Brasil

'Transferir responsabilidade não vai resolver queimadas', diz governador do Amapá

Declaração é resposta a ataque feito por Bolsonaro a governadores da região Norte
O governador do Amapá, Waldez Goes Foto: Divulgação
O governador do Amapá, Waldez Goes Foto: Divulgação

BRASÍLIA – Horas depois de o presidente Jair Bolsonaro (PSL) acusar os governadores da região Norte de serem responsáveis pelo aumento no número de queimadas registrados no Brasil, o governador do Amapá, Waldez Goes (PDT), rebateu as declarações. Para ele, Bolsonaro está tentando “transferir responsabilidades” e que essa postura não vai resolver o problema.

- Transferir responsabilidades não vai acabar com as queimadas. Os governadores da região não concordam com isso – disse o governador que é presidente do recém-criado consórcio de nove Estados da Amazônia Legal que, além do Amapá, inclui Amazonas, Pará, Rondônia, Acre, Mato Grosso, Tocantins, Roraima e Acre.

ANÁLISE: Fim do Fundo Amazônia pode acelerar desmatamento

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que houve um aumento de 82% no número de queimadas no Brasil entre janeiro e agosto de 2018 e janeiro e agosto de 2019. Cidades da região amazônica como Porto Velho (RO), Rio Branco (AC) e até mesmo cidades do Sudeste como São Paulo estão sendo atingidas pela fumaça dos incêndios.

Na manhã desta quarta-feira, Bolsonaro jogou parte da responsabilidade pelo aumento nas queimadas sobre os governadores da região Norte.

- Olha só, tem governador, não quero citar nome, que está conivente com o que está acontecendo e bota a culpa no governo federal. Tem estados aí, que não quero citar, na região Norte, que o governador não está movendo uma palha para ajudar a combater incêndio. Está gostando disso daí – disse Bolsonaro sem mencionar nenhum dos governadores da região.

'Confronto não dá resultado'

Ao O GLOBO, Waldez Goés rebateu as insinuações feitas por Bolsonaro.

- Sou testemunha, como governador e presidente do consórcio dos estados da Amazônia, do esforço que estados como o Pará e Amazonas vêm fazendo para combater os incêndios na região – afirmou Goés.

Para o governador, a postura de Bolsonaro não ajuda a resolver o problema das queimadas e do desmatamento na região amazônica, que também está crescendo.

- Na minha opinião, adotar uma postura de confronto não vai dar resultado. Enquanto o presidente tenta transferir responsabilidades, a gente perde um, dois dias discutindo o assunto em vez de tentar encontrar uma solução – diz o governador.

Apesar da fala de Goés, o conjunto dos governadores da região é heterogêneo e composto, inclusive, por políticos que apoiaram Bolsonaro. É o caso do governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), que em nota divulgada hoje sobre as declarações do presidente, evitou entrar em confronto com Bolsonaro.

O mesmo aconteceu com o governador de Rondônia, Coronel Marcos Rocha (PSL), que, em nota, se limitou a anunciar que criou uma blitz para combater focos de incêndio no estado.

Na tarde desta quarta-feira, o ministro de Meio Ambiente, Ricardo Salles, vai se encontrar com o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM), para acompanhar ações de combate às queimadas na região.

Oficialmente, o posicionamento do MMA é o de que todo o efetivo de brigadistas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Preservação da Biodiversidade (ICMBio) está atuando no combate aos incêndios.