A antologia "Dramaturgia Negra", recém-lançada pela Funarte, oferece um panorama inédito da produção contemporânea de autores negros no teatro brasileiro. Organizada por Eugênio Lima e Julio Ludemir, a obra expõe o novo estágio da representação afrodescendente, ao enfeixar textos encenados e nomes premiados, trazendo dramas míticos e intimistas, não apenas militantes.
Para o leitor, há informações biográficas dos autores e dados da estreia de cada peça. Pesquisador e curador dos 16 textos selecionados, Lima enfatiza que o mapeamento contempla dramaturgos das cinco regiões, com diversidade de gêneros e gerações.
Os organizadores decidiram restringir a coletânea aos criadores que estão vivos —elenco que inclui tanto veteranos, como a carioca Leda Maria Martins ("Récita nº 3 - Figurações"), quanto jovens, caso do paulista Jhonny Salaberg ("Buraquinhos").
O volume é dedicado a Abdias do Nascimento, fundador do TEN (Teatro Experimental do Negro), em 1944, e organizador do pioneiro "Dramas para Negros e Prólogo para Brancos", de 1961. "Foi a primeira antologia dedicada à dramaturgia cujo assunto era a presença negra no campo do teatro. Um ineditismo absurdo. Mas nem todos os autores do livro eram negros", ressalva Eugênio Lima.
Um dos selecionados da nova antologia, o baiano Aldri Anunciação afirma que a coletânea opõe-se à invisibilidade. "A temática é mais expandida. Desloca uma dramaturgia negra sempre voltada a questões étnicas ou sociais relacionadas à negritude", avalia.
Também organizador do livro e um dos criadores da Flup (Festa Literária das Periferias), Julio Ludemir vincula o crescimento do número de autores negros no teatro às cotas nas universidades.
"Não existe nada mais importante no Brasil neste século do que a política de cotas. Ela impacta todos os mercados que antes eram monopólio de uma classe média branca, em particular masculina", afirma Ludemir. A formação de plateias negras também pressionaria por mais espaço a esses criadores. "Não é mais produção de gueto."
Uma dessas novas vozes é a da diretora, atriz e dramaturga Grace Passô, em "Vaga Carne". "Sei também que vocês têm dificuldades de entender o que não é vocês mesmos, mas vou tentar explicar: sou uma voz, apenas isso."
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.