Até os 12 anos, a italiana Nathalie Moellhausen passou todos os natais no Brasil, com a avó materna, Marcela. Morou em seu país até os 20 anos, e há 10 vive na França. Naturalizada brasileira, a esgrimista de 30 anos luta desde criança, e agora realiza o sonho de lutar com o uniforme verde e amarelo neste sábado. Dia 11, ela luta por equipes.
A soma de todas as suas experiências não chega perto da emoção que está vivendo na Vila Olímpica na contagem regressiva para entrar na pista. Para conter a ansiedade, repete o ritual que lhe dá concentração e ânimo: medita pela manhã e antes de dormir agradece às boas experiências do dia.
- Treinei minha cabeça durante dois anos todos os dias porque acredito que o processo de visualização de uma situação deve ser trabalhada interiormente várias vezes. Quanto mais você conhece seus medos, mais fácil irá vencê-los. Faço terapia, meditação, trabalho a respiração e treino a minha mente para situações adversas -, conta.
Nathalie tem uma medalha de ouro por equipes (2009) e duas de bronze, individual (2010) e por equipes (2011) em mundiais, e disputou a Olimpíada de Londres, em 2012. Depois deu um tempo no esporte para se dedicar à carreira de diretora de arte, quando aceitou o convite da Confederação Internacional de Esgrima para fazer uma série de exposições mostrando a história da modalidade através da dança, música e teatro.
Decidiu voltar a lutar para realizar o sonho de defender as cores do país de sua infância e entrou em acordo com a Confederação Brasileira de Esgrima para seguir treinando em Paris. Assim, poderia manter o nível internacional de sua competição, a carreira eventual de modelo e ainda investir na sua marca de moda: criou uma pulseira verde de camurça especialmente para usar nos Jogos do Rio.
- Estou realizando um sonho aqui no Rio. É uma história de amor que existe há anos, e esse o momento de fazer algo pelo Brasil. Nossa equipe é muito bem preparada tecnicamente e o que vai fazer a diferença é a minha tranquilidade, porque o esgrima é 80 por cento cabeça. Não sei se vou conquistar medalha, mas ganharei sensações e ensinamentos que valem ouro.
Como boa italiana, Nathalie é católica praticante, mas se inspira em rituais budistas para aprimorar a sua força interior, durante seu processo de meditação. Acorda bem cedo todos os dias, reza, e após a meditação escreve em seu diário. E termina o dia anotando as experiências boas e ruins do dia.
- Acredito que é muito importante termos uma atitude positiva diante da vida. Isso nos traz boas energias.
Assim que acabar a Olimpíada, a esgrimista pretende visitar a família materna em São Paulo e voltar a Paris para finalmente começar os preparativos para seu casamento com um empresário italiano, provavelmente no fim do ano, em algum lugar entre o México, onde vive seu pai, ou Itália. A mulher cosmopolita, que fala várias línguas e viajou o mundo todo, quer finalmente baixar um pouco a guarda.
- A esgrima me preparou para a vida, me ensinou uma ética linda. Me sinto pronta para começar minha família, mas quero continuar ajudando a propagar a história da esgrima para o mundo. O esporte precisa de novos adeptos -, conclui.