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Governo Bolsonaro

Secom veta propaganda de pacote de Moro para não confrontar bandeiras do governo Bolsonaro

Dirceu Moreira Brandão Filho tem bala alojada no corpo há 27 anos; seu algoz não foi punido

A Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) decidiu vetar a gravação de uma propaganda que seria produzida para defender o pacote anticrime do ministro Sergio Moro. O motivo do veto, segundo a coluna apurou, é que a história de violência que seria mostrada na peça publicitária contraria as bandeiras da “bala, bíblia e boi” defendidas pelo governo de Jair Bolsonaro.

A censura desagradou Moro, que aposta na campanha para ganhar o apoio da população na defesa de sua proposta, que tramita no Congresso. O personagem que tinha aceitado contar sua história na TV, mas depois teve a gravação cancelada por decisão da Secom, é Dirceu Moreira Brandão Filho, 53 anos, que mora em Passos, no sul de Minas.

A coluna apurou que o ministério da Justiça foi comunicado pelo chefe da Secom, Fabio Wajngarten, sobre o desgaste que a gravação com Dirceu poderia causar ao governo e à pasta. O argumento é que o autor do crime é um fazendeiro e a história narrada, apesar de se tratar de uma tentativa de homicídio, iria contra bandeiras defendidas pelo governo Bolsonaro como flexibilizar uso de armas no campo.

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Em 1991, durante uma exposição agropecuária na sua cidade, Brandão Filho foi alvo de cinco tiros. Dois o acertaram, um na boca e outro na nuca. O autor dos disparos foi o fazendeiro Omar Coelho Vítor. A justificativa é que sua mulher teria sido “cantada” por Brandão Filho, que, na época, tinha 25 anos. Ele ficou cinco dias em coma e até hoje tem uma bala no corpo.

Esse caso foi o pivô da primeira decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o cumprimento de pena após uma condenação em segundo instância, em 2009. Na ocasião, a corte decidiu que o réu deveria ficar em liberdade até o processo transitar em julgado. Em 2016, porém, o Supremo reviu esse entendimento e a maioria dos ministros votou a favor do cumprimento da pena após condenação em segunda instância, regra que vigora hoje.

A ideia da produtora e do Ministério da Justiça era usar o caso de Brandão Filho para defender um dos principais pontos do pacote anticrime do ministro, que propõe transformar o entendimento atual do STF em lei.

Depois de procurado pela produtora que realiza a campanha publicitária, Brandão Filho aceitou contar sua história. Com o veto, porém, a propaganda não será  mais gravada. A Secom não quis comentar o assunto.

A coluna entrevistou o personagem, que confirmou ter aceitado o convite.

Como foi feito o convite para a propaganda? 

— Pediram para eu ir a São Paulo [gravar]. Eu estava muito ocupado e falei, “ah, acho custoso para mim”. Aí ele [o produtor] falou: “Então nós vamos aí”. Mas não sei por que, acho que não deu certo. Não vieram.

A produtora chegou a marcar a gravação?

— É, mas eles tinham que vir aqui. Daí, ele falou que dava certo. Ficou marcado para uma segunda-feira. Mas ele ligou no domingo, falando que não tinha dado certo.

O produtor falou por que não deu certo?

— Ah, não sei se foi patrocínio, não lembro. Ele falou que entraria em contato outra vez. Isso deve fazer uns 20 dias.

O senhor gostaria de fazer uma propaganda contando a sua história?

— Ah, eu acho, se puder ajudar em alguma coisa. Porque esse país é muita impunidade, tá custoso.

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