
Primeiro decreto
A versão anterior dizia que a prática em
clubes de tiro seria permitida a qualquer
menor de 18 anos, desde que
autorizado por um dos pais
Segundo decreto
Novo texto diz que a prática é
permitida para jovens entre 14 e 18
anos, desde que autorizado pelos seus
responsáveis legais, ou apenas um
deles, na falta do outro
Arma ostensiva
Primeiro decreto
Havia apenas expressão proibindo o
uso ostensivo de arma, sem previsão de
punição e perda de porte no caso de
embriaguez
Segundo decreto
O porte será suspenso por um ano
caso o portador conduza arma
“ostensivamente”. Caso haja
reincidência, a permissão será
cancelada. A autorização também será
revogada se o portador de arma for
abordado “em estado de embriaguez
ou sob efeito de substâncias químicas
ou alucinógenas”

A região mais avessa à flexibilização da posse é o Nordeste, com 33% de apoio e 66% de rejeição. No Norte/Centro-Oeste, os números vão a 43% a 55%. No Sudeste, 63% discordam e 35% concordam com a medida. No Sul, há empate técnico, 48% a 51% — único lugar em que, nos números absolutos, o apoio supera a rejeição. O único estrato de poder aquisito em que isso ocorre é entre os mais ricos (53% apoiam). Enquanto isso, entrevistados que vivem com até um salário-mínimo rejeitam a posse em 68%.

Segundo a pesquisa, 70% dos entrevistados da periferia são contrários à proposta. A rejeição cai na capital para 62% e no interior, para 58%. As cidades com mais de 500 mil habitantes são as mais avessas à alteração das regras (64%).

Porte de armas

O Ibope identificou que 73% dos entrevistados são contrários ao porte de armas para cidadãos comuns. O "não" entre os homens é de 65% e entre as mulheres, de 80%. Em todas as faixas etárias divididas pelo instituto, a rejeição supera 70%. O mesmo quase ocorre em termos de escolaridade: quem parou os estudos na 5ª à 8ª séries do fundamental condena esta proposta em 69%. No ensino médio, são contrários 75% e no superior, 73%. Os moradores do Sudeste são os mais avessos ao porte de armas (76%); os mais flexíveis são Norte/Centro-Oeste, embora o rejeitem em 65%.

Até no Sul, que apoia a posse, o porte de armamento é condenado por 71%. Os entrevistados que vivem com mais de cinco salários-mínimos, também defensores de se ter uma arma em casa, recusam a autorização de carregá-la nas ruas em 69%.

Da mesma forma, a periferia é a maior opositora do alargamento do porte de armas (75% dos entrevistados destas áreas assim se declararam). Na capital e no interior, é 72%.

Ter arma em casa

Ainda de acordo com a pesquisa do Ibope, 31% dos entrevistados têm completa convicção de que "ter uma arma em casa a deixa mais segura". Outros 17% concordam em parte. Enquanto isso, 37% discordam totalmente e 13%, em parte. O levantamento aponta que 44% dos homens concorda totalmente e 45% das mulheres se opõem completamente.

Se somarmos os percentuais de quem concorda total e parcialmente, as regiões Norte/Centro-Oeste e Sul apoiam em maioria a relação entre arma em casa e maior segurança (57% e 56%, respectivamente). Na pesquisa, 52% dos entrevistados do Nordeste disseram discordar integralmente ou em parte disso e 55% declararam o mesmo no Sudeste.

A afirmação apresentada pelo Ibope é aceita em maioria apenas no interior do país, nos números absolutos — 51% concordam em tudo ou em parte. Na capital, 52% discordaram da relação entre arma em casa e segurança e, na periferia, 60%.

Carregar uma arma

O Ibope também questionou os entrevistados se eles concordavam com a máxima de que carregar uma arma faz o portador ficar mais seguro. Neste caso, 47% discordaram totalmente e outros 18%, em parte.

No Nordeste, 68% dos entrevistados declararam não apoiar a afirmação, em tudo ou em parte (31% concordaram). No Sudeste, 67% apontaram o mesmo (apenas 28% concordaram). A maior adesão à máxima ocorreu no Norte/Centro-Oeste (44%).

Na periferia, 28% concordaram com a frase e 69%, não, no todo ou em parte. Na capital e no interior, o número de entrevistados opostos à afirmação ficou em 64%.

Sociedade mais segura?

O Ibope ainda perguntou aos entrevistados se aumentar o número de pessoas armas tornaria a sociedade mais segura. Para 51% deles, a resposta é um convicto "não". Apenas 31% concordaram que este seria um efeito da maior presença de armas.

Entre os homens, 45% discordaram totalmente da hipótese, e 56% das mulheres disseram o mesmo. A rejeição à pergunta foi maior no Nordeste (71% se opuseram, 54% delas completamente). Metade dos entrevistados do Sul destacou ter total convicção de que mais armas não resultariam em mais segurança — no Sudeste, estes foram 53% e no Nordeste, 54%.

A negativa foi destaque nas periferias, onde 74% discordaram, no todo ou em parte, da afirmação proposta. Só 25% concordaram. Nas capitais, o índice de rejeição também foi alto, de 71%. Nas áreas do interior, a adesão à hipótese chegou a 33%, mas a discordância foi a 64%.

A pesquisa foi realizada entre 16 e 19 de março, com 2002 entrevistados em 143 municípios. A margem de erro estimada é de dois pontos percentuais, para mais e para menos. O nível de confiança é de 95%, segundo o Ibope. O levantamento foi realizado por iniciativa própria do instituto.