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'Se não posso trocar o superintendente, vou trocar o diretor-geral', afirma Bolsonaro sobre PF

Presidente disse que seria sua decisão, e não de Moro, retirar Maurício Valeixo do cargo
O presidente Jair Bolsonaro durante conferência em Brasília Foto: ADRIANO MACHADO 21-08-2019 / REUTERS
O presidente Jair Bolsonaro durante conferência em Brasília Foto: ADRIANO MACHADO 21-08-2019 / REUTERS

BRASÍLIA — O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira que pode substituir o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Maurício Valeixo, mas ressaltou que não pensa em fazer isso no momento. Bolsonaro reclamou da repercussão da troca do superintendente da PF do Rio de Janeiro, anunciada por ele durante uma entrevista coletiva. O presidente ressaltou que é o responsável por indicar o ocupante do cargo, e não o ministro da Justiça, Sergio Moro , a quem a PF está vinculada.

— Agora há uma onda terrível sobre superintendência. Onze foram trocados e ninguém falou nada. Sugiro o cara de um Estado para ir para lá, “está interferindo”. Espera aí. Se eu não posso trocar o superintendente, eu vou trocar o diretor-geral. Aí é... Não se discute isso aí — disse Bolsonaro, no Palácio da Alvorada.

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No entorno de Valeixo, a declaração de Bolsonaro foi vista como uma tentativa de diminuir o poder de Moro, responsável por escolher o diretor-geral para o cargo, informou o colunista do GLOBO Lauro Jardim. Com a interferência na PF, o presidente quebrou o compromisso, assumido em novembro de 2018, de "liberdade total" ao então futuro ministro na Justiça .

Na semana passada, Valeixo quase pediu demissão diante da interferência de Bolsonaro na troca de superintendentes da PF. A queda-de-braço pública pelo comando da PF no Rio começou na última quinta-feira. Um delegado que acompanha o caso de perto disse ao GLOBO que o presidente pressionou a direção da PF a substituir imediatamente o delegado Ricardo Saadi, da Superintendência do Rio, por estar descontente com uma investigação.

Sem ser perguntado, Bolsonaro afirmou na ocasião que Saadi deixaria o cargo no Rio por motivo de "gestão" e "produtividade". Era a primeira vez que um presidente da República anunciava o afastamento de um superintendente, assunto historicamente restrito ao diretor-geral da PF. Horas depois, em claro endosso de Moro à posição do órgão policial, o Ministério da Justiça divulgou nota de que Saadi seria substituído por vontade própria.

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A PF anunciou que Saadi seria substituído por Carlos Henrique Oliveira Sousa, da Superintendência de Pernambuco, um delegado respeitado dentro da PF. Mas o presidente disse que o cargo caberia a Alexandre Silva Saraiva, superintendente no Amazonas. A partir daí, delegados da cúpula da PF reagiram com vigor. Valeixo fez chegar a Moro a informação de que, se não pode indicar superintendentes, não teria condições de permanecer no cargo. Quando percebeu o tamanho do problema, Bolsonaro recuou.

'Se eu trocar, qual o problema?'

Nesta quinta-feira, Bolsonaro questionou várias vezes qual seria o problema se substituísse Valeixo:

— Se eu trocar hoje, qual o problema? Se eu trocar hoje, qual o problema? Está na lei. Eu que indico, e não o Sergio Moro. E ponto final. Qual o problema se eu trocar hoje ele? Me responda.

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O presidente disse, contudo, que não pretende fazer nenhuma troca no governo no momento:

— Se eu for trocar diretor-geral, ministro, o que for, a gente faz na hora certa. Não pretendo trocar ninguém, por enquanto está tudo bem no governo. Agora, quando há uma coisa errada, chamo, converso e tento botar na linha — afirmou, acrescentando depois: — Hoje eu não sei. Tudo pode acontecer na política.

Bolsonaro afirmou que a PF "orgulha a todos nós", mas disse que o órgão não é "independente":

— É decisão minha, a hora que eu achar correto. Se é para não ter interferência, o diretor anterior, que é o que estava lá com o Temer, tinha que ser mantido. Ou a PF agora é algo independente? A PF orgulha a todos nós, e a renovação é salutar, é saudável — disse.