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Esportes Copa 2018

Opinião: A verdade é que Tite neutralizou o debate

Critérios e um olhar para o Brasileirão: como ficamos com pouquíssimos argumentos
Tite anunciou os 23 convocados para a Copa nesta segunda-feira Foto: Marcelo Theobald
Tite anunciou os 23 convocados para a Copa nesta segunda-feira Foto: Marcelo Theobald

Blasée, a revista "Kicker", da Alemanha, se surpreendeu com a presença de Pedro Geromel, ex-Köln, sentiu falta de Rafinha e viu as esperanças depositadas num Neymar que, por ora, está sem condições. O "L'Équipe", de Paris, sentiu falta de Fabinho e Luiz Gustavo. A "Gazzetta dello Sport" notou a ausência de Alex Sandro. Já o "Olé", talvez por inveja, se impressionou com a lista de Tite : "É time de sobra".

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Depois de convocar 64 nomes, os 23 que ele entrega na lista final são um resultado que o torcedor e o comentarista rebatem com dificuldade. Por quê? Porque está claro que a comissão técnica se desdobrou por várias partidas em todo o mundo, em busca dos melhores — até mesmo entre aquelas ligas que a TV a cabo não transmite. O trabalho foi feito de forma ampla e dedicada. Tite estava em estádios aqui e ali. Viu clássicos em Porto Alegre e viu em Manchester. Quem articula um argumento contra Fred e Taison admite, com candura, que não os viu jogar pelo Shakhtar Donetsk.

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A comissão técnica foi transparente em seus esforços, os critérios foram explicados, os nomes, reiterados. Não gosta de Renato Augusto? É possível, mas ele sempre esteve lá, e o time funcionava. Nada foi tirado da cartola. A lista com os 13 nomes suplentes é mera formalidade. A presença do zagueiro Dedé é mais uma homenagem que uma possibilidade — Jemerson tem mais chances, caso alguém seja cortado.

Mas talvez o maior trunfo de Tite seja a prova de que não menosprezou o campeonato nacional, um pecado frequente que o torcedor não deixa passar. Considere os nomes de Diego do Flamengo, Diego Souza (quando ainda era do Sport!), Rodrigo Caio, Luan, Arthur e Lucas Lima: ao estender a mão ao Brasileirão, Tite sensibilizou o torcedor, falou à paixão de clube e salientou valores do combalido território nacional. Por cortejar a paixão do torcedor, credenciou-se a fazer suas próprias escolhas na hora final. Os que não aproveitaram as chances sabem por que ficarão, e os torcedores, satisfeitos, não discutem mais.

É por isso que o debate fica diluído, restrito às preferencinhas, à discussão de terceiro goleiro, a quem será titular no lugar de Daniel Alves. O trabalho magistral de Tite com a opinião pública o permite chegar a Sochi com serenidade. Agora é saber aproveitar.

*Márvio dos Anjos é editor de Esportes do GLOBO