Por G1 — Brasília


Aparelhos celulares usados por Jair Bolsonaro foram alvos de grupo de hackers

Aparelhos celulares usados por Jair Bolsonaro foram alvos de grupo de hackers

A Polícia Federal (PF) informou ao Ministério da Justiça e Segurança Pública que celulares utilizados pelo presidente Jair Bolsonaro também foram alvos de ataque do grupo de hackers preso em operação da PF na última terça-feira (23).

A Operação Spoofing, autorizada pelo juiz Vallisney de Oliveira, da 10ª Vara da Justiça Federal, em Brasília, investiga invasão do celular do ministro Sérgio Moro, de um desembargador, um juiz federal e dois delegados da Polícia Federal. A operação foi deflagrada nas cidades de São Paulo, Araraquara e Ribeirão Preto.

Por meio de nota, o Ministério da Justiça e Segurança Pública informou que Bolsonaro foi "devidamente comunicado" sobre o fato por uma "questão de segurança nacional". A nota não informa se os hackers conseguiram obter alguma informação dos aparelhos usados pelo presidente.

"O Ministério da Justiça e Segurança Pública foi, por questão de segurança nacional, informado pela Polícia Federal de que aparelhos celulares utilizados pelo Sr. Presidente da República foram alvos de ataques pelo grupo de hackers preso na última terça feira. Por questão de segurança nacional, o fato foi devidamente comunicado ao Sr. Presidente da República."

O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República informou, por meio de nota (veja íntegra no final da reportagem), que disponibiliza ao governo federal, por intermédio da Agência Brasileira de Inteligência, um Terminal de Comunicação Seguro (TCS), com tecnologia da própria agência, "cabendo às autoridades optar pelo equipamento e operá-lo conforme suas necessidades funcionais".

De acordo com o GSI, "detalhes e desdobramentos sobre o assunto serão apurados por inquérito instaurado pela Polícia Federal".

Bolsonaro

Durante evento em Manaus nesta quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que eventuais ações de hackers em seu aparelho celular "não vão encontrar nada que comprometa".

"Eu achar que meu telefone não estava sendo monitorado por alguém seria muita infantilidade. Não apenas por eu ser capitão do Exército, conhecedor da questão da inteligência. Sempre tomei cuidado nas informações estratégicas, essas não são passadas via telefone. Então, não estou nenhum um pouco preocupado se porventura algo vazar aqui no meu telefone. Não vão encontrar nada que comprometa. [...]. Perderam tempo comigo", declarou.

Bolsonaro explicou que discute apenas pessoalmente, no gabinete, questões tratadas com outros chefes de estado, como "no tocante à Venezuela" e "questões estratégicas para o Brasil".

Em junho, quando o site The Intercept começou a publicar conversas atribuídas ao ministro Sérgio Moro pelo aplicativo de mensagens Telegram, Bolsonaro disse não seguir recomendação do GSI de utilizar um celular protegido com um programa de criptografia para se comunicar. Ele afirmou, naquela ocasião, não ter "nada a esconder".

Onyx

O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, também comentou em entrevista, em Brasília, a informação sobre o ataque de hackers aos celulares do presidente. Onyx disse acreditar que o episódio será "controlado", já que PF e Abin atuam no caso.

Segundo Onyx, a comunicação entre Bolsonaro e ministros não passou, ainda, por mudanças de protocolo. O WhatsApp, por exemplo, é usado pelo primeiro escalão do governo. "Não tem nenhuma medida até o presente momento de alteração na rotina", disse Onyx.

O chefe da Casa Civil declarou, ainda, que o tema poderá ser tratado na próxima reunião ministerial, marcada para terça-feira (30).

Operação Spoofing

Na operação de terça-feira, a Polícia Federal prendeu quatro pessoas suspeitas de invadir celulares de autoridades, entre as quais, o ministro da Justiça, Sérgio Moro. Foram presos:

  • Gustavo Henrique Elias Santos: era DJ e já foi preso por receptação e falsificação de documentos; foi detido pela PF em São Paulo
  • Suelen Priscila de Oliveira: mulher de Gustavo, não tinha passagem pela polícia; foi presa junto com o marido em São Paulo
  • Walter Delgatti Neto: conhecido como Vermelho, já foi preso por falsidade ideológica e por tráfico de drogas; foi preso em Ribeirão Preto pela PF
  • Danilo Cristiano Marques: foi preso em Araraquara e já teve condenação por roubo

A PF estima que cerca de 1 mil pessoas foram alvo dos supostos hackers (veja no vídeo abaixo). De acordo com a polícia, foi encontrado com um dos detidos uma conta do ministro da Economia, Paulo Guedes, no aplicativo de mensagens Telegram.

Os suspeitos prestaram depoimento à Polícia Federal e estão presos em Brasília. O advogado Ariovaldo Moreira, que representa o DJ Gustavo Henrique Elias Santos, disse que o cliente relatou à PF que o Vermelho desejava vender ao PT as mensagens que obteve de autoridades.

Após a divulgação das declarações do advogado, o PT emitiu nota na qual afirma que o inquérito que apura a atuação de supostos hackers para invadir o celular do ministro Sérgio Moro (Justiça) se tornou uma "armação" contra o partido.

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Movimentações suspeitas

Na decisão que autorizou as prisões dos suspeitos, o juiz Vallisney de Oliveira, da 10ª Vara da Justiça Federal, em Brasília, apontou "fortes indícios" de que os quatro detidos se uniram para violar sigilo telefônico de autoridades.

O magistrado ainda identificou, na decisão, a existência de movimentações "suspeitas" nas contas de dois dos quatro investigados.

Segundo a decisão, o relatório da PF sobre as investigações demonstra que dois investigados movimentaram, juntos, mais de R$ 627 mil entre março e junho.

De acordo com a PF, o cadastro bancário de um dos investigados mostra que a renda mensal dele era de R$ 2,8 mil. Do outro, segundo a PF, era de R$ 2,1 mil.

Investigações apontam possível compra de armas por hackers

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Dólares e euros

A Polícia Federal informou à Justiça Federal que dois dos quatro suspeitos de invadir celulares do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e de outras autoridades adquiriram cerca de R$ 90 mil em dólares e euros em 2016.

De acordo com a PF, Walter Delgatti Neto e Danilo Cristiano Marques teriam comentado que usariam o montante para comprar armas. A informação está no pedido da PF para deflagrar buscas e prisões na operação da última terça-feira.

No documento, a PF afirma ainda que “o RIF/COAF [relatório financeiro do Conselho de Controle de Atividades Financeiras] relata que Walter Delgatti e Danilo Cristiano Marques teriam comentado que usariam o dinheiro para comprar armas".

Não há mais detalhes nos documentos sobre como os investigadores chegaram a essa informação.

De acordo com a PF, foram utilizadas informações sobre titulares das contas e montantes globais e, por isso, as investigações não estavam alcançadas pela decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, que suspendeu investigações nas quais dados financeiros e fiscais detalhados tenham sido compartilhados por órgãos de inteligência sem autorização judicial.

Segundo o documento, "foram verificadas diversas operações financeiras suspeitas, ocorridas entre 01/12/2016 e 05/12/2016, efetivadas por Walter Delgatti Neto e Danilo Cristiano Marques, dentre outras pessoas, relacionadas a compra de dólares americanos e euros em lojas de cambio situadas em aeroportos".

De acordo com o relatório financeiro, os dois adquiriram o montante, de R$ 90.712, nos aeroportos internacionais de Natal e do Rio de Janeiro.

Nota do GSI

Presidência da República Gabinete de Segurança Institucional

Nota à Imprensa

Em relação à Nota publicada hoje (25 Jul 19) pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, informando que aparelhos celulares utilizados pelo Presidente da República foram alvos de ataque de hackers, informamos o seguinte:

1. O GSI ratifica que disponibiliza ao governo federal, por intermédio da Agência Brasileira de Inteligência, um Terminal de Comunicação Seguro (TCS), com tecnologia da própria Agência, cabendo às autoridades optar pelo equipamento e operá-lo conforme suas necessidades funcionais.

2. O TCS é móvel, possui funções de chamada de voz e troca de mensagens e arquivos, criptografados com algoritmos de Estado. Não permite a instalação de aplicativos comerciais e pode realizar ligações em claro (sem criptografia). As suas regras de utilização constam na Portaria no 85, do GSI, de 26 de junho de 2017.

3. Preventivamente, considerando a complexidade do tema, nos cenários nacional e internacional, o GSI publica recomendações e alertas de segurança à Administração Pública Federal, disponíveis no endereço eletrônico www.ctir.gov.br, além de normatizações sobre Segurança da Informação e Comunicações (http://dsic.planalto.gov.br/).

4. Por fim, ressaltamos que detalhes e desdobramentos sobre o assunto serão apurados por Inquérito instaurado pela Polícia Federal.

Atenciosamente,

Assessoria de Comunicação Social do GSI Brasília, DF, 25 de Julho de 2019.

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