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Chapa de Cristina Kirchner ganha com folga prévia da eleição presidencial na Argentina

Candidatura encabeçada por Alberto Fernández, com a ex-presidente de vice, vence de lavada a do atual presidente Macri nas primárias, em resultado que, se repetido, pode definir no primeiro turno pleito de outubro

A ex-presidente argentina Cristina Kirchner vota nas primárias deste domingo em seu reduto eleitoral na província de Santa Cruz: boas chances de voltar ao poder
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WALTER DIAZ/Telam/AFP
A ex-presidente argentina Cristina Kirchner vota nas primárias deste domingo em seu reduto eleitoral na província de Santa Cruz: boas chances de voltar ao poder Foto: WALTER DIAZ/Telam/AFP

BUENOS AIRES — A chapa formada por Alberto Fernández e a ex-presidente e senadora argentina Cristina Kirchner ganhou de lavada as Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (Paso) realizadas na Argentina deste domingo, desbancando o presidente Mauricio Macri, que tenta a reeleição.

De acordo com o serviço eleitoral do Ministério do Interior da Argentina, às 14h24 (horário de Brasília) desta segunda-feira, com 99,37% das urnas apuradas, a Frente de Todos, de Fernández e Cristina, tinha 47,66% dos votos, contra 32,08% da chapa Juntos pela Mudança do atual mandatário, num resultado que, caso se repita nas eleições de 27 de outubro, significará a vitória ainda no primeiro turno do kirchnerismo.

Para vencer a eleição presidencial no primeiro turno, um candidato argentino precisa de 45% dos votos, ou 40% e ter ao menos dez pontos percentuais de vantagem sobre o segundo colocado.

Apontadas como prévia da eleição presidencial, as Paso servem como uma prova de fogo das campanhas até agora, e seus resultados podem ser vistos como uma indicação de que a aposta de Macri no medo da volta de Cristina talvez não seja suficiente para evitar que isso aconteça. De acordo com as autoridades argentinas, cerca de 75% dos 34 milhões de eleitores do país foram às urnas ontem, participação considerada de “alto nível” para as Paso pelo ministro do Interior, Rogelio Frigerio.

— Hoje foi como uma prova de classificação, e estamos em posição folgada para sermos os primeiros — comemorou Fernández enquanto ainda aguardava o início da divulgação dos resultados oficiais no Centro Cultural C, no bairro de Chacarita, na capital Buenos Aires. — Hoje começamos a mudança na Argentina.

Pouco antes do anúncio dos primeiros números, Macri já admitia a derrota:

— Tivemos uma má eleição, o que nos obriga, a partir de amanhã (hoje), a redobrar nossos esforços.

Diferença difícil de tirar

A liderança da dupla Fernández e Cristina por quase 15 pontos percentuais sobre Macri indica que é bem possível que a chapa da ex-presidente acabe vencendo mesmo as eleições, avaliam analistas. Isso porque, diante do cenário polarizado da política argentina, o atual presidente teria pouca margem de manobra para reverter a situação.

— Seria muito difícil descontar uma diferença de mais de cinco pontos, pois devido à polarização há pouca margem de onde tirar votos — resumiu o analista político Raúl Aragón.

Para tanto, Macri, além de torcer por uma perda de votos da dupla Fernández e Cristina, teria que conquistar praticamente a totalidade dos votos dados às outras principais candidaturas à direita nas primárias de ontem, em especial os 8,22% conquistados pela chapa Consenso Federal, do o ex-ministro da Economia Roberto Lavagna e os 2,18% obtidos pela União pela Liberdade e Dignidade do também economista, e revelação política do ano, José Luis Espert.

Pressionados pela inflação, que chegou a 22% no primeiro semestre, uma das taxas mais elevadas do mundo, e uma pobreza que alcança 32% da população, os argentinos vão ter que escolher entre dois projetos antagônicos: o de Macri, que leva adiante um plano de ajuste respaldado pelo Fundo Monetário Internacional, e o de Fernández, a quem os mercados veem com desconfiança.

— Vamos eleger entre dois modelos que já conhecemos — comentou Aragón.

Josefina Sánchez, de 26 anos, foi uma das eleitoras que expressou seu apoio a Fernández e Cristina nas primárias de ontem.

— Voto por Fernández e (Cristina) Kirchner porque eles voltarão a criar trabalho e assegurar a educação pública. Macri é desemprego e ignorância — afirmou a funcionária de uma empresa metalúrgica.

A Bolsa de Buenos Aires, por sua vez, deu sinal da preferência do mercado na sexta-feira, quando fechou em alta de 8% diante do otimismo dos analistas com melhores projeções de votação para Macri.

— Essa eleição define os próximos 30 anos da Argentina — alertou Macri ao votar em uma escola de Buenos Aires ao lado da esposa, Juliana Awada. — Os mercados obviamente esperam que os argentinos sigam no mesmo caminho.

Já Cristina votou em Río Gallegos, na província patagônica de Santa Cruz, feudo político histórico da ex-presidente e seu marido, o falecido mandatário Néstor Kirchner (1950-2010).